Maracanã

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terça-feira, 18 de agosto de 2009

UM NOVO AMOR...


Um novo amor...


Eles nem se conheciam até pouco tempo... Talvez tivessem cruzado alguma vez, em lugar incerto. Como podiam não ter visto um ao outro, antes? Na memória de ambos, pairava a sensação enevoada de que já teriam se falado, ou será que isso acontecera nos seus sonhos? Eles se atraíram repentinamente, como coisa que surgiu do nada, e lá estão suas mãozinhas se entrelaçando pelo caminho. Coça daqui, beija dali, olha bem no fundo dos olhinhos, sorri à toa, o casal de pombinhos se mostra sob o encanto. Eles se desejam a cada momento novo. Parece arte de feiticeira do além. Juntou os dois como se junta pedras de um jogo, andam se abraçando para prolongar o efeito do calor delicioso que seus corpos emanam. Nada quebra a magia das suas falas recheadas de ternura, quando se tratam por apelidos carinhosos, e sussurram frases nos ouvidos atentos. Quando adormecem, grudam as peles, enroscam as pernas, beijam estalando os lábios cada pedacinho, lambendo o gosto um do outro. Quando acordam, constatam que ainda estão colados, respiração soprada no pequeno espaço que se abre entre suas presenças. Estas, confundidas entre os lençóis, se aconchegam na querência de não mais se afastarem um do outro, dizem baixinho, nunca, jamais. Então, se ao menor despontar do medo absurdo de se perderem, detectam a efemeridade sempre ameaçadora que se instaura nos corações apaixonados, perseguem a razão que os conforta com a certeza de que esse novo amor, finalmente, é o eterno. Prometem voltar. Juram esperar-se um ao outro, todos os dias, enquanto puderem viver. Nos seus semblantes, denunciam o brilho da paixão sem motivo certo, como também deixam entrever a luz do encontro resplandecente. Estão em estado de graça. Isso custa muito mais que uma simples explicação científica, muito mais ainda que uma compensação emocional, muito mais, indubitavelmente, que qualquer adeus acenado em aeroporto de uma cidade distante. Mesmo viajando, voando ao encontro de afazeres, eles retornam e matam as saudades, com a grandeza dos seres plenos. Eles voltam. Aprendem, todos os dias, a esperar. Sabem que o novo amor é tudo. Vão a todos os lugares carregando a lembrança dos seus momentos, até que descobrem o exato instante em que já não é mais possível desfazer o laço. Resolvem isso, de estalo, em tão pouco tempo. Ou melhor, não tiveram outra escolha. Teleguiados pelo novo amor, um dia, acordam de manhã e suas escovas de dentes ali estão: juntinhas... Como puderam viver antes, sem ter se conhecido?
Cida Torneros

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