Maracanã

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quarta-feira, 1 de julho de 2009

O SENTIDO DA VIDA E O VERBO AMAR






Como toda criatura consciente das suas limitações humanas, a inquieta Mariazinha se perguntou naquele final de dia, pela milionésima vez, qual seria o motivo pelo qual aquele homem a induzia a amar tanto e de modo tão definitivo. Justamente num dos seus muitos diálogos, quando se questionaram o que lhes ocorria, a partir de uma atração física e emocional tão incontrolável quanto a sede do líquido mais precioso, a resposta dele veio mansa e clara, simples e límpida: amar, meu bem, nunca é demais..

Mulher acostumada a análises acadêmicas, pesquisas fundamentadas em teses e conclusões postuladas em científicas razões para acontecimentos ou comportamentos estudados, Mariazinha teve que dar a mão à palmatória, pois era o sentido da vida que se fazia compreender através do amor. Não o amor pura e simplesmente humano e procriador da espécie, não tão somente o amor sensual e suas loucuras e êxtases, mas também , e sobretudo, o amor fraterno, o que nos carrega de tolerância e aceitação, o que nos faz humildes e compreensivos, mansos e hospitaleiros, capazes de oferecer aconchegos e carinhos em medidas proporcionais às necessidades de amigos, irmãos, familiares e parceiros de vida.

Mariazinha admirou seu companheiro, um homem transparente, vivido e sábio, pois ao afirmar o lado elástico inerente ao amor, ele resumiu o sentido da vida, a conjugação do verbo amar, aquele que todos nos esforçamos para exercer na plenitude visando alcançar a felicidade suprema.

Só os que amam profundamente sabem o que significa doar-se em vida e compartilhar aspirações e resignações, quiçá renúncias e flagelos, a despeito de lamúrias, sorvendo dos seus relacionamentos pessoais o puro néctar do espírito humano, aquele que se oculta sob os mantos inconscientes das defesas camufladas.

Para Mariazinha, as palavras do seu amado companheiro, que, embora estivesse ao seu lado há bem pouco tempo, já a fazia rejubilar-se de luz interior, eram extremas e fundamentais, representando palavras de sabedoria...

Quem mais do que o amor poderia ser a chave do universo equilibrado a que todos temos direito de acessar algum dia?

A enamorada do tempo, a senhora das madrugadas insones, a postulante reflexiva do amanhã, a saudosa jovem dos anos de primeiras paixões, a Mariazinha dos anos dourados, a doce sonhadora das manhãs de verões antigos, a todo o momento ela se auto-definia como aquela que na verdade se preparou para amar. Acostumou-se a amar, aprendeu a amar e exercita o dom de amar a si e aos próximos, amar alguém com quem possa dividir projetos, aliviar tensões, conviver pelos dias que lhe restarem de vida, e conjugar o verbo amar, sem limitar suas fontes, deixando que o amor jorre do fundo de sua alma, como água que nasce da terra fértil e inunda de frescor a natureza em festa.

Assim, Mariazinha se concentrou na certeza do quanto é possível aceitar que amar nunca é demais, e que sua dose aumenta de acordo com a necessidade de cada um, principalmente, para dar e nem sempre para receber. Ela desviou sua atenção do mundo pequeno e ampliou horizontes, junto do seu adorado companheiro, teceu considerações de vida adiante, viajou e ficou ao seu lado, foram juntos conjugar o verbo amar e construir nova vida, partilhando com todos a boa nova de serem assim, pessoas inteiras, com sentido na vida, dispostas a cultivarem tal felicidade de respirar os mesmos ares e de adormecerem nos abraços trocados em noites de paz e de gozo, ad eternum.

Cida Torneros

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