Eu tinha um colega de trabalho, nos anos 70, na revista O Cruzeiro, o Afrânio Brasil Soares, que adorava rememorar seus tempos de correspondente em Paris, quando morou no Quatier Latin. Ele me deixava com água na boca. Eu sonhava que um dia ia ali, caminhar pelas ruas que circundam a Sorboune, visitar o Pantheon, embrar-me no Jardin de Luxembourg e conhecer o Café du Flore.
Fiz tudo isso, duas vezes, só que nos anos 2009 e 2011.
Trago a vontade de voltar e passar temporada, uns 90 dias. Mas, a vida é complicada, a gente tem compromissos, e a grana não sobra.
O bairro ferve com seus ares estudantis, sua verve filosófica e sua vocação turistica, cada calçada, praça, avenida, traz uma história prs se contar. Impressões dd viagem. A noite envolta no frio da primavera francesa, nas duas vezes, fui em maio.
As estações de metro, as cadeiras no passeio, nos cafés tipicamente convidativos ao ócio criativo. Pensar, saborear o queijo, o croissant, o vinho, o café e observar as pessoas que passam. Um mundo inteiro que vai a Paris para se encontrar com seus sonhos, sua história e imprimir em si, um lembrança personalizada.
Um olhar atento e o amor do cinema estava ali me esperando. As canções de Piaf e Michel Sardou me sussurravam a melodia inquietante da necessidade de aconchego.
Alguém gritou Je t'aime e eu chorei porque era pra mim.
Emoções sucessivas. Sentar no banco do Jardim e pensar que estava em Paris, finalmente.
Em 2009, cheguei cedinho, viajando de trem desde Barcelona. Foi como presenciar a cidade acordando, enquanto tomava o dejejum no vagão restaurante.
Em 2011, peguei um vôo direto Rio Paris, desci no Charles de Gaulle e vi a Cidade de cima a me ofertar novamente um clima de festa e carinho.
Nas duas vezes me hospedei num pequeno hotel, o Cujas Pantheon, a 2 quadras da Universidade e uma quadra do Jardim de Luxembourg.
Não sei quando poderei retornar. Mas sei que revivo muitas impressoes que a cidade me ofereceu. Museus, passeios, restaurantes, igrejas, passeios de barco no Sena, entre tantos outros pequenos e marcantes suspiros de prazer, aquelas baquetes deliciosas com presunto e queijo, o acordeon de algum artista na esquina, o desfile dos jovens casais apaixonados e aquela aura de suave elegância dos cachecóis e boinas.
Numa tarde, voltando a pé desde a Notre Dame, senti que poderia viver por ali comomse fora uma estudante, mas, aos 60, já me limitavam os arroubos para empreendimento tardio. Não lamentei. Agradeci, isso sim. Amei em Paris, cada minuto vivido. Descobri sentidos para compreender energias confluentes entre seres distintos.
Encantei-me com o festival de bicicletas e trouxe comigo uma imensa saudade.
Deixei um pedacinho de alma por lá. Creio que todos passam por isso, de certa forma, quando vão a Paris. Especialmente no bairro latino, percebi que as voltas que a vida dá podem fazer brotar sensações da juventude quase esquecidas.
Novas gerações dão vida à Paris do seculo XXI. Mas, sua história permanece em cada telhado, prédio, monumento, e tudo se mistura , enquanto a vida corre e o amor renasce em todo coração. Porque Paris faz a gente acreditar de novo no amor, mesmo se defendendo dele ou até fugindo.
Cida Torneros
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