Maracanã

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sábado, 31 de julho de 2010

Rosa de Hiroshima

Hiroshima e Nagasaki: um agosto para nunca esquecer

http://www.paixaoeromance.com/70decada/rosa_iroshima/h_rosa_de_hiroshima.htm

Rosa de Hiroshima

Ney Matogrosso

Composição: Vinícius de Moraes / Gerson Conrad

Pensem nas crianças

Mudas telepáticas

Pensem nas meninas

Cegas inexatas

Pensem nas mulheres

Rotas alteradas

Pensem nas feridas

Como rosas cálidas

Mas, oh, não se esqueçam

Da rosa da rosa

Da rosa de Hiroshima

A rosa hereditária

A rosa radioativa

Estúpida e inválida

A rosa com cirrose

A anti-rosa atômica

Sem cor sem perfume

Sem rosa sem nada





Hiroshima e Nagasaki: um agosto para nunca esquecer


Exposição na Associação Paulista de Medicina relembra a tragédia que mudou a história do planeta 65 anos atrás
A Associação Paulista de Medicina (APM) promove, entre 2 de agosto e 3O de setembro, a mostra “Hiroshima e Nagasaki: um agosto para nunca esquecer!”. Um dos objetivos é provocar reflexões sobre esse trágico momento da história mundial, 65 anos atrás. O material veio do Japão, por intermédio da Associação Médica de Hiroshima. São 30 pôsteres com imagens e textos informativos e cinco DVDs que reúnem testemunhos dos sobreviventes, documentários e animações japonesas.
A abertura ocorrerá no próprio dia 2 de agosto, às 20h, com vídeoconferência ao vivo, direto do Japão, com Steven Leeper, presidente da Hiroshima Peace Culture Foundation.
De acordo com Milton Massato Hida, um dos colaboradores da exposição, o intuito, além de relembrar as consequências da tragédia, é homenagear os sobreviventes que moram no Brasil, incentivar a abolição das armas nucleares e celebrar a paz.
A mostra terá entrada franca. Poderão ser agendadas visitas de alunos do ensino médio e universitários, que participarão de uma contextualização histórica e da proposta de feitura dos tsurus, pássaros de origami (técnica de dobradura em papel) que incentivam a paz.

Bombardeios


O lançamento das bombas atômicas nas cidades de Hiroshima e Nagasaki ocorreu no final da Segunda Guerra Mundial, em 6 e 9 de agosto de 1945, respectivamente. Estima-se que cerca de 220 mil pessoas foram mortas nos ataques, e outros milhares sofreram graves sequelas pela exposição à radiação.
A tragédia guardou histórias simbólicas como a da menina Sadako Sasaki, que será retratada na exposição. Personagem da luta pela paz, ela tinha dois anos de idade na época do ataque. Devido à radiação teve leucemia, e após compreender que a doença fora causada pela guerra, passou a dobrar origamis de Tsuru (pássaro da paz) em manifestações públicas por sua saúde e pela paz.
Um dos últimos Tsurus feitos por Sadako será entregue na cerimônia de abertura à Associação Hibakusha Brasil pela Paz, instituição que reúne vítimas da bomba atômica.
Segundo o curador da exposição dr. Ruy Tanigawa, secretário-geral da Associação Paulista de Medicina, a mostra busca exibir as consequências da arma nuclear, mostrando para o público seus efeitos impactantes no Japão e no mundo, e a importância em relação à paz:
“A exposição será direcionada principalmente aos mais jovens, no sentido de promover uma ação educativa pela paz entre os povos”
Mais informações pelo telefone (11) 3188-4304 ou pinacoteca@apm.org.br.
Exposição sobre história da bomba de Hiroshima
Data: 2 agosto a 30 de setembro de 2010
Horário: 12h às 21h
Visitas agendadas: manhã, tarde e noite.
Local: APM
Endereço: Brigadeiro Luís Antônio, 278 - São Paulo - SP


Informações e inscrições: (11) 3188-4304
E-mail: pinacoteca@apm.org.br

Brenda Lee - Always on my mind.

Brasília, minhas redescobertas...


Em Brasília, durante cinco dias, participando com minha amiga também  jornalista Denise Teixeira,do Encontro Nacional das Entidades Médicas, o ENEM, tive a chance de viver novas redescobertas.

Redescobri, por exemplo, o gosto de observar o  por do sol no serrado, encantador e reconfortante, enquanto o carro deslizava nas vias extensas  e  a silhueta dos arbustos  se completava  em tons de rosa e dourado, à  vista   dolhos, como um desenho encomendado ao pintor não  identificado, o misterioso criador  dos   momentos que passam tão rapidamente. Redescobri o sentimento de estar no centro de um país tão pujante, ouvir o hino nacional tocado  por um sax e me emocionar de  novo...
Redescobri a doçura de um olhar penetrante e a vontade de um beijo que não demos ainda...
mas, redescobri mais... a verdade que se abriga na "mentira", a mesma mentira que escrevi em crônica antiga publicada no meu livro a Mulher Necessária...
Redescobertas à parte, Brasília me me  proporcionou tietar JK, admirá-lo mais, e beijar o seu chão...não é que levei um tombaço, saindo do Shopping Pátio e literalmente beijei a calçada? rs
Cida      


As pontes de Brasília
Na lembrança, retorno à minha redação premiada, em 1960, sobre a nova capital : Brasília. Eu tinha 10 anos, ganhei o prêmio a mim entregue em cerimônia no cine Rex, na Cinelândia, Rio de Janeiro, das mãos de autoridades do Governo do novo Estado da Guanabara, que nascia junto com a cidade projetada no planalto central.


Sonho de JK, imaginação fértil e linda nas pranchetas de Niemeyer e Lúcio Costa, a cidade planejada, Brasília, trazia a esperança de um novo Brasil que cresceria a despeito de tudo e de todos, nas décadas seguintes, com a industrialização que, àquele tempo, nos invadia com promessas de futuro melhor.


Já não consigo rever na memória exatamente o conteúdo do meu texto infantil e ufanista, mas sei, tenho certeza, nele invocava a certeza de que Brasília vinha para ficar, seria um marco do Brasil jovem, imponente, a ser construído como país-marco no cenário latino-americano. Só fui conhecer a cidade muitos anos depois e a primeira sensação que tive foi da visão de um lugar em que as pessoas me pareciam distantes umas das outras. Entretanto, nos anos subseqüentes, voltei a Brasília a trabalho algumas vezes e não me cansei de admirar sua força com a motricidade dos lugares que somam história e se auto-delegam como impulsionadores do progresso e das misérias sociais das periferias. Apesar do carinho nutrido por aquele rincão, sempre me deu certa angústia sentir a energia oscilante que por ali vigora,místico lugar que sedia seitas e ampara muitos desenganos.


As tais cidades-satélites crescentes e concentradoras de gente imigrante em nada ficaram a dever às regiões metropolitanas de Rio ou São Paulo, e logo se constatou que o centro de Brasília era uma ilha de poder cercada por gente sonhadora por todos os lados. Quando observo os episódios recorrentes em que Brasília está metida, uma pergunta paira no ar. Talvez não fosse o caso de nos indagarmos de que te acusam, Brasília, de ser uma ilha da fantasia, onde mascarados dançam música ensandecida? Nada disso, diriam os que conseguem se distanciar das histórias escabrosas ou das decisões alvos de acordos e conchavos.


Apenas o exercício pleno da democracia representativa, é o esperável, quando se aguarda que sejam barrados no baile da hipocrisia todos os que nos tentam enganar com frases de efeito ou ações em suspeição.


É preciso construir pontes que nos liguem à Brasília do meu sonho de menina, aquela cidade do imaginário socialista, plano-piloto da grande nave da nação, cujas asas equilibram-se à direita e a esquerda, mantendo o rumo do país, deitado na planície circundante, verdadeiro mar de esperança nacional, berço dos candangos. Foram eles teus primeiros estadistas, e, na linha de sucessão, espera-se que agora, se cumpra teu destino como metrópole iluminada capaz de te religar ao continente verde-amarelo, na mais perfeita engenharia moderna, para que o isolamento não te condene a ser eternamente cidade da mentira.
Aparecida  Torneros
(artigo publicado no livro A mulher necessária)

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Ecos de Galícia...


ECOS DE GALÍCIA...



Chegamos à Galícia, eu, minhas amigas Regina e Rosária, e sua filha Tatiana. Do Rio de Janeiro, descemos em Madri e logo pegamos a conexão de um vôo que durou menos de uma hora para Vigo. Ali, na cidade portuária, nos encantamos com sua organização, boa comida, gente educada e a carga histórica muito forte que paira nos seus ares. Zazá também ia em busca da ancestralidade, assim como eu. No segundo dia, logo, conseguimos visitar Orense e Verin ( lugares dos nossos pais, avós e bisavós), onde resgatamos um pouco da própria história de descendentes de imigrantes galegos, os mesmos que vieram fazer as Américas, tão bem descritos num livro memorável da escritora brasileira Nélida Piñon, República dos Sonhos.


Por alguns dias na Galícia, em maio de 2009, nós quatro nos identificamos com sua gente e seus costumes, adoramos ir a Santiago de Compostela, passar por Pontevedra, ouvir suas histórias, conviver com gente como o Ramon, por exemplo, galego típico, que nos atendeu com seus serviços de motorista e que se tornou grande amigo.


A escultura dos cavalos alados, no centro de Vigo, não me sai da lembrança, é como um símbolo do quanto um povo pode cavalgar, voar e navegar adelante, conquistando espaços nesse mundo de Deus.


Em 2008, depois de lançar meu livro onde narro parte da história da minha avó e do meu tio-avô , fui a Nova York, onde encontrei Jeanne Marie, neta do Tio Obidio. Somos netas de dois irmãos imigrantes, ela vive nos Estados Unidos, nasceu lá, é cidadã americana integrada ao seu país, com marido e filhos. Eu vivo aqui, sou cidadã brasileira inserida na cultura da minha terra, tenho um filho.


No dia em que nos encontramos, ela completava 44 anos, levou a família e passeamos juntos pelo Central Park, nos divertimos, fomos almoçar, trocamos presentes, sorrisos, abraços, nosso sangue se identificava. Nossos bisavós espanhóis, pais de Carmen e Obidio, ficaram na Galícia e nunca mais viram os filhos e sequer tiveram chance de conhecer seus netos, nove, ao todo, e muito menos souberam da existência dos bisnetos. Somos muitos espalhados pelo Brasil e pela América.


Antonio e Manuela ficaram sozinhos, no pequeno lugarejo, Rasela, onde fui, finalmente, em maio de 2009. Senti-me representante de todos os que estão por aí espalhados, os que nem sabem sobre suas vidas, como eu pude saber. Para embarcar, levei comigo um maço de cartas envelhecidas, amareladas e desbotadas, escritas a pena, pelo meu bisavô Antonio, todas endereçadas a Carmen, a filha que viveu no Brasil. As cartas datam de 1910 até 1935, são dezenas, e em todas, o amor é citado como o grande elo que uniu este homem aos seus descendentes. Também, cada escrito seu terminava com as saudações que ele transmitia enviadas pela esposa, a Manuela, que morreu num convento, isso eu soube, ao visitar o lugar, através de um senhor velhinho que os conheceu, sr. José Freiria.


Resolvi entrar no pequeno cemitério do lugar, não encontrei uma campa com seus nomes, mas rezei ali, em sua homenagem. Agradeci o quanto de amor à vida, eles legaram para nós todos, e nos fizeram ser o que somos hoje, pessoas que reproduzem sua luta, estejamos em Nova York ou no Rio de Janeiro.


Em determinado instante, não me contive, e na pequena capela do cemitério vazio, puxei os cordões da campana, toquei os sinos, minhas amigas ficaram apreensivas pois num lugar tão ermo, o som poderia assustar os moradores. O que ocorreu foi, na verdade, uma saudação aos meus ancestrais, que ficou gravada nos meus ouvidos, reverberando, festejando, nosso reencontro. Pude proclamar os ecos de uma descendente de Antonio e Manuela que voltou, pisou na terra que os acolheu e onde viveram, eu me senti assim, resgatando o amor deles pelas sementes que espalharam no mundo.


Saí daquele lugar com a alma apaziguada. Parecia que cumprira um papel a mim destinado. Saudei os cânticos da minha meninice, aqueles que a abuela Carmen cantava, oriundos da sua terra, passei no Jusgado, pedi a cópia da certidão de nascimento dela, que já me chegou, via correio.


Vou dar entrada no pedido de cidadania espanhola, em homenagem a eles, Antonio, Manuela, Obidio e Carmen, criaturas de bem, semeadores de amor, por quem dobram os sinos da capelinha em Rasela, e de cujas almas soam os ecos de Galícia que agora me emocionam e me impulsionam a seguir em frente.


Maria Aparecida Torneros

domingo, 25 de julho de 2010

Luar na lubre e Ismael Serrano - Chove en Santiago

Viva Santiago de Compostela!

Dia de Santiago , patrono de Espanha!

Oração a Santiago











Ó meu Santo Padroeiro,


Meu Santiago Patrono,


Santo dos Peregrinos,


Dos eternos viajantes,


Dize-me o que vem primeiro,


Se o ardor dos amantes


Ou os amores meninos...










Mostra-me justo caminho


Para somar, acrescentar,


Na vida daquele mocinho,


Por quem hoje tenho paixão...










Ajuda-me a ajudá-lo,


Nos momentos de enfermidade,


Nos instantes de saudade,


Nas agruras da divisão...










Protege-o, eu imploro, sim,


Eu prometo agradecer, amá-lo,


Para sempre amor sem fim...










Ó meu santo dos Caminhantes,


Salva meus pés, leva meus passos,


Conduze-me no rumo certo,


Mostra-me a luz, um céu aberto,


Sem fugas, sem sofrimentos,


Permanece-nos bem atentos,


No respeito, na paciência...










Santiago, santo digno e forte,


Abençoa-nos até a morte,


Guarda-nos na obediência,


Dá-nos a força dos ventos


Para empurrarmos os dias


E o equilíbrio do fogo,


Para aquecermos as noites...










Sê em nós a razão de tudo,


Leva-nos ao Deus supremo,


Toma conta dos nossos corações,


Envolve nossos corpos em preces.


Tem compaixão dos nossos senões,


Fraquezas humanas, revoltas, regressões,


Entende que nossas intenções


São as melhores, boas e doces.










Ó santo dos questionadores,


Daqueles que buscam amores,


Além de encontrarem as dores,


Mas que insistem em prosseguir...










Somos teus seguidores, somos,


E no teu dia, somos a alegria,


De encontrar-te nas flores,


De rever-te nos gnomos,


De saber-te companheiro,


Das nossas andanças, cobranças.


Te ofertamos, em versos,


Nossa oração, a intenção


De honrar-te na fé que guia.

Um dia de domingo

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Vó Maria e as mulheres fortes...

A noite da Lapa, uma quinta-feira, a voz entusiasmada da "coleguinha" que nos emociona sempre: Tania Malheiros. O samba corre solto, de Carmen Miranda a Donga, quando Vó Maria sobe ao palco e canta junto com a Tania, o primeiro samba gravado oficialmente, "Pelo telefone". Ela é uma mulher forte, tem 99 anos, viúva de Donga, plena de bênçãos, aplaudidíssima, nos comove, intensamente.

Um momento memorável, claro, um presente de Deus, como declarou Tania, enquanto sambávamos e curtíamos mais uma noite na Lapa carioca. Aí, cerca de meia-noite, cedo ainda, voltei pra casa, como uma Cinderela, pensei antes de que meu táxi virasse "abóbora", que faço parte do elenco dessas mulheres fortes.

Durante o show, comemoramos o aniversário da Eliane, jornalista e fotógrafa, a que escala pedras e montanhas, nas horas vagas, mãe da Maria Clara, adolescente que vi pequenininha,  e que já começa a trilhar os caminhos femininos da  independência. Reencontrei muitas outras amigas de profissão e de vida, o momento era de confraternização, algumas eu conheço há 40 anos, como a Sandra Chaves, intensa e presente, ou a Gloria, que me avaliou com lucidez o fim do Jornal do Brasil, ali, no calor da música, com a consciência de uma profissional responsável. Sonia, uma ex-aluna de faculdade e colega de tantos momentos de trabalho, Beth, antiga companheira de muitos percursos na estrada do jornalismo, Sandra Peleias, outra que dividiu comigo diversas incursões no mundo tanto da comunicação como da política.

E na berlinda, nos coroando com sua Luz, Vó Maria, ao lado de Tânia Mallheiros, cantando: O chefe da polícia pelo telefone manda me avisar!

Já em casa, lembrei mais, de uma outra mulher forte que me cantava essa música quando eu era menina e me contava que nos idos de 1911 e 12, ela ia dançar junto aos brasileiros, na praça XI, exatamente esse samba.

Minha avó Carmen Torneros, que chegou da Espanha em 1910, se reunia aos imigrantes para aprender sobre a cultura brasileira e o tal lugar era reduto dos afro-descendentes, que iniciavam um movimento chamado oficialmente de "samba", o qual atraía portugueses, espanhóis, italianos, etc, para miscigenar  histórias e sentimentos, num Rio de Janeiro que era a capital do Brasil, no início do século XX.

Prazer inenarrável participar do show da Tania na noite da Lapa, exatamente, numa quinta-feira, 22 de julho, com a presença de Vó Maria e tantas outras mulheres fortes...
Cida Torneros

quarta-feira, 21 de julho de 2010

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Dick Farney - Uma Loira

Cida Torneros:Conversa rara no Canal Brasil para compensar tanto “caso Bruno”


Posted on 19-07-2010



Cida Torneros:Conversa rara no Canal Brasil para compensar tanto “caso Bruno”


filosofia e vida
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Viviane Mosé e Roberto Dávilla no Canal Brasil

Maria Aparecida Torneros


Quando sintonizei o programa, no domingo à noite, já ia no meio, perdi grande parte. Entretanto, o que pude assistir, valeu como sensação feliz para idéias bem conduzidas e conversa tecida em conjecturas saudáveis, já que nas tevês de canal aberto, chega a ser praticamente exceção um assunto tão fascinante: a filosofia. Ela é filósofa com penetração midiática,já fez parte de quadro fixo no Fantástico, consegue explanar os labirintos do pensamento humano com facilidade para quem é neófito nos ditames das questões investigativas do mundo da filosofia e suas histórias.
O bate-papo, correndo solto, foi tocante, quando se referiu à educação no Brasil, chamando atenção para a baixa qualidade do ensino, e a necessidade de transformação, muito além da reforma, segundo Viviane. Ela relembrou que o pensamento racionalista que impera na sociedade ocidental começou a ser organizado no século V antes de Cristo, preconizando um homem formatado à luz da concepção de que seu pensamento é superior ao seu corpo.
Exemplos como o de uma professora de crianças de uma escola que ela visitou no Espírito Santo, que se questionou porque ensinar sobre flores, desenhando no quadro e não visitando o jardim, foram usados por Viviane para mostrar o quanto a nossa formação se baseia na dissociação do racional diante da emoção. Pensar é valorizado muito mais do que sentir, segundo observação generalizada, mas o conteúdo maior da entrevista reside justamente no encontro de dois bons interlocutores, conseguindo passar suas impressões de viajantes do seu tempo, adentrando por caminhos de extrema reflexão e intensa interrogação.
No domingo seguinte( próximo, dia 25) haverá o prosseguimento da entrevista. Vale conferir e interagir com idéias da filósofa antenada com o dia-a-dia da população, ao ser entrevistada por um profissional experiente na arte de questionar “cabeças pensantes”. Momento raro da comunicação televisiva nacional, pela oportunidade de nos afastar de notícias criminosas, ou assuntos tediosos que geralmente infestam a grade de transmissão em horário nobre.
Um encontro com Viviane Mosé, através do diálogo com o Roberto, incluiu até uma boa “sacação” sobre a sociedade brasileira, que é a da anti-segregação, o que ela sintetizou muito bem, com a esperança positiva de que o Brasil possa ainda exemplificar para o mundo o que é uma nação resultante de mistura racial, com sucesso, afinal.
Esperemos a continuidade da conversa afiada nas lâminas de boa dose de inteligência e sagacidade, de entrevistada e entrevistador, para nossa condição de espectadores privilegiados, ainda bem, para compensar tanto “caso Bruno”, caso “Bispo”, etc e etc.

Cida Torneros é jornalista e escritora, mora no Rio de Janeiro, onde edita o Blog da Mulher Necessária


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Mariana Soares on 19 julho, 2010 at 18:19 # Concordo totalmente com você, Cida! Também peguei a entrevista já começada, mas não larguei até o final – uma maravilha! Acompanho, diariamente, os comentários de Viviane Mosé (tão diferente da chata da Márcia Tiburi!!!)na CBN, pela manhã – seus comentários são, invariavelmente lúcidos e reflexivos.


Chega de Bruno! Chega de crime! Chega dessa paranoia que a Globo e assemelhadas está nos incutindo diariamente!


E que venha mais filosofia, mais lucidez, mais amor, mais alegria!

sábado, 17 de julho de 2010

Galicia, música celta...







As cartas do meu bisavô, Antonio...



As cartas do meu bisavô, Antonio...Chegamos à Galícia, eu, minhas amigas Regina e Rosária, e sua filha Tatiana. Do Rio de Janeiro, descemos em Madri e logo pegamos a conexão de um vôo que durou menos de uma hora para Vigo. Ali, na cidade portuária, nos encantamos com sua organização, boa comida, gente educada e a carga histórica muito forte que paira nos seus ares. Zazá também ia em busca da ancestralidade, assim como eu. No segundo dia, logo, conseguimos visitar Orense e Verin ( lugares dos nossos pais, avós e bisavós), onde resgatamos um pouco da própria história de descendentes de imigrantes galegos, os mesmos que vieram fazer as Américas, tão bem descritos num livro memorável da escritora brasileira Nélida Piñon, República dos Sonhos.


Por alguns dias na Galícia, nós quatro nos identificamos com sua gente e seus costumes, adoramos ir a Santiago de Compostela, passar por Pontevedra, ouvir suas histórias, conviver com gente como o Ramon, por exemplo, galego típico, que nos atendeu com seus serviços de motorista e que se tornou grande amigo.


A escultura dos cavalos alados, no centro de Vigo, não me sai da lembrança, é como um símbolo do quanto um povo pode cavalgar, voar e navegar adelante, conquistando espaços nesse mundo de Deus.


Em 2008, depois de lançar meu livro onde narro parte da história da minha avó e do meu tio-avô , fui a Nova York, onde encontrei Jeanne Marie, neta do Tio Obidio. Somos netas de dois irmãos imigrantes, ela vive nos Estados Unidos, nasceu lá, é cidadã americana integrada ao seu país, com marido e filhos. Eu vivo aqui, sou cidadã brasileira inserida na cultura da minha terra, tenho um filho.
No dia em que nos encontramos, ela completava 44 anos, levou a família e passeamos juntos pelo Central Park, nos divertimos, fomos almoçar, trocamos presentes, sorrisos, abraços, nosso sangue se identificava. Nossos bisavós espanhóis, pais de Carmen e Obidio, ficaram na Galícia e nunca mais viram os filhos e sequer tiveram chance de conhecer seus netos, nove, ao todo, e muito menos souberam da existência dos bisnetos. Somos muitos, espalhados pelo Brasil e pela América.


Antonio e Manuela ficaram sozinhos, no pequeno lugarejo, Rasela, onde fui, finalmente, em maio de 2009. Senti-me representante de todos os que estão por aí espalhados, os que nem sabem sobre suas vidas, como eu pude saber. Para embarcar, levei comigo um maço de cartas envelhecidas, amareladas e desbotadas, escritas a pena, pelo meu bisavô Antonio, todas endereçadas a Carmen, a filha que viveu no Brasil. As cartas datam de 1910 até 1935, são dezenas, e em todas, o amor é citado como o grande elo que uniu este homem aos seus descendentes. Também, cada escrito seu terminava com as saudações que ele transmitia enviadas pela esposa, a Manuela, que morreu num convento, isso eu soube, ao visitar o lugar, através de um senhor velhinho que os conheceu, sr. José Freiria.
Resolvi entrar no pequeno cemitério do lugar, não encontrei uma campa com seus nomes, mas rezei ali, em sua homenagem. Agradeci o quanto de amor à vida, eles legaram para nós todos, e nos fizeram ser o que somos hoje, pessoas que reproduzem sua luta, estejamos em Nova York ou no Rio de Janeiro.


Em determinado instante, não me contive, e na pequena capela do cemitério vazio, puxei os cordões da campana, toquei os sinos, minhas amigas ficaram apreensivas pois num lugar tão ermo, o som poderia assustar os moradores. O que ocorreu foi, na verdade, uma saudação aos meus ancestrais, que ficou gravada nos meus ouvidos, reverberando, festejando, nosso reencontro. Pude proclamar os ecos de uma descendente de Antonio e Manuela que voltou, pisou na terra que os acolheu e onde viveram, eu me senti assim, resgatando o amor deles pelas sementes que espalharam no mundo.

Saí daquele lugar com a alma apaziguada. Parecia que cumprira um papel a mim destinado. Saudei os cânticos da minha meninice, aqueles que a abuela Carmen cantava, oriundos da sua terra, passei no Jusgado, pedi a cópia da certidão de nascimento dela, que já me chegou, via correio.


Nos meus ouvidos, ainda soam os ecos dos sons galegos. Vou dar entrada no pedido de cidadania espanhola, em homenagem a eles, Antonio, Manuela, Obidio e Carmen, criaturas de bem, semeadores de amor, por quem dobram os sinos da capelinha em Rasela, e de cujas almas soam os ecos de Galícia que agora me emocionam e me impulsionam a seguir em frente.
Maria Aparecida Torneros


Contigo aprendi...

Michael Sardou

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Dinah Washington: What Difference A Day Makes



Que diferença faz um dia se não é possível ver a sombra de seus olhos na penumbra da tarde?

Seria o sonho antigo a repassar a história da vida que pulsa no rascunho do tempo, enquanto o mundo gira e a lua renasce em algum céu de qualquer continente perdido na história dos que não se esquecem do amor... Talvez nem tanto...Quem sabe apenas se deva saldar o sol dos caminhos dos viajantes ao passo que há esperanças na marcha dos que levam seus pés à frente em busca do horizonte reencontrado...Um lugar para descansar os ossos, um fim de tarde à beira do lago enquanto um coração bate emocionado vislumbrando sentimentos de aconhego...desde o nascer do dia até o cair da noite, à espreita de uma possível reconciliação com a ternura perdida, faz da alma curiosa o próprio gotejar das lágrimas cuja maior emoção é o reencontro...não há pesadelo se é possível abraçar o eterno sabor do alcançável reconhecimento de sentidos através da existência dos elos refeitos...


Que diferença faz um dia se é compreensível a doçura dos seus lábios nunca esquecidos a sorrir do vento e gargalhar das brincadeiras infantis que propiciam fugidias passagens nos níveis sensoriais a zombar das artimanhas de ciclos temporais ultrapassados? Nem se pode falar em saudade quando o amor permanece presente e vivo além do universo conhecido. Nem se deve duvidar da força que emana do divino e mítico sonho do amor eterno. Um dia , um momento, um segundo, nada é maior ou menor que a profundeza do carinho experimentado através do espírito pacificado pela serenidade plena que desvenda o mistério do tempo infinito.

Faz diferença somente para os que não crêem ou sentem o quanto é imenso o universo espetacular dos planos que ultrapassam o sentido das peles e dos olhos. Há um outro lugar para se ofertar e receber a grandeza do infindável ser vivente. O maior e melhor estará sempre por vir, e nada é mais maravilhoso que sentir além da vida, o quanto a vida é um prêmio e seu trajeto um atalho para eternos êxtases de amor...



Maria Aparecida Torneros

Bert Kaempfert: ♫ Red roses for a blue lady ♫

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Os refugiados do amor...


ARTIGO/ COMPORTAMENTO



Os refugiados do amor..


Aparecida Torneros


Um bando de refugiados formou-se nos últimos tempos, buscando emigrar dos seus próprios sentimentos. É bem verdade que tiveram ajuda humanitária do modo de vida consumista, um anestesiante de ação efetiva, que os afasta da realidade, dando-lhes uma plena sensação de satisfação extemporânea, um estado de “nem quero mais pensar nisso que me aflige” ou aquela pitada de desfaçatez própria do cinismo aparente.


Os refugiados do amor, em constantes arroubos justificativos para o seu comportamento, apregoam aos quatro ventos que não estão nem aí para suas histórias afetivas profundas e seguem vivendo pequenos enredos sem laços mais fortes. Preferem provar dos amores descartáveis, os tais encontros de “ficantes”, sem vínculos comprobatórios, do tipo “não haverá amanhã”, que, segundo eles, os deixam à vontade, descompromissados, livres para voar, no seu dia-a-dia, ou melhor nas suas noites após noites.


Nada sabem esses fugitivos do amadurecimento que paira sob os olhares antigos de gente que cultiva um grande e sólido amor. Sequer conseguem redimensionar a felicidade de um beijo repetido cujo gosto varia de sabor, por décadas, entre pessoas que aprendem a incorporar seus parceiros como se fossem ares para sua respiração e que não se vêem no mundo sem as presenças de figuras que os complementam.


Casais assim, poderiam ser chamados de “os encontrantes”, cada vez mais rareados, mais escassos no sistema produtivo capitalista, pois não os junta nem a conta bancária, tampouco a ambição pelos bens de um ou de outro. O que os une é a alegria do aconchego, a paz do lado-a-lado, o sono acompanhado, as mãozinhas dadas, os olhares para a mesma direção do arco-íris que ilumina seu caminho comum.


Quanto aos refugiados do amor, sua legião cresce com as novas gerações, especializaram-se em sobreviver de encontros superficiais, casamentos-relâmpagos, viagens rápidas pelas paixões esquecíveis, e, o que é pior, desconstruíram em si mesmos o dom de iludir, sim, o melhor dos dons, o da ilusão a dois.


Sem o sonho do dia seguinte, sem a magia do futuro feliz, sem o nirvana do amor eterno, lá se vão os peregrinos do mundo moderno, de aeroportos em aeroportos, trocando de aeronaves, voando sobre suas próprias cabeças, certos do incerto, convencidos do exercício do supérfluo, anotando em suas agendas eletrônicas os nomes que logo serão deletados, num troca-troca alucinante, confusão de bocas, olhos, cheiros, quiçá de gostos misturados.


Em algum lugar do universo, encontrarão, quem saberá, o refúgio para um exílio seguro depois de tanta fuga. E aí, será que o amor volta? Será que seus corações reaquecidos poderão renascer em paixões que os arrefeçam? Melhor imaginar que suas almas serão sábias para conduzi-los ao lugar onde a fuga cesse, o abrigo do maior amor os acolha e a eternidade os faça acordar um dentro do outro, juntos, fiéis, e para sempre. Sem mais fugirem de si mesmos!


Aparecida Torneros, jornalista e escritora, mora no Rio de Janeiro, onde edita o Blog da Mulhar Necessária



Comments


Mariana Soares on 22 novembro, 2009 at 16:05 #


Falou e disse, Cida! Só quem vive um grande, recíproco e duradouro amor – um amor de verdade, quero dizer, um amor pelo amor e nada mais, sabe o quanto de satisfação, plenitude e alegria isto pode proporcionar, principalmente a nós mulheres, cujo cultivo do sentimento é o nosso maior combustível para tocar a vida.
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Olá, CY, PAZ!


Você escreve tão bem, tão bem.

Fico orgulhoso de poder compartilhar deste convívio aqui neste espaço, com pessoa tão linda.
Sei que não venho muito aqui. Falta de tempo pode ser uma boa desculpa, e é. Na verdade não é falta de tempo e sim falta de organização do tempo.

Vez por outra me vejo envolvido em multiplas tarefas e para piorar parece tenho uma compulsão para ajuntar mais e mais tarefas àquelas as quais não consigo dar conta.


Mas não pense que te esqueço não. E nem posso. aprendo muito com teus escritos, eles me deixam meditativo e reflexivo (serão a mesma coisa?) e alguns, mais eróticos me provocam, vamos dizer, alguns arroubos de excitação (falo sério).
Sabe o que eu acho legal? Você sempre me dá a oportunidade de compartilhar momentos importantes até mesmo da sua rotina, tipo : "Oi Marcus,veja fotos de festa em tal lugar", Marcus, estarei participando de um evento em tal lugar" e assim por diante. Isso me dá uma alegria imensa. Parece até que estou aí. E acho que estou. Sabe? Tenho a certeza que estou.
Interessante é que sinto você aqui também. Estamos ligados, com certeza. E isso me faz sentir bem.
Quanto às duas categorias identificadas no seu texto: ficantes e encontrantes, pergunto eu, haverá uma escala? Melhor perguntando, poderia existir uma categoria 50% encontrante, 50% ficante? Ou 75% de um e 25% de outro? Viverei uma crise existencialista profunda enquanto você não me responder rsss. Quem sou eu, pra onde vou etc... vacilante?????
Espero que os teus mentores continuem a iluminar o teu caminho com muita paz, alegria e realização pessoal. Que o Mestre do Bem te abençoe sempre sempre.






Beijo, Marcus.



Antonio Vega







Adiós a Antonio Vega







quarta-feira, 14 de julho de 2010

terça-feira, 13 de julho de 2010

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Eliza Samudio , mulher, vítima de uma rede de proteção, socialmente rompida...

Eliza Samudio , mulher, vítima de uma rede de proteção, socialmente rompida...

Confesso que chorei. Na madrugada desta sexta-feira, depois de ter "convivido" com o caso Bruno, através do noticiário intenso a que a sociedade brasileira está sendo submetida, senti-me tão sofrida quanto qualquer ser injustiçado, vilipendiado, ofendido, violentado, agredido, física, moral, psicologicamente, como se fora uma criatura de menor porte, num mundo ainda machista, preconceituoso, atrelado a valores em que sexualidade e dinheiro caminham juntos e se complementam com barbáries, ou com imensa injustiça.

Considerando que há uma pseudo rede de proteção legal que se rompe, fragilmente, no que diz respeito à seriedade com que se deve encarar fatos que generalizam e vulgarizam as mulheres brasileiras, em tese, em universalidade, em desigualdade de condições, em desgraça ou desrespeito, em agressão ou descrédito, em condicionamento vil, estado pueril, imagem clara do absurdo número de queixas ( 270 MIL) nas delegacias de atendimento a mulheres, só no ano em curso, no Brasil, o que representou um aumento de 95 por cento em relação ao ano anterior.

Uma Senadora da República, no dia 9 de março, em discurso no Congresso, alertou e protestou para as declarações do goleiro Bruno acerca das mulheres. De que adiantou? A história seguiu seu curso de tragédia anunciada, a mulher reclamante, na época ainda grávida, teve o filho que não abortou, foi submetida a crueldade por parte de um grupo de pessoas que compactua, socialmente, para romper a cadeia legal que deveria proteger direitos e salvaguardar a vida humana, sua dignidade e sua indiscutível chance de elevar a voz e clamar por justiça.

A mulher Eliza Samudio, vítima, agora passa, como tantas outras já passaram, da condição de morta para a condição de ré, praticamente, julgada por aqueles que, infelizmente mantém o ciclo absurdo da opressão à liberdade de viver a que as mulheres não só tem direito, como vem lutando para conquistar e consolidar há mais de uma centena de anos.

A modelo Eliza, a amante Eliza, a ex-atriz pornô Eliza, a namorada Eliza, a reclamante Eliza, a grávida Eliza, a sequestrada Eliza, a massacrada Eliza, a assassinada Eliza, a mãe Eliza, mãe de um menino chamado carinhosamente por ela de "Bruninho", ironia do destino que a fez nomear o menino em homenagem a um pai biológico que, segundo o andamento das investigações, parece ter sido o próprio algoz da infeliz mãe de um filho seu.

Que circunstâncias e valores afetivos, morais, sociais, podem levar a comportamentos tão bárbaros? Conjuguem-se mundos como o do futebol, da dinheirama que por ali corre, do submundo da prostituição e da droga, da ausência de família organizada, nada disso justificaria torturar ou matar um semelhante, ainda mais alguém que em algum momento esteve em nosso abraço, ou fez parte de algum arremedo de carinho. Mas, como imaginar que encontros fortuitos, regados a intensa sensualidade estariam providos ou desprovidos de carinho? O afago humano é uma bênção para a manutenção da existência, o toque pode ser a luz para que a vida se prolongue, numa cama de hospital, o olhar compassivo é prêmio para uma alma carente, uma criança abandonada ou um ancião solitário no fundo de um asilo.

Nada disso, entretanto, é suficiente, parece, para conter uma animalidade desenfreada, quando se desprotege uma cidadã, mulher, jovem, mãe, que teria em algum momento confiado na justiça do seu país, e, cujo exame comprobatório da tentativa de fazê-la abortar, só teve seu resultado providenciado quando ela já não mais respirava, e seu filho, como uma teimosia da natureza sábia, permanece vivo para um dia aprender sobre os homens, a injustiça, seu próprio calvário, resgatar sua caminhada, crescer, viver e realizar alguns dos sonhos que Eliza deve ter tido para ele, e que não foi premiada com o direito de criar o seu bebê, ou de lutar, em termos legais pela criação do seu "Bruninho".

História triste, confesso que chorei. O respeito é o que a memória de Eliza merece agora. Respeito e cumprimento das leis. Cadeia para os seus algozes, conscientização da sociedade brasileira para uma doença que nos assola: o rompimento inaceitável da rede de prodeção para as mulhers vítimas de violência.

Cida Torneros

Eliza Samudio , mulher, vítima de uma rede de proteção, socialmente rompida...

A senadora Serys Slhessarenko (PT-MT) fez, nesta quarta-feira (8), duras críticas à atuação da Justiça no caso do desaparecimento da modelo Eliza Samudio, que teria sido sequestrada e a morta a mando do goleiro do Flamengo Bruno Souza, conforme as notícias dos últimos dias.

A parlamentar lembrou discurso que fez há poucos meses criticando declarações de Bruno, que considerou ofensivas às mulheres. Ela lamentou que a Justiça não tenha sido mais ágil no caso, pedindo a prisão do jogador no início de junho, quando se teve notícia do desaparecimento da jovem.

No dia 9 de março, em sessão solene realizada no Senado em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, a parlamentar protestou contra as declarações do goleiro Bruno no episódio da briga do atacante Adriano com sua noiva Joana Machado. Nessa briga, durante a qual Adriano deu tapas na noiva em público, Bruno questionou os repórteres com a seguinte frase: "Quem nunca tascou, saiu na mão contra uma mulher?".

- Diante dessa afirmação horrorosa, ele já mostrava ao Brasil a distorção da sua personalidade. Realmente, todas as providências têm que ser tomadas contra essas personalidades distorcidas, essas personalidades que fazem esse tipo de afirmação - obseervou Serys nesta quarta.

A senadora relembrou protesto que fez, em 29 de junho, em relação a outro episódio, o da agressão que o Vereador Lourivaldo Rodrigues de Moraes, de Pontes e Lacerda, do Mato Grosso, fez contra a repórter Márcia Pache, da TV Centro-Oeste, filiada ao SBT. A jornalista fez uma pergunta ao Parlamentar, que respondeu com um tapa no rosto da repórter.

- Ela caiu e bateu com a cabeça no chão. E eu repeti: quem bate mata - censurou Serys.

Para a parlamentar, as cenas da violência em Mato Grosso levaram à expectativa de o agressor covarde saísse algemado, indo direto para a prisão. Isso, porém, não ocorreu.

- Talvez se a agressão tivesse sido contra um repórter, um homem, o agressor não tivesse toda essa sorte. A impressão que fica, senhores e senhoras, é que certas autoridades deste País, quando se trata de agressão à mulher, somente agem quando o pior já ocorreu.

"Tragédia anunciada"

Serys procurou justificar suas críticas a uma "tragédia anunciada" explicando a queixa contra Bruno foi registrada em outubro de 2009 na Delegacia de Atendimento à Mulher de Jacarepaguá, e com o conhecimento do Ministério Público do Rio de Janeiro. Somente agora, oito meses depois, Eliza, de 25 anos, o MP denunciou o goleiro por lesão corporal, sequestro e cárcere privado.

- Precisou que o Brasil e o mundo assistissem estarrecidos aos horrores de um crime anunciado para [a Justiça] se pronunciar - disse a senadora.

Citando matéria do jornal Folha de S.Paulo, a parlamentar mencionou que a acusação resultou na abertura de inquérito, e a polícia chegou a pedir à Justiça proteção à Eliza. Entretanto, nenhuma medida foi tomada até o desaparecimento da model, no início de junho. A justificativa era que o exame do Instituto Médico Legal (IML) não estava pronto. O exame atestaria tentativa forçada de aborto, já que Eliza estava grávida, supostamente de Bruno. O goleiro, além de agredir, teria feito a ex-namorada tomar algum tipo de chá abortivo por rejeitar a criança.

- Infelizmente, este é mais um caso triste que ganha repercussão mundial, revelando o quanto precisamos avançar e o quanto precisamos refletir sobre o ocorrido. Infelizmente, esta distorção de um homem machista e reacionário, fraco emocionalmente, está muito presente, em cada canto deste País, nos diversos Brunos que existem por aí - alertou Serys.

Ação preventiva

A senadora aproveitou para cumprimentar a Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania do Distrito Federal (Sejus) que está promovendo, nesta quinta-feira, 8 de julho, uma ação conta a Violência Doméstica e Sexual. O local escolhido foi a plataforma superior da Rodoviária do Plano Piloto de Brasília, por onde passam aproximadamente 700 mil pessoas por dia.

Lá foram montadas tendas que estão oferecendo assistência social, psicológica e jurídica para a população. O objetivo, segundo a Subsecretária para Assuntos da Mulher, Marta Regina Leite, é orientar e conscientizar sobre as várias formas de violência. Disse ela: "Nós vamos distribuir folhetos e cartilhas, explicar sobre a Lei Maria da Penha e dar toda a orientação sobre quando, onde e como denunciar", reforça a Subsecretária.

O público também está sendo informado sobre os programas de atendimento a mulheres vítimas de violência e filhos até 12 anos de idade, ou adolescentes que sejam encaminhados por determinação judicial.

Íntegra do pronunciamento

"(...) nós estamos nesta luta contra a discriminação da mulher no trabalho, contra a discriminação da mulher na política, contra a violência contra a mulher, enfim, pelo engrandecimento, pela melhoria, pela participação da mulher na sociedade.

No dia 9 de março deste ano, em sessão solene realizada aqui no Senado Federal em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, protestei contra as declarações do goleiro Bruno. Fiz realmente um protesto contundente, contundente - repito. Em 9 de março fiz um protesto contra declarações do goleiro Bruno no episódio que envolveu a briga do atacante Adriano com sua noiva Joana Machado. Nessa briga em que o Adriano deu tapas na noiva em público, o jogador do Flamengo, o Bruno, disse: "Quem nunca tascou, saiu na mão contra uma mulher?" e eu disse desta tribuna: "Vocês são figuras públicas, figuras amadas pelos brasileiros e pelas brasileiras. Não podem dar esse mau exemplo de chegar em público e dizer [como o Bruno disse] que todo mundo espanca mulher. "Quem ainda não bateu numa mulher?". Diante dessa afirmação horrorosa, ele já mostrava ao Brasil a distorção da sua personalidade.

Muitos estão dizendo: "Ah, a Senadora Serys diz sempre e disse naquele dia que quem bate mata". Ontem mesmo, um Senador dizia, nesta tribuna, que eu fiz a morte anunciada. Realmente, todas as providências têm que ser tomadas contra essas personalidades distorcidas, essas personalidades que fazem esse tipo de afirmação. Eu falava exatamente dessa figura há três meses, em mmarço - março, abril, maio, junho.

Agora, dia 29 de junho, também protestei, desta tribuna, contra a agressão que o Vereador Lourivaldo Rodrigues de Moraes, de Pontes e Lacerda, no meu Estado do Mato Grosso, fez contra a repórter Márcia Pache, da TV Centro-Oeste, filiada ao SBT. Um absurdo devidamente registrado pela televisão e que ganhou manchetes em sites do mundo todo. A jornalista fez uma pergunta ao Parlamentar, que respondeu com um tapa no rosto da repórter. Ela caiu e bateu com a cabeça no chão. E eu repeti: quem bate mata.

Vendo as cenas dessa violência em Mato Grosso, o mínimo que todos esperavam era que o agressor covarde saísse algemado, indo direto para a prisão. Isso, porém, não ocorreu. Talvez, Sr. Presidente, se a agressão tivesse sido contra um repórter, um homem, o agressor não tivesse toda essa sorte.

A impressão que fica, senhores e senhoras, é que certas autoridades deste País, quando se trata de agressão à mulher, somente agem quando o pior já ocorreu.

Sem querer me precipitar em ilações, parece-me que, no caso do goleiro Bruno e dessa jovem mãe, o que ocorreu foi exatamente isto: a confirmação de uma tragédia anunciada e, o que é, tragédia devidamente registrada em delegacia e com o conhecimento do MP do Rio de Janeiro..

Só pode ser isso. Vejam que somente agora, oito meses após Eliza, essa jovem de 25 anos, ter registrado a primeira acusação contra o goleiro, o Ministério Público do Rio o denunciou por lesão corporal, sequestro e cárcere privado, ou seja, precisou que o Brasil e o mundo assistissem estarrecidos aos horrores de um crime anunciado para se pronunciar.

Essa denúncia, senhoras e senhores, se refere à queixa contra o jogador feita em outubro de 2009 por Eliza na Delegacia de Atendimento à Mulher de Jacarepaguá no Rio de Janeiro. A acusação resultou na abertura de inquérito, e a polícia chegou a pedir à Justiça proteção à Eliza, conforme revelou reportagem do jornal Folha de S.Paulo no sábado.

O absurdo é que nenhuma medida foi tomada até o desaparecimento dela no início de junho. A desculpa era que o exame do IML não estava pronto. Essas informações, Sr. Presidente, são da própria Folha de S.Paulo que reproduzo. O exame atestaria tentativa forçada de aborto, pois Eliza estava grávida supostamente de Bruno. O goleiro, além de agredir, teria feito a ex-namorada tomar algum tipo de chá abortivo por rejeitar a criança.

Agora, após constatado o crime que me parece mesmo ter ceifado a vida dessa jovem mãe ( só precisa encontrar o corpo), o Promotor de Justiça pediu a prisão preventiva do goleiro Bruno.

Notem o que justificou o Promotor para prender Bruno:

"Os elementos dos autos demonstram que o denunciado tem personalidade distorcida, sempre agindo com brutalidade e acompanhado de seguranças. Inclusive todos nós sabemos das declarações dadas pelo denunciado nos jornais, indicando que se trata de uma pessoa que não se importa em utilizar de violência física, principalmente contra mulheres".

Mas se tudo isso que afirma o MP é verdade e de conhecimento dessas autoridades, teria que ter tido ação preventiva para impedir esse ato de crueldade, esse verdadeiro filme de horror.

Faço questão, Sr. Presidente, de reproduzir o que aconteceu, de acordo com a reportagem do jornal Folha de S.Paulo, e o faço para ficar registrado nos Anais desta Casa esse caso escabroso de violência contra uma mulher.

Eis os fatos conhecidos: um adolescente de 17 anos, localizado na casa do goleiro Bruno, confirmou à polícia nesta terça-feira a morte da jovem Eliza e também deu detalhes sobre o suposto crime.

De acordo com a reportagem do Jornal Nacional, da TV Globo, o garoto disse que foi convidado por Luiz Henrique Romão, o Macarrão, amigo e funcionário de Bruno, para levar Eliza ao sítio do goleiro em Esmeraldas, Minas Gerais.

Segundo o depoimento, Macarrão já tinha planejado tudo e mandou o adolescente se esconder no porta-malas do carro Range Rover. No caminho, discutiu com Eliza, que tomou a arma que estava em sua mão e tentou atirar. A arma estava descarregada, e o adolescente acabou desferindo três coronhadas na cabeça da jovem. Hoje um exame confirmou que as manchas encontradas no carro eram do sangue de Eliza.

Eliza foi mantida no sítio e passou a ser vigiada. Segundo o garoto, Bruno foi ao sítio e permaneceu lá por duas horas, quando exigiu que seu problema fosse resolvido.

No dia seguinte, Eliza e o filho dela foram levados até um local próximo a Belo Horizonte, onde foram recebidos por um homem chamado Neném.

O adolescente disse que Neném pegou Eliza, amarrou seus braços e a sufocou. Em seguida pediu que todos deixassem o local. Mas o jovem disse ter visto o homem passar carregando um saco e jogar a mão de Eliza dentro de um canil com quatro cães da raça rottweiler. O adolescente disse que os ossos dela foram concretados no mesmo local.

Infelizmente, este é mais um caso triste que ganha repercussão mundial, revelando o quanto precisamos avançar e o quanto precisamos refletir sobre o ocorrido. Infelizmente, esta distorção de um homem machista e reacionário, fraco emocionalmente, está muito presente, em cada canto deste País, nos diversos Brunos que existem por aí.

Finalizo cumprimentando a Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania do Distrito Federal (Sejus) que está promovendo, nesta quinta-feira, 8 de julho, uma ação conta a Violência Doméstica e Sexual. O local escolhido foi a plataforma superior da Rodoviária do Plano Piloto, por onde passam aproximadamente 700 mil pessoas por dia.

Lá foram montadas tendas que estão oferecendo assistência social, psicológica e jurídica para a população. O objetivo, segundo a Subsecretária para Assuntos da Mulher, Marta Regina Leite, é orientar e conscientizar sobre as várias formas de violência. Disse ela: "Nós vamos distribuir folhetos e cartilhas, explicar sobre a Lei Maria da Penha e dar toda a orientação sobre quando, onde e como denunciar", reforça a Subsecretária.

O público também está sendo informado sobre os programas de atendimento a mulheres vítimas de violência e filhos até 12 anos de idade, ou adolescentes que sejam encaminhados por determinação judicial.

Precisamos, senhores e senhoras, dar efetividade às ações que impeçam a violência e, no futuro, não precisarmos noticiar ações tão lamentáveis como a do goleiro Bruno.

Senhores e senhoras, realmente é dramática a situação da violência contra a mulher. A gente recebe quase que diariamente inúmeros casos - inúmeros casos - que vão de assassinatos brutais a qualquer outro tipo de violência: agressão, humilhação, agressão com palavras, agressão com ferimentos, enfim, toda sorte de agressão, seja lá física ou psicológica. Agora, como conquistar essa superação é que é o grande problema.

Existe a Lei Maria da Penha, existe lei para cá, lei para lá, lei de todo jeito, mas o que nós precisamos, realmente, é mudança de atitudes, é mudança de comportamento, é mudança, realmente, de entendimento da questão de direitos humanos, porque direitos da mulher são direitos humanos. É direito a gente saber que homens e mulheres têm absolutamente os mesmos direitos em nossa sociedade, que ninguém tem o direito de agredir ninguém - ninguém! - e ficar impune.

E aí eu faço aqui, encerrando a minha fala, Senador Mozarildo Cavalcanti, e agradecendo muito, realmente, o tempo, porque me excedi um pouco, dizer quilo que repito sempre e de que precisamos nos conscientizar: é que na sociedade brasileira, e esses percentuais são mais ou menos mundiais, nós, mulheres, somos 52% da população; e os outros 48%, absolutamente todos, os companheiros, homens, são nossos filhos. Todos, Senador Mozarildo Cavalcanti, Senador Arthur Virgílio, Senador Heráclito Fortes, Senadores que estão aqui próximos de nós - absolutamente todos -, são filhos de uma mulher.

Nós temos consciência - nós, mulheres, que batalhamos pelo respeito, pela igualdade aos nossos direitos na profissão, na política, na família -, que é muito profunda essa questão. Não podemos continuar achando que se pode cometer todo ato de violência contra uma mulher dentro da nossa casa, um ato de desrespeito a uma mulher.

Quantas mulheres de cabelos brancos, através dos tempos, já sofreram pela discriminação, pela humilhação, muitas vezes pelo mandar calar a boca, como se ela não tivesse direito de se pronunciar em igualdade de condições com o seu companheiro? Quanta brutalidade as mulheres já sofreram? E o problema maior são as nossas crianças, os nossos pequeninos meninos que, crescendo nesse ambiente, vendo uma mulher ser desrespeitada, uma mulher, muitas vezes, ser espancada, uma mulher ser humilhada, vão achar que isso aí é normal; e ele, crescendo nesse ambiente, no futuro, pode agredir da mesma forma, porque é normal um homem agredir uma mulher. Se ele vê as mulheres do seu entorno sofrerem todo o tipo de agressão, vai crescer achando que pode também humilhar, que pode agredir a sua colega de escola, a sua namorada, a sua esposa, a sua mãe, a sua irmã, as mulheres do seu entorno, sempre!

Então, precisa haver uma mudança de mentalidade. E entendermos que só se muda a sociedade se realmente tivermos esse entendimento de que todos somos iguais, de que temos que nos respeitar, que nós mulheres temos que respeitar os nossos filhos. E quando digo os nossos filhos, quero dizer todos os homens, porque os 48% da sociedade, que são homens, são nossos filhos, são filhos de uma mulher, e que os homens, os nossos filhos, nos respeitem.

Nós não queremos ser mais, mas, muito menos, menos que os homens. Nós queremos apenas ser iguais."
Da Redação / Agência Senado
(Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)