Maracanã

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terça-feira, 5 de maio de 2009

Salada a la Noam Chomsky, na minha vida, de novo...



Noam Chomsky, de como ele entrou e faz parte da minha vida, hoje...de novo...

Deparo-me com uma nova entrevista do velho professor de Linguística do Instituto de Tecnologia de Massachussetts, Noam Chomsky, um homem polêmico por si só, estudioso e corajoso, capaz de questionar a sede imperialista da ideologia do capitalismo norte-americano, sua postura acadêmica ultrapassou o campus universitário e, há muito, que permeia os cérebros conscientes do grande, imenso e incompreensível fosso que separa povos, nações, raças, línguas e corações humanos, em nome de um poder que explode em guerras com objetivos difusos ou com mortes baseadas em razões espúreas.

No final dos anos 70, no curso de mestrado em Comunicação, da UFRJ, eu vivia com os livros do Chomsky a me indagar sobre os seus conceitos de competência e desempenho linguístico, me embrenhando no seu teor político-sociológico de ter incitado seus alunos universitários americanos a não atender a convocação para a guerra do Vietnam. Polêmico, antenado, plugado, suas conferências e o tempo passado na prisão, legaram-nos o homem maduro que fala sobre a América Latina, com a lucidez de um dos maiores pensadores do mundo ocidental contemporâneo. Mas ele virou uma " espécie de guru do movimento anticapitalista no mundo de hoje -assim podemos caracterizar Noam Chomsky. Esse acadêmico, professor de lingüística e filosofia no Massachusetts Institute of Technology (MIT), é também um ativista político incansável em suas manifestações contra o capitalismo americano", dados presentes na sua biografia.

A família de Chomsky era de imigrantes russos. O pai, William Chomsky, foi notável estudioso da língua hebraica. Em 1945, Noam Chomsky iniciou estudos de lingüística e de filosofia na Universidade da Pensilvânia. Em 1949, casou-se com a lingüista Carol Schatz, com quem teria dois filhos. No início dos anos 1950, graças a uma bolsa de estudos, Chomsky realizou pesquisas na Harvard University. Em 1955, concluiu o doutorado na Universidade da Pensilvânia. Dois anos depois, publicou "Estruturas Sintáticas". Nele, Chomsky criou o modelo da gramática generativa, que revolucionou os estudos da linguagem.

Desde 1955, Chomsky é professor e pesquisador do MIT, onde obteve a cátedra de línguas modernas e lingüística, com atividade acadêmica e científica intensa e ininterrupta. Publicou diversos ensaios e estudos teóricos, como "Reflexões sobre a Linguagem", "Linguagem e Mente" e "A Gramática Generativa". Paralelamente à pesquisa filosófica e lingüística, tornou-se ativista político de grande popularidade não só nos EUA, mas também na Europa e no Terceiro Mundo.

A partir de 1964, começou a lutar contra o envolvimento norte-americano na Guerra do Vietnã. Em 1969, publicou "American Power and the New Mandarins", que alcançou grande repercussão. Chomsky passou a dar palestras e divulgar suas idéias políticas a platéias cada vez mais numerosas. Conquistou tanto seguidores, muitos deles no campo da mídia, quanto detratores, que consideram sua visão de mundo simplória.

Em 1978, publicou "Human Rights and Foreign Policy", outra obra de grande popularidade. Atacando a política externa norte-americana, Chomsky tornou-se uma referência nos meios políticos de esquerda. Depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, as intervenções de Chomsky viram-se ainda mais valorizadas, com a questão do terrorismo e do intervencionismo na ordem do dia.

Em recente entrevista ele nos disse: “A comunidade académica não mudou muito. O que mudou foi a opinião pública. Por exemplo, em relação à guerra do Vietname, as opiniões dos sectores mais instruídos da população e do público em geral divergiam totalmente. A posição mais crítica desses sectores com elevado grau de instrução, por exemplo, em Harvard, é que a guerra foi um erro desastroso que começou a partir de boas intenções. O público em geral não concorda. Pesquisas de opinião feitas entre 1970 e 1990 indicam que cerca de 70% creditam que a guerra não foi um erro, mas uma decisão fundamentalmente errada”.

Isso vale também para superposições e reflexões sobre a tal e famosa formação da opinião pública induzida pela linguagem dos podres poderes, dos detentores dos grandes conglomerados midiáticos, fenômeno surgido no século XX , que amplia as diferenças de oportunidades entre os humanos na terra.

Claro que ele continua a fazer parte da minha vida, toda vez que adentro uma livraria e busco um novo livro seu, ou me hiberno em leitura de textos e entrevistas suas sobretudo , quando me revejo com 20 anos e me sinto tão impotente diante dos sonhos que não se concretizaram de ver uma humanidade melhorada e justa.

Pincei esta resposta dele, sobre o Brasil, durante um Fórum Social Mundial:
- Diante desse panorama, que deveria um país como o Brasil fazer?
O Brasil é um país grande, tem muitas opções. A primeira coisa que o Brasil tem de fazer é controlar os seus ricos. Uma das diferenças entre os países em desenvolvimento do Leste asiático e os países da América Latina, é que qualquer estrato das classes ricas está bastante sob controle. O Estado é forte o suficiente não só para controlar o trabalho, mas também o capital. Assim você não tem o capital voando para Formosa ou para a Coreia do Sul. Na verdade, o Japão nem mesmo permitiu a fuga de capitais até que sua economia estivesse bem forte. Na América Latina, existe uma fuga de capitais imensa, que chega perto do volume da dívida externa. Grande parte dessa dívida poderia ser paga com esse fluxo de capitais. Outra coisa que não há no Leste asiático e que há na América Latina é um enorme défice comercial de importações de produtos supérfluos. Na América Latina há uma enorme importação de supérfluos por causa da profunda divisão das sociedades e os ricos importam produtos como Mercedes Benz. No Leste asiático isto não acontece. Lá existe uma sociedade muito mais igualitária, onde as importações são controladas com muito mais cuidado para suprir as necessidades dos países. Só esses dois factos já fazem uma grande diferença. Significa que os asiáticos não têm uma dívida nem um défice avassaladores. E há outras coisas. Como outros países, eles protegeram seus mercados, mas o fizeram com eficiência. O fizeram de forma a criar a base para a promoção das exportações. A América Latina é muito mais aberta aos mercados internacionais e muitos dos problemas são consequência desse facto. Por razões históricas e outras, o Leste Asiático não é. Esses são países, sobretudo Coreia do Sul e Formosa, que foram colónias japonesas. Os japoneses tratavam suas colónias de forma muito diferente da Europa. Eles eram brutais, mas desenvolviam suas economias. Então, essas colónias se desenvolveram tão rapidamente quanto o Japão, ou até mais rápido. O que certamente não é verdadeiro em relação aos EUA com as Filipinas, ou a Grã-Bretanha com a Índia, ou a Holanda com a Indonésia. Eles arruinaram suas economias. O Haiti era um dos países mais ricos do mundo antes dos europeus chegarem lá. O Japão desenvolveu suas colónias e criou bases para o desenvolvimento social. É claro que há todo tipo de diferenças específicas, mas elas mostram que tipo de coisas países ricos como o Brasil podem fazer."

Observo então, em atitude respeitosa e ao mesmo tempo, de ardorosa admiradora, enquanto reflito sobre suas palavras, que o mundo é mesmo uma salada chomskyana.

De tudo o que leio e releio, vou sintetizando, como sempre acontece, o que se liga ao tal "repertório", que estudamos tantas vezes, em Teoria da Comunicação. E me deixo enlevar por um final não tão feliz, porém bastante instigante, quando ele define, com propriedade, a diferença sutil entre o movimento anarquista e o pensamento libertário:

Ouçamos o Mestre:
" O pensamento libertário, vai muito bem. Ele é a fonte de muitos progressos reais. Formas de opressão e injustiça que mal eram reconhecidas, e muito menos combatidas, não são hoje mais admitidas. É uma conquista, um avanço para o conjunto dos seres humanos, não uma derrota."

Talvez seja por isso que ao voltar no tempo, pelo menos 30 anos, ainda vibro com a salada a la Noam Chomsky e devo sair por aí, protestando, mesmo que , solitariamente, através de pequenas e poucas palavras, em artigo que talvez nem interesse a tanta gente, mas que me lava a alma que ainda clama por justiça num mundo tão desigual.
Aparecida Torneros
Jornalista - Rio de Janeiro -


Um comentário:

Cidinha Lima disse...

Creio que a senhora tenha uma ótima bagagem Línguistica, ficou show suas comparaçoes, realmente Chomsky é uma pessoa admirável, seja por sua dissidencia ou pelas suas conquistas no mundo científico.Tambem me chamo Cida e estou comcluído minha graduação em Pedagogia, tambem sou apaixonada pelas ideias e pelos ideiais de Noam Chomsky, estou fazendo meu TCC sobre ele, gostaria de saber como eu faço para conseguir materiais sobre ele, principalmente sobre sua infancia ou, quem sabe, conseguir um email, blog, tel etc. que eu possa me comunicar com ele.