Maracanã

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sexta-feira, 6 de junho de 2014

Sonhos Espanhóis



ARTIGO
Sonhos espanhóis
Maria Aparecida Torneros
Ao tomar conhecimento da abdicação do trono em fase de baixa popularidade do reí Juan Carlo da Espanha, voltei a um passado recente, nos años 80, em que editei um periódico mensal dirigido a colônia espanhola no Brasil.
Lamentável verificar que a trajetória da realeza protagonizada por ele e Sofía que tanto contribuiu para solidificar a transição da ditadura franquista para um período de prosperidade demicrática em solo ibérico, tenha se perdido e chegado a um declínio do porte que observamos. O novo Reí Felipe que tive oportunidade de conhecer numa solenidade em São Paulo quando ainda era um jovem príncipe a procura de sua princesa parece reunir qualidades que o qualificam ao posto, entretanto há em toda a Espanha um movimento questionador sobre a manutenção da monarquía ou a instalação de uma nova república que congregue suas províncias e reorganize a economia espanhola.
Altos índices de desemprego e mal estar na Comunidade Europeia agravam o estado de animo daquele povo calejado por guerra civil, ditadura e decadência social nos últimos tempos. Estejamos atentos aos sonhos madrilenhos e de todas as partes do país de Gaudi, Picasso,Dalí, Felipe González, Lorca, artistas,pensadores, poetas, politicos, escritores, das mulheres fortes e dos homens lutadores porque eles irão pressionar por um referéndum que permita aos cidadãos espanhois decidirem sobre o velho sonho Republicano, outrora sufocado e agora na iminência de se realizar.
Cida Torneros, jornalista e escritora de laços estreitos com a colônia espanhola no Brasil, mora no Rio de Janeiro, onde edita O Blog da Mulher Necessária.
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CIDA TORNEROS E A ESPANHA
DEPOIMENTO
Durante doze anos, entre os 80 e 90, editei um veículo de comunicação, dirigido ao imigrante espanhol radicado no Brasil. Havia a era Felipe Gonzalez, de grande chamamento socialista, consolidando a disputa ética entre a direita e a esquerda que da Espanha, resquício do franquismo, vinha em ondas, atingir os representantes aqui instalados, com seus descendentes. Naqueles tempos, lembro que vivi de clube em clube, acompanhando as datas festivas da comunidade à qual tenho orgulho de me incluir, por força do sangue da galega Carmen Doval Torneros, "la madre de mi padre". Foi com ela , naturalmente, que aprendi a admirar a cultura hispânica, e foi de quem ouvi primeiro falar sobre as agruras da tragédia que foi a guerra civil espanhola.
Tive a alegria de acompanhar, quando produzia o periódico intitulado "Jornal de España", uma caminhada consciente do povo espanhol rumo à democracia moderna, e, ao observar as reações da colônia espalhada em todo o Brasil, verifiquei seu envolvimento com a questão da nova nação. Sintonizada com a tecnologia mais moderna, que resgatou seu papel de país importante no continente europeu, despontando, definitivamente no mundo do turismo, hoje, sua fonte de renda mais visível, com um movimento que chega a triplicar sua população, a partir do fluxo de visitantes-ano, em altas temporadas.
Madrid é o centro desse sonho. Da cidade-berço da vida espanhola, disparam-se os raios de luz que vão em direção a todas as regiões históricas, industriais ou impregnadas de cultura e magia, como Andaluzia, Catalunha, Galícia, entre outras.
Em Madrid tudo parece concentrar as lendas da Espanha que produziu contingentes de emigrantes que vieram povoar e trabalhar nas Américas , nos séculos XIX e XX, para fazer a vida, tentar ganhar o pão, sobreviver, em melhores condições. A escritora Nélida Piñon, neta de galegos, publicou no livro República dos Sonhos, obra que registra a vinda de imigrantes para o Brasil, um verdadeiro manual de sentimentos ibéricos, dos corações de homens e mulheres, que , no fundo, desejavam mesmo é que seu país prosperasse e não mais fabricasse filhos que precisassem emigrar fugindo de más condições de vida.
Hoje, o lugar dos sonhos está repleto de superação. Desembarcar em Madrid, com a mala cheia de sonhos, como bem o disse, meu amigo Vitor Hugo Soares, que, ao se dirigir à Espanha, terra de Cervantes, autor da maior obra da língua hispânica, legou-nos a herança exemplar de um Don Quixote, capaz , sobretudo, de sonhar.
Aparecida Torneros
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