Maracanã

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domingo, 30 de novembro de 2008

Quem não traz seus Natais dentro do peito ?




Quando o Natal chega, todos os anos, não há como evitar, ela lembra de muitos Natais da sua vida. Recorda-se do carrinho azul que viu seu irmão brincar há mais de oito décadas, em manhã de um dezembro distante no tempo, mas tão presente na memória e aí, ela sorri.

Naquele tempo, eles moravam numa casa grande, com quintal arborizado, no subúrbio que marcou sua infância feliz. Como eram bons aqueles Natais, de folguedos e birnquedos, família e vizinhos, amigos e simpatícos agregados, trocando abraços, sorrisos e pratos saborosos.

Saudade das rabanadas da portuguesa Filomena, dos bolinhos de bacalhau feitos carinhosamente pela vó Luzia, e como era delicioso o frango com lentilhas que a mãe Maria preparava. Vinham em ondas aquelas imagens de pessoas e lugares, evoluindo para a sua adolescência, seus primeiros amores e finalmente, abrindo o baú, nas tardes lentas da velhice, pegava as fotos amareladas do seu casamento com Joaquim e dos seus filhos meninos, Luizinho e Bentinho.

Agora, morando num asilo para velhice, Anita se desmancha em sentimentos de saudade, justamente nessa época natalina. Sabe que a sensibilidade lhe aflora ao peito, faz dela uma criatura mole que nem manteiga derretida, a pensar no tempo que correu célere e no quanto foi possível aproveitar a vida, lutar pela criação dos filhos, tê-los visto se formarem, ter segurado nos braços netos que também tinham crescido.

A doce Anita de oitenta e tantos anos, ali, naquela casa de repouso e senilidade, traz dentro de si, muitos Natais presos no peito, e, quando as atendentes chamam para a ceia da noite Santa, busca enfeitar-se com seu melhor vestido, o azul royal, de golinha rendada e branca, para juntar-se à sua nova família, senhoras e senhores que dividem com ela, seus momentos de lazer e de oração, refeições frugazes e a certeza do dever curmprido.

Conclama a todos que rezem agradecendo aquela comida especial e tão bem cuidada, sorri em reverência a cada amigo ou amiga que lhe cumprimenta. Repete um 'Feliz Natal' que imagina seja o mesmo que seus filhos e netos estejam desejando aos amigos e amigas neste momento em algum lugar, apesar de não receber há muito sua visita, mas lhe mandaram presentes, como chinelos, sabonetes e colônias. Um motorista veio trazer uns dias antes.

Explicou que todos tinham viagem marcada e que telefonariam, se pudessem, no dia de Natal, para ela.

Anita pensa que já tem um bisneto que nunca viu, ele deve ter uns cinco anos, ela reflete.

Tudo bem, Anita pensa: - Deixai-os viver Senhor Jesus, e protejei-os, meu Pai do Céu. Meus filhos ainda são meninos para mim, apesar de cinquentões. E meus netos, já na casa dos trinta, têm muitas responsabilidades, filhos e trabalho, tenho que entender sua falta de tempo e só quero que todos estejam felizes, nesta Noite, como eu estou, aqui, tão bem cuidada.

Repentinamente, como se fosse um Anjinho de Natal eis que surge no salão de refeições do asilo, um menino risonho, correndo, que dispara na direção da vovó Anita, para abraçá-la, o que faz com que todos interrompam o jantar e observem a cena

- Quem é você, lindo pequerrucho? Anita indaga, extendendo as mãos e acolhendo o infante arfante.

- Vc é minha vó Anita, eu vi no retrato que a meu vô Bento me mostrou. Eu pergunto a ele todo dia onde vc mora. E hoje, que é Natal, pedi a ele que queria ver a minha vó Anita... Tô aqui, na sua casa, né? vim passar o Natal com vc, né? vc quer esperar o Papai Noel comigo?

Anita ri... vê que agora entram no refeitório, seu filho Bento, a nora, os pais do guri risonho, seu neto e esposa, e os observa, com certa perplexidade, pois há muitos Natais que não os vê e pensava que estavam todos a viajar nos feriados de final de ano, conforme lhe dissera o potador dos presentinhos, dias antes.

Mas, Bento, com jeito de filho arrependido, vem dizer à mãe, emocionado, que o pequeno Joaquinzinho não aceitou viajar. Convenceu a todos a irem visitar a bisavó, que ele vivia beijando no retrato, chegou a ficar febril a repetir que só queria ver a vó Anita no Natal, e esperar, com ela, pela chegada do Papai Noel.

Anita foi aplaudida pelos companheiros e companheiras de asilo. Agradeceu a visita, abraçou o bisneto, o filho e toda a família, convidou-os a sentarem à mesa. Manteve o menino no colo, que a acariciava, enquanto se pergunta, internamente: - Quem não traz seus Natais dentro do peito?

Este Natal é mais um deles, que ela jamais esquecerá, e fará parte da lista de Natais do Quinzinho, daqui a algumas décadas, com certeza.

Aparecida Torneros

neste Natal, a quem interessar possa...


Neste Natal, a quem interessar possa... ( texto de 2005)

A coisa funciona quase sempre assim. A gente corre e trabalha o ano inteiro, planeja uma série de atitudes, estabelece metas, decide que é momento de algumas mudanças, vai vivendo, driblando os percalços nos meses que se sucedem como num torvelinho.

Aí, um dia, provavelmente numa manhã em que a luz adentra pela janela na casa que se faz fervente, a criatura acorda se sentindo " caminhando contra o vento, no sol de quase dezembro".

Bem, não há como voltar atrás, o que passou, se foi, e o tal dezembro chegou de novo, com sua climatização, seus calores, que no Brasil, fazem do Natal aquele período de verão quentíssimo, de ruas entupidas, de gente se trombando pelos shoppings, de aeroportos e rodoviárias adensados de reencontros, de estradas cheias de esperança por momentos felizes. Não importa o quanto a política e a economia tenham afetado nossas emoções ou os nossos bolsos, agora é Natal e vamos é comemorar. Tem o show especial do Roberto na televisão, tem a árvore de Natal da Lagoa Rodrigo de Freitas, dá para encarar uma ceia novamente na casa da mamãe, ou da vovó, ou da namorada recente, quem sabe aquele gato escaldado que tem medo de casamento chegue enfeitiçado de espírito natalino e finalmente faça o sonhado pedido para juntar os trapinhos?

Meu dezembro , como o de vocês, tem mesmo essa aura de necessidade de amar e ser amado. Fico precisando dar o abraço naquele amigo que não vejo há muito tempo, me cobro a visita ao asilo dos velhinhos que tanto adiei, sou tomada de uma impiedosa culpa cristã pelas promessas que não cumpri, e o que é pior, me permito comer as gulodices mais díspares, misturadas e sem a menor parcimônia, em nome da confraternização das boas festas.

Nas luzes que piscam pelas avenidas, tento vislumbrar os amores do passado que me deixaram ainda algum brilho na alma, no afã de perdoar qualquer resquício de mágoa das separações e das traições, herança acumulada ano após ano, no decurso de prazo, no acúmulo de experiências afetivas.

Percebo que há mais sorrisos sendo distribuídos pelas calçadas, enquanto as tulipas de chope gelado são viradas a cada segundo contra bocas sedentas de frescor. Também é possivel identificar que há na febre consumista em torno dessa data um frenesi tresloucado de superação personalista. Todos querem ser queridos, presenteados, paparicados, lembrados, abraçados, beijados, numa proporção potencialmente acima das possibilidades rotineiras.

Mas, neste Natal, a quem interessar possa, nada será tão importante, para mim, do que me recolher com meus pensamentos, na solidão do ato reflexivo, na sala vazia.

Devo pensar sobre o quanto há para fazer além do circuito do meu umbigo, o mesmo que me liga a um ego que tento domar, ao qual me sinto ainda muito presa, com a consciência crescente de que preciso insistir em projetos mais ligados ao meu próximo, ao Brasilzão que implora por nova ordem social, ao meio ambiente e à felicidade compartilhada com meus vizinhos.

Com certeza, desse jeito, terei um Feliz Natal.

Aparecida Torneros
Jornalista-RJ

Rosa Passos...só danço o samba




Dona de um swing extraordinário, a baiana Rosa Passos é considerada pelos aficionados como a versão feminina de João Gilberto. Como o cantor, Rosa possui uma voz cálida, doce, afinadíssima. Sua simpatia e criatividade converteram-na em uma das maiores estrelas da moderna MPB, com influências do jazz e do samba.
A fama de Rosa Passos cresceu a partir do CD Curare (1991), quando se aproxima definitivamente do repertório de bossa nova, gravando temas de Tom Jobim como "Dindi", "A felicidade" e "Só danço samba". Desde então vem realizando turnês pelos Estados Unidos, Europa e Japão com um extenso repertório de temas próprios e interpretações de clássicos como Gilberto Gil, Djavan, Dorival Caymmi, Ary Barroso, Edu Lobo, etc.
Em suas gravações e shows conta com a participação de músicos como Ivan Lins, Chico Buarque, Yo-Yo Ma e Ron Carter. Seu último CD, Amorosa (Sony Classical/2004, é uma homenagem a João Gilberto, com participações de Henri Salvador e Paquito D'Rivera.

la familia femenina de Carmen Torneros en Brasil


http://br.youtube.com/watch?v=xoesjQkk5a4

Roberto Carlos - Las muchachas de la Plaza España

Compositor: M. Ruccione - A. Marchionne

Es la vieja RomaEn primaveraUna enredaderaDe jazmín en florY en la Plaza EspañaLos amantesHablan anhelantesDe su tierno amorHasta las campanasDe la iglesiaCantan alegríasPara el corazónLas muchachas de la Plaza EspañaSon tan bonitasCon sus juegos, sus cantos alegresY sus sonrisasSus vestidos son una acuarelaDe mil coloresTan hermosasComo floresCuantos sueños hay en sus ojitosResplandecientesSon miradas más dulces y suavesQue um beso ardienteCon sus caras y su aire ingenuoDe virgencitasLas muchachas de la Plaza EspañaSon tan bonitasSus vestidos son una acuarelaDe mil coloresTan hermosasComo floresCuantos sueños hay en sus ojitosResplandecientesSon miradas más dulces y suavesQue um beso ardienteCon sus caras y su aire ingenuoDe virgencitasLas muchachas de la Plaza EspañaSon tan bonitasSon tan bonitasSon tan bonitas
www.letrasdemusicas.com.br

Palavras de Amor...



Palavras de Amor
Maria Aparecida Torneros da Silva

Românticos ainda podemos ser ainda que não pudéssemos, seríamos... Palavras nos tocam, nos põem a perder as almas adolescentes, os corações meninos... Releio teus versos e me arrepio mais até do que sentindo que iríamos nos rever um dia desses na velhice ou no cio... Entendo agora por quem dobram os sinos... São os toques do amor que nos ressoam vêm em ondas pelas frases, pelas poesias, nos acolhem na solidão, da distância e na saudade... Nossas almas, indefesas, perdidas, voam em direção absurdamente confusa na nossa idade, e buscam a luz que vem das vozes vazias de som, indelével e pálido que se ouve em hinos de louvor ao mundo vasto, ao mundo excuso, ao mundo tolo, ao mundo enorme, ao mundo que recuso aceitar porque me fez sentir tua pele e me tirou o toque me deixou o gozo e me roubou a paz, como um reboque, me plugou um plus que carrego, pesadamente, quando sinto o peso da saudade, de cada amenidade, de toda a afinidade que ainda cultivamos... Somos assim, incorrigíveis seres, amigos necessitados de consolos vários, abraços estranhos, bocas passageiras, que nos substituem... Somos mesmo assim: amigos interligados pela internet, pelo cosmus, pela admiraçao, pela frustração infinda pelo romântico desejo de nos encontrar alguma vez ainda...

Federico Garcia Lorca


O POETA PEDE AO SEU AMOR QUE LHE ESCREVA
Amor de minhas entranhas, morte viva, em vão espero tua palavra escrita e penso, com a flor que se murcha, que se vivo sem mim quero perder-te.
O ar é imortal. A pedra inerte nem conhece a sombra nem a evita. Coração interior não necessita o mel gelado que a lua verte.
Porém eu te sofri. Rasguei-me as veias, tigre e pomba, sobre tua cintura em duelo de kordiscos e açucenas.
Enche, pois, de palavras minha loucura ou deixa-me viver em minha serena noite da alma para sempre escura.
( tradução: William Agel de Melo )

codinome beija-flor


Nem bem te vi, me apaixonei...


Nem bem te vi, me apaixonei...


Nem bem te vi, me apaixonei... Eras mais do que um menino grande, eras como o pássaro aleatório, aquele que voa com o bico empinado buscando sorver do céu o azul e a luz, estavas emplumado, trazias no peito o ar de quem conquista, e não desistas de me seduzir, não custa tentar mais um pouco, sou meio sonâmbula, não me deixes ir, me prende, me toma, me organiza a espera, não me permitas dispersar... Nem bem te vi, ouvi teu canto... Por muito menos, me encanta, me repousa num ninho de aconhego, sente minha disponibilidade para o simples ato de amor à vida, o chamego, tardes esmaecidas em redes alienadas, deixa que o vento me sopre um segredo, nem ouses mentir para o teu coração, nem camufles o sentimento com o medo, fica assim, inteiro, esvoaçante, domina os telhados de barro, os de vidro, grita... Nem bem te vi, és meu apreço, minha mais recente desdita, és minha pressa de ser e ter em ti um lugar de plenitude, e nem mede cada minha atitude, porque, não há o que raciocinar, não vale, deixa-me sentir teu vôo sobre mim, deixa-me voar para teus braços, distribuir meus beijos, receber os teus, enfim... Nem bem te vi, meu sentido de viver definiu o rumo, a alma buscou o prumo, e naquela manhã de recomeço, uma esperança risonha transformou-me em sumo em suco, em líquida sensação de ouro derretido, jóia rara, tomando nova forma... Nem bem te vi, tornaste-me o teu complemento, sem argumento, sem norma... Quero aprender a voar contigo, e te persigo no ar, em rodopio, em gozo e cio... Sou a ave que te completa, voaremos agora em duo, sintonizados e sem frio... Um aquecerá as asas do outro, a cada volteio, e seremos, um bem-te-vi e um beija-flor a espalhar no mundo tanta alegria, tanta sonoridade e toda a harmonia do maior amor... Aparecida Torneros

Zíngara...Gitana...Gipsy...Cigana


Zingara

Na minha mão,lê o meu destino vê quanto desatino em viver no desalinho do desapego do teu coração...Na minha eternidade olha a perpetuação do sonhosubmundo do amor risonho idealizado desde a mocidade....Na minha linha da vidadescobre o intervalo propícioplenitude, felicidade merecida, momentos de encontro e doação, sinal de bom casamento, a princípio...Na minha linha do amor, um vício,põe olhos fortes, contemplação,vê se ali tu estás ainda, ciganinha,magia, reflete como espelho brilhante na minha palma, o desejo incessante...Tua face sai da minha energia, precipício, onde jogas a alma no vazio da dúvida,e no futuro insólito, visão quiromântica, transparece teu nome, por fim, fulgurante,entre os dedos, entre nós, o nosso início...Teus olhos buscam a a aventura romântica que nos unirá um dia, porque está escrito, consegues ler na minha pele e te reconheces...Mas, se nada disso podes ver, nada me reveles,deixa-me viver na esperança vã, crendo no mito, mente, engana, enfeitiça, ilude a este ser aflito,nem deixes que eu perceba a tua falsa predição, ainda que nunca tenhas tua alma presa à minha,a esperança do teu amor já terá valido à pena...

Aparecida Torneros

strani amore ( Laura Pausini)




Strani Amore
Mi dispiace devo andare viaMa sapevo che era una bugiaQuanto tempo perso dietro a luiChe promette e poi non cambia maiStrani amori mettono nei guaiMa, in realtà, siamo noiE lo aspetti ad un telefonoLitigando che sia liberocon il cuore nel lo stomacoUn gomitolo nell’angoloLì da solo, dentro un brividoMa perché lui non c’èE sono strani amori cheFanno crescere e sorridereFra le lacrimeQuante pagine lì da scrivereSogni e lividi da dividereSono amori che spesso a questa etàSi confondono dentro a quest’animaChe si interroga senza decidereSe è un amore che fa per noiE quante notti perse a piangereRileggendo quelle lettereChe non riesci più a buttare viaDal labirinto della nostalgiaGrandi amori che finisconoMa perché restano nel cuoreStrani amori che vanno e vengonoNei pensieri che lì nascondonoStorie vere che ci appartengonoMa si lasciano come noiStrani amori fragiliPrigionieri, liberiStrani amori mettono nei guaiMa, in realtà, siamo noiStrani amori fragiliPrigionieri, liberiStrani amori che non sanno vivereE si perdono dentro noiMi dispiace devo andare viaQuesta volta l’ho promesso a mePerché ho voglia di un amore veroSenza te

sábado, 29 de novembro de 2008

Te lo juro



Te lo juro


Te lo juro dulce amor mio cuando las noches se van y solamente tengo tus recuerdos en mi piel te lo juro que vivir es como morir los dos son la misma cosa... pues...como puedo vivir sin tenerte ahora? y, como es fácil morir sin tenerte tampoco acá en mis brazos... Te lo juro todavía, amor mío que es posible renacer en tu sonrisa cuando tú vuelvas por tu presencia en mi nueva vida por tu cariño en mi pecho por tu beso en mi boca es posible revivir del sueño que tu me dejaste aún... gracias por tu fuerza después de tanto tiempo los años se fueron, mis pelos están blancos, mi cuerpo cansado, mis ojos ya no pueden verte bien, pero siento que tú caminas a mi lado, como una sombra, eres mi espejo negro, un dibujo en el cielo de mi alma... tan lindo que me hace feliz muerta o viva... ya no me importa...

Cida Torneros

Amo você



Amo você
Maria Aparecida Torneros da Silva



amo
amo você
e como amo
de muitos jeitos
com muitos peitos
e muitos gemidos
tantos zumbidos
é quando chamo
sua presença
intensa
sua força
a energia
a mais valia
do seu calor
o beijo intenso
o abraço denso
o próprio amor
amo você
não tem porquê
só tem pra que
pra ser feliz
fazer feliz
enternecer
amanhacer
anoitecer
permanecer
em você...
se ouço seus ais
seus suspiros
espirros
pedidos
desejos
sintos seus beijos
recebo bem mais
do que ofereço
é o que penso
mas me esmero
preciso aumentar
minha doação
minha entrega
minha emoção
vou acrescentando
novas maneiras
de doar paixão
de falar ao coração
de alguém assim
como você...
alguém que veio
sugar no meu seio
o néctar sem fim
aquele gosto doce
do corpo oferecido
a paz do recomeço
o bem querer do apreço
do ser enaltecido
pelo carinho desmedido...
amo você
ambos repetimos
esse refrão bonito
amar é ser cupido
de si e do outro
é ser combalido
pelo aconchego
é ser engolido
pelo chamego
é ser compreendido
pelo sossego
de abandonar-se
no corpo inteiro
alma e coração
é saber sem entender
é sentir sem explicar
é cuidar sem abandonar
é estar por perto
é ficar no rastro
é permanecer...
é assim que amo
com presença imensa
maior que o mundo
bem mais profunda
que caverna mais funda
bem mais comprida
que a própria vida...
amo você
porque me vejo
no seu olhar bem forte
o que é uma sorte
ter sido escolhida
pelo destino
talvez pelo dedo divino
talvez pelo fogo sagrado
talvez pelo vento uivante
talvez pelo raio certeiro
talvez pelo golpe do tempo
talvez pela bruma do mar
talvez pelo canto da sereia
talvez pela busca incessante
ou talvez, sem mais talvez...
amo você
e não preciso justificar
nem explicar, nem compreender
só devo sentir,
sentir, sentir, sentir,
mil vezes repetir...
amo você...
Aparecida Torneros
16 de junho de 2008

Visite o site da Casa de Espanha RJ

http://www.casadeespanha.com.br/

Viva España!!! Muchas vezes!!!

























Que Viva España!!!!

http://br.youtube.com/watch?v=3mQ7pvTfWLs

Uma festa de brasileiras com sangue espanhol!






















Momento espanhol, na festa do meu filho Léo, 2007, dezembro




las españolitas desciendentes de Carmen en Brasil


Viva España!!!


La tierra de mi abuela Carmen Torneros!!!

Café Tortoni : 150 anos ( 27 de novembro)







O Café Tortoni, em Buenos Aires, acaba de completar 150 anos.


Símbolo da cidade portenha, visitado por milhares de turistas, conserva suas características de fiel pilar da cultura argentina, noites adentro, lugar onde boêmios, artistas, escritores, sempre se encontraram para discutir política, compor obras de arte, beber e brindar, comer e degustar, jogar um bilhar e assistir a um show típico de tango e milonga, sete dias na semana.


A primeira vez que o visitei, em janeiro de 1999, sua aura mágica me contaminou. Voltei mais duas vezes, em 2006 e 2007.


Não me canso de saborear seu clima, assim como sua comida e sua história. Viva o Tortoni! Salud!


Aparecida Torneros






sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Amalia cantando música italiana...


Canzone per te, con Sergio Endrigo


Sal Mineo... alguém lembra dele?







Salvatore Mineo Jr.
Bronx - Nova York - EUA
10-01-1939 - 13-02-1976


História

Sunset Strip, Hollywood, Los Angeles, 10 horas da noite, 13 de fevereiro de 1976. Num bucólico conjunto residencial ouve-se um pedido desesperado de socorro: “Por favor, me ajudem, Estou morrendo!” Um vizinho desce as escadas para acudi-lo. Tenta salva-lo aplicando-lhe respiração boca a boca. Em vão. O ator Sal Mineo, aos 37 anos, revelado para o mundo ao interpretar o personagem Platô em Juventude Transviada / Rebel Without a Cause, de Nicholas Ray, estava morto. Era o capítulo final de uma vida nada fácil.
Homossexual sempre em conflito com sua sexualidade, Sal Mineo viveu uma grande paixão (não correspondida) por James Dean (com que trabalhou em Juventude Transviada e Assim Caminha a Humanidade / Giant, de George Stevens. O ator nascido em 10/01/1939 jamis se recuperou do golpe de ser rejeitado e passou o resta da vida procurando rapazes loiros (parecidos com Dean) pelas ruas escuras de Los Angeles. Um deles o matou a sangue frio (segundo testemunhas, um homem alto e loiro foi visto fugindo da cena do crime).
Na época de sua morte, a carreira de Sal Mineo (que teve inesquecível atuação em Exodus / Exodus, de Otto Preminger) já estava em plena decadência. Limitava-se a fazer pequenas aparições em peças malsucedidas. Ao morrer, ensaiava o espetáculo Os. Your Cat Is Dead.
A infância de Sal Mineo não foi exatamente tranqüila. Filho de um casal de imigrantes sicilianos, passou os primeiros anos de sua vida no Bronx, bairro barra-pesada de Nova York. Tornou-se um garoto arredio, tímido em excesso e eventualmente violente. Levou essas marcas pessoais para os personagens que representou no cinema: adolescentes problemáticos, em conflitos com a família e a sociedade.
Viveu tantos personagens com essas características que se cansou deles: “Sempre apareci em meus filmes com uma arma na mão. Nunca me deram um papel de bonzinho. E às vezes eu queria ser igualzinho ao Pat Boone, o queridinho das meninas bobinhas!”. Nunca alcançou seu sonho. Fora dos ambientes de filmagem, era um homem absolutamente solitário.
Viveu assim até morrer (e quando isso ocorreu as meninas bobinhas do planeta não verteram nenhuma lágrima).

( texto tirado do seu site)

Papais Noéis....







Anjos, Duendes e o Elemental Papai Noel

Anjos, Duendes e o Elemental Papai Noel
Aparecida Torneros

Dois olhinhos azuis brilhavam na minha direção, naquela noite feliz.

Eu os observava sentindo um certo arrepio nas costas, delicioso frêmito que me reportava à infância perdida.

Esses olhos iluminavam minha esperança de sonhos sobre a humanidade, a justiça, a saúde dos povos, a erradicação das diferenças e a paz. De certo modo, eles me hipnotizavam.

A intensidade daquele olhar me tornava tão pequenina.

Imaginei que seu raio de ação era tão abrangente, capaz de alcançar o universo inteiro.

O tal Papai Noel me transformava, insistentemente, numa pequena criança, desejando apenas ser feliz. Tudo era pureza em minha alma, ao ser contemplada pela magia do Natal.

De repente, senti que Anjos dançavam à minha volta, e cantavam o coro da harmonia soprando em meus ouvidos as canções mais doces.

Não podia crer naquela situação em que me via voando sobre as cabeças das pessoas, incrivelmente.

Sim, fui alçada por um grupo de Duendes risonhos e elevada, flutuando passando a me sentir tão leve quanto uma pluma e tao etérea quanto uma nuvem.

Os olhinhos permaneciam dentro dos meus, direcionados.

De onde eu estivesse, nos volteios que fazia no ar, podia divisar o brilho celeste que Papai Noel me enviava, através do azul intenso do seu maravilhoso olhar.

Eu sorria e chorava ao mesmo tempo.

Então era isso que o Espírito de Natal podia fazer conosco?

Os seres humanos podiam voar e mudar de dimensão quando fossem tocados pelos Duendes, Anjos e pelo doce aconchego do bom Velhinho.

Observei lá em baixo, ficando cada vez mais distante, as pessoas da Terra.

Tive tanta pena delas. Senti que podiam ser mais felizes se eliminassem definitivamente tanto sentimento pequeno de competição e tanta inveja.

Também, refleti, para que tanta ambição entre os povos, e quanta injustiça entre os homens. Vi, me comovi, chorei copiosamente, ao lamentar as guerras, as calamidades, as epidemias, a pobreza e a fome.

Mas, Papai Noel me chamou de volta, com sua atenção especial. Ele me ensinou, naquela noite, que tudo pode ser melhor, que deve se renovar eternamente a esperança e fazer alguma coisa concreta para mudar o mundo.

Cada um descobre em seu caminho algo a fazer de melhor por alguém que precisa. Disso, ele me convenceu. Lembrei de tanta caridade que se organiza em movimentos assistenciais em todo o mundo, e pude ver as luzes de velas acesas, na imensa escuridão do cosmos.

Uma luz maior me possibilitou compreender que a cada ação de paz, a cada sorriso de uma criança, o mundo se renova e a humanidade se redime.

Assimilei a lição do Bom Velhinho e passei a sentir que o Natal é um lindo conto de Fadas, um mágico sonho a ser vivido entre adultos e crianças, para realimentar o universo de Amor.

Sobre o Amor, ainda, ele, com seus profundos olhos azuis, me tirou a dúvida maior que me acompanhava há tanto tempo: o Amor existe, nós somos o próprio Amor, e ele vai além do tempo e do espaço...

Papai Noel me fez voar sobre a Terra e me transformou num raio de luz... Com meus volteios no céu, escrevi um imenso Feliz Natal no ar... para todos os meus amigos e amigas... que vão poder olhar na noite, entre as estrelas , e observar a minha mensagem lá no alto... iluminando cada coração que sintonizar o meu.

Está aberta a temporada de festas?


Esta frase foi dita por um amigo, no almoço em que comemoramos seu aniversário, na semana passada... sempre que chega o fim do ano, a gente se vê mesmo, envolvido até o pescoço, em programação de festas... as tais boas festas, que incluem família, amigos, colegas de trabalho, vizinhos, o clima parece mais leve e lá vamos todos viver a ilusão de um período feliz, sem desmerecer, evidentemente, que existem momentos reais e pródigos de alegria em cada sentido que dermos aos nossos abraços de congratulações de Feliz Natal e Próspero Ano Novo.


Entretanto, se tentarmos esmiuçar nossos motivos interiores maiores, haverá sempre o ponto de interrogação diante de um mundo em crise ( existencial e financeira) ou de um mundo em tempo de catástrofes climáticas previsíveis e desastrosas. Enchentes, nevascas, queimadas, poluição, nuvens negras pairando sobre nossas cabecinhas e espetando nossos corações humanos que se solidarizam com desabrigados, vítimas, gerações futuras e nossos sonhos de planeta ecologicamente recolocado no caminho da sustentabilidade.


Poderia ser só papo de botequim, filosofia barata, mas não é. Nossos anseios pela alegria das festas passam pelo prognóstico infeliz de uma Terra devastada e desrespeitada.


Ok, se está aberta a temporada de festas, por que não nos lembrarmos do ambiente saudável para que nos próximos decênios os Natais e os Anos Novos sejam comemorações de Vida Longa ao Planeta Terra?


Acho que estou exigindo demais de mim mesma, e dos meus pares, já que a temporada é só de um mês ou pouco mais e pode ser o intervalo necessário para esquecer mazelas e aproveitar o convívio esfuziante com amigos, familiares, amores, sem maiores preocupações, ou talvez, quem sabe, criando esteio psicológico importante para que enfrentemos pois, adiante, e logo, a assunção de posturas realmente novas e saudáveis para a conservação da vida na nossa casa chamada mãe Terra...


A ela, é, à Terra, eu desejo Felizes Festas, como um bom augúrio de pensamento forte e positivo.

Aparecida Torneros

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Quem é o fadista português Camané?



http://br.youtube.com/watch?v=KaWhCGTnvAQ&feature=related





Carlos Manuel Moutinho Paiva dos Santos, conhecido por Camané é um fadista português nascido em Oeiras em 1967.
Em
1979 ganhou a Grande Noite do Fado, o que lhe possibilitou a gravação de um álbum produzido por António Chainho. Após uma interrupção de 5 anos regressou às lides do fado, actuando em diversas casas de fado e participando em produções de Filipe La Féria - "Grande Noite"; "Maldita Cocaína"; "Cabaret" - onde se evidencia.
A partir de 2004 esteve envolvido no projecto "
Humanos" ao lado de Manuela Azevedo e David Fonseca bem como dos músicos Nuno Rafael, João Cardoso e Hélder Gonçalves, do qual resultaram dois álbuns (Humanos e Humanos ao Vivo) e um DVD, relativo aos concertos nos coliseus de Lisboa e Porto em Junho de 2005, onde Camané revelou a sua versatilidade de interpretação.
Participou nas músicas "Sopram Ventos Adversos" e "Circo de Feras" dos
Xutos & Pontapés e em "Fotos do Fogo" de Sérgio Godinho [1].

fado ...Camané...lindoooooooooooooooooo


TULIPAS...sonhos em amarelo...







sonhando em amarelo

ela pensou que era tudo mesmo assim...um jardim pleno de tulipas...

pleno ou cheio?

repleto ou coalhado?

como definir a multiplicidade imaginada em sonho tão personalista?

mulher de fibra, sonhadora e intensa,

isso ela era, não tinha dúvida nem receio

de sair pelo mundo em busca de aventura,

de conhecer povos e culturas, de caminhar

pelas ruas e esquinas de cidades de países

onde gente como ela também se perguntava pelas flores,

gente que se questionava sobre as próprias dores,

gente que se enternecia quando encontrava novos amores,

gente que se recolhia ao seu canto se pressentia dissabores...

mas as tulipas lhes vinham nos sonhos em amarelos matizes...

alegravam suas noites, faziam-na agradecer mais um dia,

quem sabe não eram mensagens do além para trazer esperança?

ela sempre se perguntava que palavras a vida resumia?

encontrou umas duas definitivas... esperança, sem pestanejar,

era o melhor resumo de tudo que existisse antes ou depois...

e mais uma, ela se nomeu com o coração encolhido...
precisava tanto dessa palavrinha... mesmo em tom discreto...
mesmo em noite de solidão, devia relembrar do que foi vivido...
em meio a um sonho pleno de tulipas amarelas, recordou o afeto...
poderia ser o afeto feito de memórias, ou de passados, ou de enredos...
mas era afeto, era um jeito de presentear a alma com segredos...
nem precisava mais palavras para compor a vida...
encontrara a chave dos seus anseios e cura para seus medos...
na contradança, a canção do seu apascentado coração...
na esperança, a eterna dádiva da sua capacidade de dar e receber afeto....
Aparecida Torneros

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Músicas de filmes, com direito a sonhar e lembrar...


um texto do Natal de 2005...Anoiteceu...
















Publicado em: 23/12/2005
Leituras: 129
"Eu pensei que todo mundo fosse filho de Papai Noel"
Maria Aparecida Torneros da Silva

"Eu pensei que todo mundo fosse filho de Papai Noel"



Quem pensou isso e imortalizou esse verso na canção, foi o conmpositor carioca Assis Valente, que nos legou a tal letrinha que relembra a desigualdade que campeia, de há muito, na humanidade. Ao conviver, nesse país de realidades tão díspares com pessoas de vivências extremamente diferenciadas, há algumas semanas, fui abordada por uma colega de trabalho, me pedindo a intercessão, na área médica, junto a um hospital famoso da rede pública carioca, para um melhor atendimento a uma senhora que é mãe de um funcionário que me atende no setor de xerox. Como característica personalíssima, ele, às vezes não consegue vir ao trabalho, por ser morador lá do alto do morro da Rocinha, sendo impedido, nos dias de tiroteio forte ou de tensão que o prende no exílio forçado, junto justamente da senhora com quem mora, sua mãe, que quebrou o braço. Ela foi operada de emergência, mas a cirurgia, depois que voltou para casa, apresentou problemas, deixando-a noites sem dormir, com dores lancinantes. Tentou ser reavaliada, mas, o intenso movimento do dito hospital programou que seria examinada num prazo de 30 dias. Evidentemente, para quem está acostumado a se valer de assistência médica normal, fica difícil imaginar-se com dores num braço operado, engessado, sem dinheiro para ir a um consultório particular, morando na comunidade famosa da Rocinha, tendo um único filho, rapaz trabalhador, mas detentor de salário contado para pagar a sobrevivência de ambos. Peguei o telefone e fiz alguns contatos.
Finalmente, consegui falar com a direção do hospital, e, na secretária da diretora, encontrei o Anjo de Natal que atendeu a pobre senhora, nas palavras do seu filho, com tratamento "vip", porque foi constatado que havia infecção pós- operatória e ela poderia , se não fosse vista logo , perder o braço. Ontem, ao passar pela sala em que o jovem trabalha, perguntei por ela. O sorriso dele me contando que ela está bem, feliz, porque vai passar o Natal sem dores. Ele não me disse que vão passar o Natal com presentes, com peru ou pernil, com vinhos ou champanhas, mas apenas, me comoveu, se referindo à felicidade de não sentir dores.
Entendi que o Natal Feliz é saúde, é paz ( tomara que na noite de Natal o tráfico e polícia assinem trégua de paz na Rocinha), é amor de filho e mãe, é esperança de mudar o que é tão difícil de mudar. Natal Feliz não é o dos balsos cheios dos homens do Congresso, recebendo seus extras pelo trabalho de repensar o país tão injusto. Há um Natal mais forte nos lares de milhares de sitiados pela desigualdade nesse Brasil do Oiapoc ao Chuí, com certeza. Mas, ainda bem, há o espírito de Natal e sempre encontraremos Anjos de Guarda capazes de se sensibilizar com as dores dos seus irmãos brasileiros, vítimas do egoísmo desenfreado que acomete os poderosos, há séculos.
Isso me fez lembrar a canção, cuja letra vou transcrever, desejando a todos um Natal, com felicidade, sem dores !
Anoiteceu, o sino gemeu, A gente ficou feliz a rezar. Papai Noel, vê se você tem, a felicidade pra você me dar. Eu pensei que todo mundo fosse filho de Papai Noel, bem assim felicidade, eu pensei que fosse uma brincadeira de papel. Anoiteceu... Já faz tempo que eu pedi mas o meu Papai Noel não vem, com certeza já morreu, ou então felicidade é brinquedo que não tem. Anoiteceu...
Aparecida Torneros, 56, jornalista,RJ

terça-feira, 25 de novembro de 2008

A culpa branca ( artigo meu no Observatório da Imprensa)

LEITURAS DA FOLHA
A "culpa branca"

Por Aparecida Torneros em 25/11/2008

"Ontem, na rua 34, uma banca vendia bottons de Obama especificando que eles eram `Union Made in the USA´, ou seja, fabricados nos EUA por trabalhadores que pertencem ao sindicato.

Ao lado dessa banca, um vendedor de DVD colocava seus heróis numa mesma coluna: Obama, Martin Luther King, Lumumba, Fidel Castro, Gandhi e Che Guevara.

Depois dizem que Obama não é um cara de esquerda...

Esta é a última crônica de Nova York. Volto para São Paulo."

Assim, o psico-articulista da Folha de S.Paulo encerra sua série de crônicas, escritas em Nova York, durante o período eleitoral que revolucionou a história política americana, trazendo à baila questões diversas que, num mix inusitado, movimentaram e ainda movimentarão por longo tempo a mídia internacional, com pautas que vão desde a discriminação racial até a crise econômica que se mostra crescente e astronômica, até os conceitos de democracia socialista em país dito rico, avançado e capaz de mudanças radicais, auto-referenciando seu próprio capitalismo em torno dos seus conteúdos consumistas, seja de bens materiais ou de modus vivendi exportáveis através do cinema ou de fatos com proporções universalmente difundidos, como foi o caso da queda das Torres Gêmeas.

Comportamento ressabiado

Ao se referir aos bottons vendidos na 34th Street, Calligaris aponta para um fato relevante da comunicação social que é o culto a olimpianos, heróis necessários ao significado do inconsciente coletivo em qualquer sociedade, moderna ou de priscas eras, que já foi tão bem estudado pelo francês Edgard Morin no seu livro Cultura de Massas no século XX. Esses personagens, "mesclados na mesma coluna", nas palavras do cronista, na verdade, povoam o imaginário popular com grandes doses de efeito social, aferindo "projeção" e "identificação" aos comuns mortais que compõem as massas atingidas pela comunicação da cultura contemporânea.

Eu mesma, em outubro, adquiri alguns bottons do Obama e os distribuí para amigos brasileiros, quando voltei de lá, mas fiz questão de guardar um que considero antológico e me remete à minha adolescência de sonhadora com a igualdade entre brancos e negros. Nele, há os dois rostos, o de Obama e o de Martin Luther King, e uma frase expressiva: Change is what we need ("Mudança é o que nós precisamos").

Em torno da crônica do Calligaris, e das outras que a precederam, há uma aura de grande reflexão presente nas comunidades que compõem a sociedade norte-americana, composta de grande força de trabalho imigrante e de movimento intenso de capital internacional em sua economia. No plano sub-reptício, existe o que ele chama de "culpa branca", vinda de uma ancestralidade que escravizou os africanos e lhes legou comportamento ressabiado, em função de fatos que não foram privilégio da sociedade norte-americana, mas que se repetiram em países como o Brasil e tantos outros que usaram a mão-de-obra escrava em período literalmente negro de suas histórias.

O discurso e o real

Calligaris diz: "É cedo para que Barack Obama seja objeto de gozação, mas pensei no comic strip ao ler comentários sobre a mudança que a eleição de Obama traria às relações entre brancos e negros.

As pesquisas qualitativas mostram que, para a grande maioria da população branca, a cor da pele de Obama não foi um critério relevante. Não por isso é o caso de decretar o fim do preconceito racial. Mas um componente do preconceito foi abalado: a culpa dos brancos, que foi, se não lavada, no mínimo seriamente aliviada pela eleição de terça-feira. Poucos dias antes da eleição, estive no comic strip. Note-se que, em regra, o humor nova-iorquino ridiculariza as diferenças que convivem na cidade: irlandeses, italianos, porto-riquenhos, mexicanos e hispânicos em geral, russos, judeus ortodoxos etc., todos passam por brutais caricaturas. Paradoxalmente, a minoria que é mais poupada é a afro-americana, como se, nesse caso, a piada corresse o risco de parecer racista. É o efeito da culpa branca."

Dá para perceber que algo de novo acontece no reinado do Tio Sam, a tal mudança que precisamos já começa a mostrar seus efeitos, quando a sede de caricaturar diferenças se amaina e se refreia até em programas onde o cômico sempre se aliou ao sarcasmo zombeteiro. Outras mudanças vão se fazer sentir daqui para a frente entre eles e nós, que não escapamos ao sentido do conteúdo de uma comunicação reflexiva que provocará nos produtores de televisão, rádio, nos pauteiros e editores de jornais, uma nova postura quanto ao tratamento dado aos seus noticiários e informações.

Em programa na televisão carioca, por ocasião do Dia da Consciência Negra, assisti ao emérito professor Muniz Sodré, em preciosa intervenção, falar sobre a distância entre a teorização do discurso e o desafio da aproximação real entre as pessoas diferentes, com contatos de pele e de olhos, com superação de preconceitos além da razão, mas alinhados na emoção.

Rir ao mesmo tempo

Parece que os primeiros grandes passos nessa direção já foram dados. Se Obama é símbolo de mudanças nesse campo para que se possam dirimir diferenças entre seres humanos e eles possam obter melhor entendimento em seus negócios ou ações conjuntas, já é um avanço enorme, num mundo tão seccionado por disputas econômicas, religiosas ou raciais.

E registro um trecho do artigo citado, considerando que é um mote importantíssimo para que se reflita sobre a necessidade de mudarmos juntos e até podermos rir juntos, sem que nos sintamos culpados de séculos de opressão e injustiças. Neste parágrafo, Calligaris consegue resumir o sonho do melhor que o efeito Obama poderá infundir em mentes e corações de seu povo. Observem:

"Exemplo. Um dos comediantes, naquela noite, brincou com `o atraso da risada branca´: quando ele (hispânico) faz uma piada sobre os negros, os brancos riem com dez segundos de atraso. Não é que não entendam, mas eles só se autorizam a rir após verificar que os negros na platéia estão mesmo achando engraçado e rindo. Quem sabe, depois de Obama, brancos e negros possam rir ao mesmo tempo."

segunda-feira, 24 de novembro de 2008