Maracanã

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sábado, 27 de setembro de 2014

Espanha no coração




Postado em 26-11-2013
Cida Torneros: O Pasodoble de Rocio Jurado, o touro negro, e a Espanha no coração
Arquivado em (Artigos) por vitor em 26-11-2013 12:21

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CRÔNICA
ESPANHA NO CORAÇÃO
Cida Torneros
Uma das conversas mais interessantes que travei em Espanha aconteceu em Barcelona, no almoço, no dia 7 de outubro de 2012. Tinha chegado àquela cidade catalã, pela segunda vez na vida. Ia ficar somente um dia e uma noite. Despedira-me , bem cedo, dos meus amigos Denise e Terry, na casa de quem passara 18 maravilhosos dias, em Sao Miguel de Salinas, Alicante. Foi na estação ferroviária antiga, por sugestão de Denise, que peguei o trem costeiro em direção à Barcelona. Uma viagem linda, inesquecível, beirando o mar, passando por Valencia, e por Chipiona.
Na viagem, que durou umas 4 horas e meia, meus pensamentos voaram, rememorando laços pessoais com a cultura espanhola. Sua comida, habitos, música, a influencia da avó galega, o período profissional em que editei um jornal dirigido aos imigrantes que vivem em várias cidades brasileiras. Perdi a conta de quantas vezes ouvi tauromaniacos torcerem contra os touros negros. Minha pena pelos animais, entretanto, nunca foi um empecilho para compreender uma febre cultural que os novos tempos se encarregariam de encerrar.
Na passada por Chipiona, meu coração se encheu de lamento, imagens recentes, de 2006, em que chorei muitas vezes, assistindo, desde a sala carioca da minha casa em Vila Isabel, a agonia, doença e falecimento da grande Maria del Rocio Jurado, a cantora que estava casada como o toureiro Ortega Cano, adorada pelo público, homenageada pelo povo, pranteada por nós, amantes do amor ao desafio da vida!
Orei por ela, sabia que seus restos mortais se encontram ali, segui a viagem me deliciando com a paisagem, precisava aproveitar meu último dia e a noite em Barcelona, onde iria dormir num hotel próximo ao aeroporto, de onde embarcaria rumo ao Brasil, bem cedinho.
Peguei um táxi, devia ser meio dia, fui direto ao bar Espanya, um tradicional pequeno restaurante, ponto de saída das vans que saem em horários pré estabelecidos para o hotel distante do centro da cidade.
Sentei para almoçar, pedi ao garçon que me servisse o prato do dia, degustei a delicia, comi um “dulce” e um cafezito, enquanto conversava com o senhor que era gentil.
Ele me disse que a condução chegaria somente às seis da tarde, que eu podia deixar a bagagem guardada ali e passear um pouco. Contei-lhe que dois anos antes, com duas amigas, estivera na cidade por uma semana e apreciara quase tudo.
Então ele me perguntou se eu visitara a antiga “plaza de touros” onde agora funciona um shopping. Eu respondi negativamente e aceitei a sugestão de ir a pé até o lugar onde por tantos anos milhares de pessoas viveram o glamour das touradas.
Foi entao que perguntei se ele gostava delas, ouvi uma resposta sincera de um homem maduro, nascido naquela cultura, que enfim, me emocionou.
Ele se declarou dividido. Falou que sua emoção desde menino o fazia torcer pelos toureiros, mas que sua razão, de homem consciente, o induzia a aceitar a proibição da prática medieval.
Bem, disfarcei meu derretido estado de saudosa criatura que ama o clima taurino também, mas que, como ele, entende que não se pode ter prazer com tortura de animais tão bravos, valentes, sacrificados.
Fui ao shopping, na ex praça de touradas, passeei, subi ao topo, fotografei, fiz compras numa loja oficial do Barça, time de futebol, imaginei como teriam sido as tardes festivas de corridas de touros, dezenas de anos atrás, por ali, onde a vida seguia em novo curso.
Ao voltar, parei para lanchar num bar de esquina, o ar catalão me impregnava de sonhos, pedi a alguém que me fotografasse, meu coraçãozinho inundou-se de saudade do canto de Rocio, ela tinha enfrentado o touro negro da morte, com galhardia, tendo ao lado o amor do seu toureiro.
Caminhei, refletindo que, agora, ela vive e canta o pasodoble encantando cada alma como a minha, apaixonada por histórias, dividida como a do velho garçon do Bar Espanya, ente a emoção intensa e a razão passageira, imprevisível e fascinante, como o amor, a dor e a vida.
Maria Aparecida Torneros, jornalista e escritora, mora no Rio de Janeiro, edita o Blog da Mulher Necessária, onde o texto foi originalmente publicado.
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Comentários

Cida Torneros on 10 janeiro, 2014 at 23:12 #
Viva el pasodoble, siempre!

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