Maracanã

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quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Despedida (poema de Cida Torneros)

Despedida











Dos sentimentos que não sinto mais...


sobrou aquele resto de segredo...


já não é mais mistério imaginar-te aqui..


no meio das minhas coxas...


porque estás agora no meio das minhas dores...


paradoxalmente...


dos desejos que não desejo mais...


e... sobra um olhar perdido no horizonte...


vou ver se o mar traz o teu vulto obscuro,


se me devolve alguma réstia de luz do sol


entre a penumbra que me inunda a alma


há um misto de adeus aparvalhado, abobado,


que deixa minhas mãos abanando no vazio,


como se vagassem dançando no universo sem fim,


minhas mãos flutuam como gaivotas sem rumo


enquanto meus sentidos perdem o sentido,


isso deve ser um pesadelo, imagino, um fumo,


um delírio mau, talvez o resultado da ressaca


da embriaguez que foi meu encontro contigo


neste mundo tão confuso, nesta vida tão indecifrável,


neste espaço tão impalpável, neste descompromisso...


Dos sentimentos que não sinto mais...


ficou um amargo na boca do estômago,


um ardor doído no peito abafado,


ficou um calor que me queimou a pele,


machucando a derme, abriu-se uma ferida,


que , para cicatrizar, levará tempo sem correria,


a solidão tão fria, desde a alma vazia,


desde a despedida, voltando a fita, até o primeiro dia...


Aí, nesse ponto do filme, troco a cena...


para que revejas cada quadro da nossa história


como se fosse a produção de um longa de sucesso


a vender ilusões ao público externo, uma balela...


Dos sentimentos que não sinto mais...


preciso descobrir o lugar onde os perdi,


para nunca tornar a reencontrá-los...


















24/10/2006

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