Maracanã

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quinta-feira, 15 de julho de 2010

Os refugiados do amor...


ARTIGO/ COMPORTAMENTO



Os refugiados do amor..


Aparecida Torneros


Um bando de refugiados formou-se nos últimos tempos, buscando emigrar dos seus próprios sentimentos. É bem verdade que tiveram ajuda humanitária do modo de vida consumista, um anestesiante de ação efetiva, que os afasta da realidade, dando-lhes uma plena sensação de satisfação extemporânea, um estado de “nem quero mais pensar nisso que me aflige” ou aquela pitada de desfaçatez própria do cinismo aparente.


Os refugiados do amor, em constantes arroubos justificativos para o seu comportamento, apregoam aos quatro ventos que não estão nem aí para suas histórias afetivas profundas e seguem vivendo pequenos enredos sem laços mais fortes. Preferem provar dos amores descartáveis, os tais encontros de “ficantes”, sem vínculos comprobatórios, do tipo “não haverá amanhã”, que, segundo eles, os deixam à vontade, descompromissados, livres para voar, no seu dia-a-dia, ou melhor nas suas noites após noites.


Nada sabem esses fugitivos do amadurecimento que paira sob os olhares antigos de gente que cultiva um grande e sólido amor. Sequer conseguem redimensionar a felicidade de um beijo repetido cujo gosto varia de sabor, por décadas, entre pessoas que aprendem a incorporar seus parceiros como se fossem ares para sua respiração e que não se vêem no mundo sem as presenças de figuras que os complementam.


Casais assim, poderiam ser chamados de “os encontrantes”, cada vez mais rareados, mais escassos no sistema produtivo capitalista, pois não os junta nem a conta bancária, tampouco a ambição pelos bens de um ou de outro. O que os une é a alegria do aconchego, a paz do lado-a-lado, o sono acompanhado, as mãozinhas dadas, os olhares para a mesma direção do arco-íris que ilumina seu caminho comum.


Quanto aos refugiados do amor, sua legião cresce com as novas gerações, especializaram-se em sobreviver de encontros superficiais, casamentos-relâmpagos, viagens rápidas pelas paixões esquecíveis, e, o que é pior, desconstruíram em si mesmos o dom de iludir, sim, o melhor dos dons, o da ilusão a dois.


Sem o sonho do dia seguinte, sem a magia do futuro feliz, sem o nirvana do amor eterno, lá se vão os peregrinos do mundo moderno, de aeroportos em aeroportos, trocando de aeronaves, voando sobre suas próprias cabeças, certos do incerto, convencidos do exercício do supérfluo, anotando em suas agendas eletrônicas os nomes que logo serão deletados, num troca-troca alucinante, confusão de bocas, olhos, cheiros, quiçá de gostos misturados.


Em algum lugar do universo, encontrarão, quem saberá, o refúgio para um exílio seguro depois de tanta fuga. E aí, será que o amor volta? Será que seus corações reaquecidos poderão renascer em paixões que os arrefeçam? Melhor imaginar que suas almas serão sábias para conduzi-los ao lugar onde a fuga cesse, o abrigo do maior amor os acolha e a eternidade os faça acordar um dentro do outro, juntos, fiéis, e para sempre. Sem mais fugirem de si mesmos!


Aparecida Torneros, jornalista e escritora, mora no Rio de Janeiro, onde edita o Blog da Mulhar Necessária



Comments


Mariana Soares on 22 novembro, 2009 at 16:05 #


Falou e disse, Cida! Só quem vive um grande, recíproco e duradouro amor – um amor de verdade, quero dizer, um amor pelo amor e nada mais, sabe o quanto de satisfação, plenitude e alegria isto pode proporcionar, principalmente a nós mulheres, cujo cultivo do sentimento é o nosso maior combustível para tocar a vida.
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Olá, CY, PAZ!


Você escreve tão bem, tão bem.

Fico orgulhoso de poder compartilhar deste convívio aqui neste espaço, com pessoa tão linda.
Sei que não venho muito aqui. Falta de tempo pode ser uma boa desculpa, e é. Na verdade não é falta de tempo e sim falta de organização do tempo.

Vez por outra me vejo envolvido em multiplas tarefas e para piorar parece tenho uma compulsão para ajuntar mais e mais tarefas àquelas as quais não consigo dar conta.


Mas não pense que te esqueço não. E nem posso. aprendo muito com teus escritos, eles me deixam meditativo e reflexivo (serão a mesma coisa?) e alguns, mais eróticos me provocam, vamos dizer, alguns arroubos de excitação (falo sério).
Sabe o que eu acho legal? Você sempre me dá a oportunidade de compartilhar momentos importantes até mesmo da sua rotina, tipo : "Oi Marcus,veja fotos de festa em tal lugar", Marcus, estarei participando de um evento em tal lugar" e assim por diante. Isso me dá uma alegria imensa. Parece até que estou aí. E acho que estou. Sabe? Tenho a certeza que estou.
Interessante é que sinto você aqui também. Estamos ligados, com certeza. E isso me faz sentir bem.
Quanto às duas categorias identificadas no seu texto: ficantes e encontrantes, pergunto eu, haverá uma escala? Melhor perguntando, poderia existir uma categoria 50% encontrante, 50% ficante? Ou 75% de um e 25% de outro? Viverei uma crise existencialista profunda enquanto você não me responder rsss. Quem sou eu, pra onde vou etc... vacilante?????
Espero que os teus mentores continuem a iluminar o teu caminho com muita paz, alegria e realização pessoal. Que o Mestre do Bem te abençoe sempre sempre.






Beijo, Marcus.



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