Mulheres puxadoras do samba no carnaval baiano...
Sendo carioca de quatro costados, sempre me perguntei, junto com Caymmi, o que é que a Baiana tem?
Mulher baiana tem axé, disso todos sabemos, basta ver e ouvir Betânia, Gal, o ano inteiro, embarcando na sua melodia dos orixás, das deusas, de Iemanjá e Iansã.
Mas a mulherada, no carnaval, dá mesmo é show, de bola ou de talento, quem passa o passe para o golaço de cada uma delas? Os homens que me perdoem, vide o guerreiro Carlinhos Brown, o mano Caetano, o adorado Preto Gil, todos tão grandiosos mas é na festa máxima dos trios elétricos que elas pegaram o cetro ( bastão ou microfone, rs) e não tem pra ninguém. O lugar delas é mesmo no pódium, no alto dos céus comandando os puladeiros, orquestrando os beijos em conjunto, fazendo o coração dos baianos ou turistas, bater com arritmia, loucamente, sob a sua batuta sinuosa.
Ivete é rainha grega ou romana, Claudia canta e dá o leite para o seu filho pequenino, Daniela encanta enquanto brinca com o povo, Margaret tem o sangue africano forte e manda ver, Carla dança, embala, rebola , requebra e até entrevista, a menina não se acalma.
Elas conquistaram um lugar ao sol, com certeza, com garra, galhardia, picardia, beleza e talento de sobra, para fazer do carnaval da Bahia, um carnaval de matriarcado, delirante, ofegante, repleto de brilhos, saiotes, tops, cílios, batons, esmaltes vermelhos, sandálias e botas prateadas, colares, brincos, anéis, cintos iluminados, peles de ninfas, corpos de sereias, cabelos ao vento e olhares brejeiríssimos. É pouco ou quer mais? Suas vozes, ai, ou seus gingados, misturem tudo e temos aí um fenômeno inigualável, elas são as "puxadoras" de samba dos desfiles em Salvador.
No Rio, a tradição é masculina, vide o grande e inesquecível Jamelão, o confiante e risonho Neguinho da Beija Flor, o Paulinho Mocidade, da Imperatriz, e tantos outros machos carnavalescos que com seus vozeirões ressoam na Sapucaí o calor do carnaval carioca, que parece ser puxado mesmo pelos donos do pedaço. Se bem que já temos há muito tempo uma carnavalesca concebendo vitórias como a Rosa Magalhães, da cinquentona Imperatriz, mas ela é quase exceção. O trono é deles, dos reis da passarela, tem o Zeca Pagodinho, o Martinho, o Arlindo, o Dudu Nobre, o bloco dos homens pede passagem e todos respeitam o samba deles. Mangueira tem a incrível Lecy Brandão, dona de tantas letras famosas. Ela brigou por seu espaço na ala dos compositores e faz bonito.
Entretanto, não há como negar, a Bahia se rendeu às mulheres que comandam seu carnaval, aguentam firme tantas horas e dias embalando a fantasia e os sonhos da nossa gente. Palmas pra elas, como diria o velho guerreiro, Chacrinha, que elas merecem! Viva o carnaval feminino que mostra o que a baiana tem, finalmente!
Aparecida Torneros Jornalista- RJ
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