Por que não consigo namorar?
Seg, 07 Jun, 08h29
Por Isis Nóbile Diniz, da redação Yahoo! Brasil
Vale recorrer a tudo quanto é simpatia. A Santo Antônio mergulhado de cabeça dentro de copo de água. A escrever seu próprio nome com caneta vermelha na barra do vestido da amiga quando ela sair para namorar e depois ir para a balada com a peça. Até a antiga, mas dizem que não menos infalível, amarrar o nome do pretendente na boca do sapo. Tudo no desespero para conseguir um namorado ou namorada. Quando nada disso dá certo, nem o pensamento positivo, surge a dúvida angustiada: por que eu não consigo namorar?
A arquiteta Carolina*, 31 anos, é bonita, bem sucedida profissionalmente e extrovertida. Sai sempre com os amigos - que não são poucos - e convive muito bem com a família. Ela namorou sério apenas uma vez, há oito anos. Não é de ficar com qualquer pessoa e gosta de se envolver com homens por quem sente atração. Carolina diz estar aberta para namorar, mas não consegue. "Têm muita mulher solteira por aí e, além disso, os homens estão amadurecendo mais tarde. Os da minha idade não estão coniventes com uma cabeça de 30 anos", analisa a arquiteta. A frase que ela mais ouve, tanto dos "pretês" quanto dos amigos falando para as interessadas neles, é: "Estou curtindo, não quero nada sério".
Boicote
Muitas atitudes podem afastar um possível amor. Mas, de acordo com especialistas, todas possuem algo em comum: o auto boicote. Na maioria das vezes inconscientemente, as pessoas têm medo de sofrer, do rompimento ou até mesmo de experimentar o afeto. Segundo a psicóloga Jacy Bastos Torres Lima, especialista em relacionamentos e coordenadora do Grupo para Orientação para Descasados (Godes), em São Paulo, assim, sem perceber, transferem esse temor para suas atitudes. "Um exemplo comum é a busca pelo príncipe encantado. A pessoa não fica com qualquer um na espera dele aparecer. Só que ele não existe", explica Jacy. "Por trás disso, pode estar o medo e a insegurança de se relacionar", completa.
Carolina, a arquiteta que não arruma um namorado, confessa que possui personalidade forte e é um pouquinho exigente: "Além daquelas características mínimas como ser trabalhador, sincero e companheiro, gosto de homem inteligente, com raciocínio rápido. Quanto ao físico, presto atenção na boca". Ainda lembra que não é de dar fora. "Porque deixo claro quando não estou afim da pessoa. Não dou abertura para me pedir em namoro se está óbvio que não quero", afirma. Para Jacy, as pessoas exigentes ou fechadas - este pode ser o caso da Carolina - devem avaliar o porquê dessa atitude. "Pode ser medo de sofrer", conta.
Experiências desastrosas
Alexadre Bez, psicólogo especializado em relacionamento pela Universidade de Miami, Estados Unidos, e Membro da Associação Psicológica Americana (APA), revela que muitas pessoas tentam entrar em relacionamentos sem perceber que estão traumatizadas. "Elas têm receio de envolvimento emocional porque já sofreram no passado, mas nem se dão conta", afirma. Para ele, um exemplo típico de equívoco é o ditado popular "os opostos se atraem". "Nada disso. Em algum momento essa pessoa ficou traumatizada com alguém que tem tudo a ver com ela e buscou um oposto daquilo", conta Bez. O trauma não é, necessariamente, derivado de uma relação a dois. Pode ter sido causado por experiências desagradáveis em família.
Outro caso que pode representar boicote em forma de autodefesa é sempre se relacionar com pessoas que provavelmente não vão se envolver. "Tem gente, por exemplo, que só gosta do famoso 'malandro'", afirma Bez. "No fundo, a pessoa sabe que ele não vai assumir, mas se engana, cria uma ilusão de que pode ficar com ele", completa Bez. "Se as escolhas são sempre desastrosas, a pessoa deve repensar quem ela deixa se aproximar da vida dela", Jacy dá a dica.
Esse é o caso de Luísa*. A publicitária de 29 anos até consegue engatar um namoro. Só que não passa do primeiro mês. Ela assume que é insegura e que faz questão de demonstrar o quanto está afim da pessoa. Tanto, que passa do limite. E, quando os caras estão completamente apaixonados por Luísa, é ela quem desiste da relação. "Tem gente que, quando possui mais intimidade com alguém, se sente tão livre que transfere para o outro questões emocionais mal resolvidas em outras situações", explica Jacy. A pessoa no começo do namoro é uma, depois vira outra. "Tudo bem que o outro tem que aceitar você do jeito que é, mas todos devem ter autocrítica, perceber quando transfere para o outro uma maior cobrança, por exemplo", afirma a psicóloga.
Desse modo, é preciso ter consciência de quem você deixa se aproximar da sua vida e como se relaciona com os pretendentes. "Tem gente que não tem critério, que é como um vira-lata. Basta fazer carinho para se dar todo", afirma Jacy. Os psicólogos ressaltam que todos devem limpar as migalhas - rolos mal resolvidos, não se envolver com pessoas já compromissadas - e focar no que quer. Se permitir conhecer as pessoas, mas sem se entregar totalmente. "Entrar de cabeça em uma relação pode causar uma frustração muito grande", conta Bez. Também não depositar no outro - seja pretê ou namorado - a felicidade da vida. "Nunca gravite em cima de uma pessoa. Sua vida é muito mais que isso. São os amigos, as baladas, a academia, o trabalho, o curso", diz Jacy. O importante é curtir até que, quando menos esperar, o amor estará ao seu lado.
* Os nomes foram trocados a pedido das entrevistadas.
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