aqui tem música, poesia, reflexões, homenagens, lembranças, imagens, saudades, paixões, palavras,muitas palavras, e entre elas, tem cada um de vocês, junto comigo... Cida Torneros
Maracanã
sexta-feira, 28 de agosto de 2009
Alta pressão! ( texto de 2004)
Alta pressão!
Depois de um sábado sem vontade de sair para a balada, mesmo nao faltando o simpático convite de um casal amigo de irmos juntos ao Asa Branca, dançar a noite toda, eis que o domingao me pegou de jeito em plena pressão dos entraves emocionais da vida. Pilha de nervos, como diria minha avozinha, eu, madura figura, atravesso o dia todo, novamente sem desejos de me divertir. E me contraio em sentimentos menos nobres, invadida por um vazio absurdo, sem atender sequer o telefone que tocou, sabe Deus trazendo chamados de que criaturas desse mundo...
A noite do domingo caiu sobre minha cabeça junto com um medo estonteante, pois a tontura, a secura da boca, o coração disparado, todos os sintomas juntos poderiam evidenciar um possível enfarte da meia idade, ou mesmo, um mal súbito, que me surpreenderia sem companhia para me ajudar, caso caísse no chão da casa silenciosa.
Decidida, fui ao médico e enfrentei a consulta de emergência, na clínica do bairro, com um jovem médico de plantão, um geriatra... Para me consolo, era alegre e tranqüilo. Ouvindo minhas lamúrias, foi medindo logo a minha pressão. E aproveitou os instantes para falar da sua desidrose, uma espécie de erupção causada peo stress, além de me contar que trata seu cachorro com homeopatia. Fui me acalmando à medida que ele me convenceu que, apesar da minha alta pressão, tudo advem da ansiedade. Medicou-me e esperou uns dez minutos, pois precisava certificar-se de que eu estava melhorando. Indicou-me o nome de um bom psiquiatra, e me revelou que comigo, era o seu quinto paciente desta noite de domingo, acometido de pré-melancolia...
Como eu sou inteiramente leiga nesses assuntos médicos, fui indagando o que poderia causar esse estado dálma, que me tirava o equilíbrio e o sorriso. Seu olhar era benevolente, tomado de certa inquietação ao me infundir a certeza de que podia voltar pra casa e sozinha, enfrentar a madrugada longa, sem temer o colapso. Falou da fase hormonal, falou do meu ego mentiroso, que me enganava me fazendo crer que sou super-mulher, palavras dele, que nunca me vira antes, e que deduziu, ou intuiu, minha condição de guerreira solitária. Contei que na sexta, antes da crise, tinha ido assistir Diários de Motocicleta. Ele perguntou: Sozinha?
Claro que respondi sim...ele me observou mais detalhadamente. Começou a escrever uma receita. Temi que estivesse receitando: arranje companhia! Não, ele apenas me recomendou um medicamento para acalmar e conciliar o sono. Disse que , preciso me cuidar mais, trabalhar menos, me divertir mais, e tudo o mais que todo médico de plantão num domingo de noite deve dizer a todas as criaturas que chegam aos seus consultórios, com alta pressão.
Medida novamente, a tal tensão sanguínea apresentou melhora. Fui dispensada. Voltei caminhando pelas ruas vazias, acendendo um cigarro, que ele me recomendou parar obviamente. Fui lembrando das suas maos aprensentando sinais de stress, da história do seu caozinho, do seu jeito de me pedir socorro, pois tantos pacientes ansiosos, deve ser mesmo uma paulada para um jovem geriatra, nessa altura do campeonato.
Ao retornar a casa, me despi do medo de morrer sozinha. Liguei a tevê, assisti a reprise do Cidade dos Anjos e chorei quando, na última cena, o anjo principal confessa que optou por ser mortal para viver a dor de perder a sua amada, ainda que estivesse com ela uma única vez.
Maravilhosa mensagem. Ainda que meu coração explodisse, tudo teria valido a pena.
Por último, sem sono, duas horas da manhã, ainda tenho a sensação de que preciso domar a pré-melancolia, recuperando a gargalhada, que sempre foi minha marca registrada.
Vou sorrir nessa segunda-feira, buscando uma razão plausível para justificar meu apego à vida gerado no desejo infinito de buscar momentos de real felicidade.
Solto minha alma no espaço deixando que o ar do universo, se possível, penetre cada canto de mim, pressionando, isso sim, meu eterno sentido de equilibrar mente e corpo.
Uma luz se desprende do canto do meu olhar profundo. Olho o mundo com atenção.
É pequeno demais para os meus sonhos...
Cida Torneros ( 23-24/05/2004)
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2 comentários:
Que interessante, nesta mesma noite do seu ataque de melancolia eu estava na maternidade a ter um filho! :)
E sim, lembro-me bem que era madrugada de Domingo para Segunda. Entrei na maternidade às 2 horas da manhã e ele nasceu às 5.59...
Muito legal!
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