Noites solitárias
Cida Torneros
maio de 2000
Quando ouço, atenta e amante,
na voz da Doris, a canção das noites solitárias,
sou tão pequena, tão falante,
envolvo-me na poeira das estrelas extraordinárias...
Vejo teus impulsos, teu desejo arfante,
sinto teus gemidos, teu corpo tremulante,
estou tão distante, parece que nem consigo
ultrapassar a cortina de fumaça que há no tempo,
de anos-luz que me aproximam de ti, e só falo comigo...
Digo, repito, reitero, me convenço, que perigo,
que sou tua, aí estou , no movimento das mãos,
no vai e vem do impulso louco, na agonia que te excita...
Solitárias noites, solitários prazeres, pensamentos fortes,
quantos espaços vazios a serem preenchidos neste universo,
e, nós, tão pequenitos, tão aflitos, buscando sortes,
de promover encontros, momentos, algum Criador perverso,
que nos explique a razão dos desencontros, dos suportes...
Suportar a ausência, redimir com solitária medida,
reencontrar a Paz, nesta tão tresloucada Vida.
Parece que os nossos caminhos se entrelaçam de repente,
e, de olhos fechados, imaginamos o prêmio, a dádiva,
mas, se os abrimos, que pena, que saudade crescente,
esses prazeres servem para atenuar a compulsão somente.
Entretanto, nisso concordamos, não tivéssemos nós esse caminho,
como prosseguir represando em nosso peito tamanho carinho???
Melhor deixar que ele transborde assim, líquido, melado, sozinho,
e nos console a alma, o coração, os sentidos e o sexo,
porque o Amor, se pensarmos melhor nele, não dever ter mesmo nexo.
É coisa de um Deus ardiloso, matreiro, brincalhão, piegas,
pois para perpetuar a espécie criou um meio com semente,
no ser humano, tão presente e ausente, que agora, num vidro,
num tubo de ensaio, se pode guardar o Amor e inseminar a Vida.
Por favor, da próxima vez, envasa o sêmen,
põe no Freezer,e assim, se eu precisar de ti, tu não me negas
a chance de passar o creme do sentimento na pele,
porque ficarei mais bonita, mais distante, mais solitária,
porque ficarei mais charmosa, mais amante, mais solidária...
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