A senadora Serys Slhessarenko (PT-MT) fez, nesta quarta-feira (8), duras críticas à atuação da Justiça no caso do desaparecimento da modelo Eliza Samudio, que teria sido sequestrada e a morta a mando do goleiro do Flamengo Bruno Souza, conforme as notícias dos últimos dias.
A parlamentar lembrou discurso que fez há poucos meses criticando declarações de Bruno, que considerou ofensivas às mulheres. Ela lamentou que a Justiça não tenha sido mais ágil no caso, pedindo a prisão do jogador no início de junho, quando se teve notícia do desaparecimento da jovem.
No dia 9 de março, em sessão solene realizada no Senado em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, a parlamentar protestou contra as declarações do goleiro Bruno no episódio da briga do atacante Adriano com sua noiva Joana Machado. Nessa briga, durante a qual Adriano deu tapas na noiva em público, Bruno questionou os repórteres com a seguinte frase: "Quem nunca tascou, saiu na mão contra uma mulher?".
- Diante dessa afirmação horrorosa, ele já mostrava ao Brasil a distorção da sua personalidade. Realmente, todas as providências têm que ser tomadas contra essas personalidades distorcidas, essas personalidades que fazem esse tipo de afirmação - obseervou Serys nesta quarta.
A senadora relembrou protesto que fez, em 29 de junho, em relação a outro episódio, o da agressão que o Vereador Lourivaldo Rodrigues de Moraes, de Pontes e Lacerda, do Mato Grosso, fez contra a repórter Márcia Pache, da TV Centro-Oeste, filiada ao SBT. A jornalista fez uma pergunta ao Parlamentar, que respondeu com um tapa no rosto da repórter.
- Ela caiu e bateu com a cabeça no chão. E eu repeti: quem bate mata - censurou Serys.
Para a parlamentar, as cenas da violência em Mato Grosso levaram à expectativa de o agressor covarde saísse algemado, indo direto para a prisão. Isso, porém, não ocorreu.
- Talvez se a agressão tivesse sido contra um repórter, um homem, o agressor não tivesse toda essa sorte. A impressão que fica, senhores e senhoras, é que certas autoridades deste País, quando se trata de agressão à mulher, somente agem quando o pior já ocorreu.
"Tragédia anunciada"
Serys procurou justificar suas críticas a uma "tragédia anunciada" explicando a queixa contra Bruno foi registrada em outubro de 2009 na Delegacia de Atendimento à Mulher de Jacarepaguá, e com o conhecimento do Ministério Público do Rio de Janeiro. Somente agora, oito meses depois, Eliza, de 25 anos, o MP denunciou o goleiro por lesão corporal, sequestro e cárcere privado.
- Precisou que o Brasil e o mundo assistissem estarrecidos aos horrores de um crime anunciado para [a Justiça] se pronunciar - disse a senadora.
Citando matéria do jornal Folha de S.Paulo, a parlamentar mencionou que a acusação resultou na abertura de inquérito, e a polícia chegou a pedir à Justiça proteção à Eliza. Entretanto, nenhuma medida foi tomada até o desaparecimento da model, no início de junho. A justificativa era que o exame do Instituto Médico Legal (IML) não estava pronto. O exame atestaria tentativa forçada de aborto, já que Eliza estava grávida, supostamente de Bruno. O goleiro, além de agredir, teria feito a ex-namorada tomar algum tipo de chá abortivo por rejeitar a criança.
- Infelizmente, este é mais um caso triste que ganha repercussão mundial, revelando o quanto precisamos avançar e o quanto precisamos refletir sobre o ocorrido. Infelizmente, esta distorção de um homem machista e reacionário, fraco emocionalmente, está muito presente, em cada canto deste País, nos diversos Brunos que existem por aí - alertou Serys.
Ação preventiva
A senadora aproveitou para cumprimentar a Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania do Distrito Federal (Sejus) que está promovendo, nesta quinta-feira, 8 de julho, uma ação conta a Violência Doméstica e Sexual. O local escolhido foi a plataforma superior da Rodoviária do Plano Piloto de Brasília, por onde passam aproximadamente 700 mil pessoas por dia.
Lá foram montadas tendas que estão oferecendo assistência social, psicológica e jurídica para a população. O objetivo, segundo a Subsecretária para Assuntos da Mulher, Marta Regina Leite, é orientar e conscientizar sobre as várias formas de violência. Disse ela: "Nós vamos distribuir folhetos e cartilhas, explicar sobre a Lei Maria da Penha e dar toda a orientação sobre quando, onde e como denunciar", reforça a Subsecretária.
O público também está sendo informado sobre os programas de atendimento a mulheres vítimas de violência e filhos até 12 anos de idade, ou adolescentes que sejam encaminhados por determinação judicial.
Íntegra do pronunciamento
"(...) nós estamos nesta luta contra a discriminação da mulher no trabalho, contra a discriminação da mulher na política, contra a violência contra a mulher, enfim, pelo engrandecimento, pela melhoria, pela participação da mulher na sociedade.
No dia 9 de março deste ano, em sessão solene realizada aqui no Senado Federal em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, protestei contra as declarações do goleiro Bruno. Fiz realmente um protesto contundente, contundente - repito. Em 9 de março fiz um protesto contra declarações do goleiro Bruno no episódio que envolveu a briga do atacante Adriano com sua noiva Joana Machado. Nessa briga em que o Adriano deu tapas na noiva em público, o jogador do Flamengo, o Bruno, disse: "Quem nunca tascou, saiu na mão contra uma mulher?" e eu disse desta tribuna: "Vocês são figuras públicas, figuras amadas pelos brasileiros e pelas brasileiras. Não podem dar esse mau exemplo de chegar em público e dizer [como o Bruno disse] que todo mundo espanca mulher. "Quem ainda não bateu numa mulher?". Diante dessa afirmação horrorosa, ele já mostrava ao Brasil a distorção da sua personalidade.
Muitos estão dizendo: "Ah, a Senadora Serys diz sempre e disse naquele dia que quem bate mata". Ontem mesmo, um Senador dizia, nesta tribuna, que eu fiz a morte anunciada. Realmente, todas as providências têm que ser tomadas contra essas personalidades distorcidas, essas personalidades que fazem esse tipo de afirmação. Eu falava exatamente dessa figura há três meses, em mmarço - março, abril, maio, junho.
Agora, dia 29 de junho, também protestei, desta tribuna, contra a agressão que o Vereador Lourivaldo Rodrigues de Moraes, de Pontes e Lacerda, no meu Estado do Mato Grosso, fez contra a repórter Márcia Pache, da TV Centro-Oeste, filiada ao SBT. Um absurdo devidamente registrado pela televisão e que ganhou manchetes em sites do mundo todo. A jornalista fez uma pergunta ao Parlamentar, que respondeu com um tapa no rosto da repórter. Ela caiu e bateu com a cabeça no chão. E eu repeti: quem bate mata.
Vendo as cenas dessa violência em Mato Grosso, o mínimo que todos esperavam era que o agressor covarde saísse algemado, indo direto para a prisão. Isso, porém, não ocorreu. Talvez, Sr. Presidente, se a agressão tivesse sido contra um repórter, um homem, o agressor não tivesse toda essa sorte.
A impressão que fica, senhores e senhoras, é que certas autoridades deste País, quando se trata de agressão à mulher, somente agem quando o pior já ocorreu.
Sem querer me precipitar em ilações, parece-me que, no caso do goleiro Bruno e dessa jovem mãe, o que ocorreu foi exatamente isto: a confirmação de uma tragédia anunciada e, o que é, tragédia devidamente registrada em delegacia e com o conhecimento do MP do Rio de Janeiro..
Só pode ser isso. Vejam que somente agora, oito meses após Eliza, essa jovem de 25 anos, ter registrado a primeira acusação contra o goleiro, o Ministério Público do Rio o denunciou por lesão corporal, sequestro e cárcere privado, ou seja, precisou que o Brasil e o mundo assistissem estarrecidos aos horrores de um crime anunciado para se pronunciar.
Essa denúncia, senhoras e senhores, se refere à queixa contra o jogador feita em outubro de 2009 por Eliza na Delegacia de Atendimento à Mulher de Jacarepaguá no Rio de Janeiro. A acusação resultou na abertura de inquérito, e a polícia chegou a pedir à Justiça proteção à Eliza, conforme revelou reportagem do jornal Folha de S.Paulo no sábado.
O absurdo é que nenhuma medida foi tomada até o desaparecimento dela no início de junho. A desculpa era que o exame do IML não estava pronto. Essas informações, Sr. Presidente, são da própria Folha de S.Paulo que reproduzo. O exame atestaria tentativa forçada de aborto, pois Eliza estava grávida supostamente de Bruno. O goleiro, além de agredir, teria feito a ex-namorada tomar algum tipo de chá abortivo por rejeitar a criança.
Agora, após constatado o crime que me parece mesmo ter ceifado a vida dessa jovem mãe ( só precisa encontrar o corpo), o Promotor de Justiça pediu a prisão preventiva do goleiro Bruno.
Notem o que justificou o Promotor para prender Bruno:
"Os elementos dos autos demonstram que o denunciado tem personalidade distorcida, sempre agindo com brutalidade e acompanhado de seguranças. Inclusive todos nós sabemos das declarações dadas pelo denunciado nos jornais, indicando que se trata de uma pessoa que não se importa em utilizar de violência física, principalmente contra mulheres".
Mas se tudo isso que afirma o MP é verdade e de conhecimento dessas autoridades, teria que ter tido ação preventiva para impedir esse ato de crueldade, esse verdadeiro filme de horror.
Faço questão, Sr. Presidente, de reproduzir o que aconteceu, de acordo com a reportagem do jornal Folha de S.Paulo, e o faço para ficar registrado nos Anais desta Casa esse caso escabroso de violência contra uma mulher.
Eis os fatos conhecidos: um adolescente de 17 anos, localizado na casa do goleiro Bruno, confirmou à polícia nesta terça-feira a morte da jovem Eliza e também deu detalhes sobre o suposto crime.
De acordo com a reportagem do Jornal Nacional, da TV Globo, o garoto disse que foi convidado por Luiz Henrique Romão, o Macarrão, amigo e funcionário de Bruno, para levar Eliza ao sítio do goleiro em Esmeraldas, Minas Gerais.
Segundo o depoimento, Macarrão já tinha planejado tudo e mandou o adolescente se esconder no porta-malas do carro Range Rover. No caminho, discutiu com Eliza, que tomou a arma que estava em sua mão e tentou atirar. A arma estava descarregada, e o adolescente acabou desferindo três coronhadas na cabeça da jovem. Hoje um exame confirmou que as manchas encontradas no carro eram do sangue de Eliza.
Eliza foi mantida no sítio e passou a ser vigiada. Segundo o garoto, Bruno foi ao sítio e permaneceu lá por duas horas, quando exigiu que seu problema fosse resolvido.
No dia seguinte, Eliza e o filho dela foram levados até um local próximo a Belo Horizonte, onde foram recebidos por um homem chamado Neném.
O adolescente disse que Neném pegou Eliza, amarrou seus braços e a sufocou. Em seguida pediu que todos deixassem o local. Mas o jovem disse ter visto o homem passar carregando um saco e jogar a mão de Eliza dentro de um canil com quatro cães da raça rottweiler. O adolescente disse que os ossos dela foram concretados no mesmo local.
Infelizmente, este é mais um caso triste que ganha repercussão mundial, revelando o quanto precisamos avançar e o quanto precisamos refletir sobre o ocorrido. Infelizmente, esta distorção de um homem machista e reacionário, fraco emocionalmente, está muito presente, em cada canto deste País, nos diversos Brunos que existem por aí.
Finalizo cumprimentando a Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania do Distrito Federal (Sejus) que está promovendo, nesta quinta-feira, 8 de julho, uma ação conta a Violência Doméstica e Sexual. O local escolhido foi a plataforma superior da Rodoviária do Plano Piloto, por onde passam aproximadamente 700 mil pessoas por dia.
Lá foram montadas tendas que estão oferecendo assistência social, psicológica e jurídica para a população. O objetivo, segundo a Subsecretária para Assuntos da Mulher, Marta Regina Leite, é orientar e conscientizar sobre as várias formas de violência. Disse ela: "Nós vamos distribuir folhetos e cartilhas, explicar sobre a Lei Maria da Penha e dar toda a orientação sobre quando, onde e como denunciar", reforça a Subsecretária.
O público também está sendo informado sobre os programas de atendimento a mulheres vítimas de violência e filhos até 12 anos de idade, ou adolescentes que sejam encaminhados por determinação judicial.
Precisamos, senhores e senhoras, dar efetividade às ações que impeçam a violência e, no futuro, não precisarmos noticiar ações tão lamentáveis como a do goleiro Bruno.
Senhores e senhoras, realmente é dramática a situação da violência contra a mulher. A gente recebe quase que diariamente inúmeros casos - inúmeros casos - que vão de assassinatos brutais a qualquer outro tipo de violência: agressão, humilhação, agressão com palavras, agressão com ferimentos, enfim, toda sorte de agressão, seja lá física ou psicológica. Agora, como conquistar essa superação é que é o grande problema.
Existe a Lei Maria da Penha, existe lei para cá, lei para lá, lei de todo jeito, mas o que nós precisamos, realmente, é mudança de atitudes, é mudança de comportamento, é mudança, realmente, de entendimento da questão de direitos humanos, porque direitos da mulher são direitos humanos. É direito a gente saber que homens e mulheres têm absolutamente os mesmos direitos em nossa sociedade, que ninguém tem o direito de agredir ninguém - ninguém! - e ficar impune.
E aí eu faço aqui, encerrando a minha fala, Senador Mozarildo Cavalcanti, e agradecendo muito, realmente, o tempo, porque me excedi um pouco, dizer quilo que repito sempre e de que precisamos nos conscientizar: é que na sociedade brasileira, e esses percentuais são mais ou menos mundiais, nós, mulheres, somos 52% da população; e os outros 48%, absolutamente todos, os companheiros, homens, são nossos filhos. Todos, Senador Mozarildo Cavalcanti, Senador Arthur Virgílio, Senador Heráclito Fortes, Senadores que estão aqui próximos de nós - absolutamente todos -, são filhos de uma mulher.
Nós temos consciência - nós, mulheres, que batalhamos pelo respeito, pela igualdade aos nossos direitos na profissão, na política, na família -, que é muito profunda essa questão. Não podemos continuar achando que se pode cometer todo ato de violência contra uma mulher dentro da nossa casa, um ato de desrespeito a uma mulher.
Quantas mulheres de cabelos brancos, através dos tempos, já sofreram pela discriminação, pela humilhação, muitas vezes pelo mandar calar a boca, como se ela não tivesse direito de se pronunciar em igualdade de condições com o seu companheiro? Quanta brutalidade as mulheres já sofreram? E o problema maior são as nossas crianças, os nossos pequeninos meninos que, crescendo nesse ambiente, vendo uma mulher ser desrespeitada, uma mulher, muitas vezes, ser espancada, uma mulher ser humilhada, vão achar que isso aí é normal; e ele, crescendo nesse ambiente, no futuro, pode agredir da mesma forma, porque é normal um homem agredir uma mulher. Se ele vê as mulheres do seu entorno sofrerem todo o tipo de agressão, vai crescer achando que pode também humilhar, que pode agredir a sua colega de escola, a sua namorada, a sua esposa, a sua mãe, a sua irmã, as mulheres do seu entorno, sempre!
Então, precisa haver uma mudança de mentalidade. E entendermos que só se muda a sociedade se realmente tivermos esse entendimento de que todos somos iguais, de que temos que nos respeitar, que nós mulheres temos que respeitar os nossos filhos. E quando digo os nossos filhos, quero dizer todos os homens, porque os 48% da sociedade, que são homens, são nossos filhos, são filhos de uma mulher, e que os homens, os nossos filhos, nos respeitem.
Nós não queremos ser mais, mas, muito menos, menos que os homens. Nós queremos apenas ser iguais."
Da Redação / Agência Senado
(Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)
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