Maracanã

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quinta-feira, 27 de março de 2014

Mulheres, mulheres, mulheres...( crônica que abre o livro A mulher necessária)



Mulheres, mulheres, mulheres...


Um amigo me disse que gostaria de ter todas as mulheres do mundo. Tentei compreender. Um sonho masculino de possessividade ou um desejo consumista ou até um impulso incontrolável, pensei. Mas, sabendo que é um homem maduro, quarentão, concluí, talvez precipitadamente, que é uma atitude adolescente, de buscar , conquistar, obter, caçar, ou seria um atributo biológico do macho procriador a tentar garantir a prole, perpetuar a espécie, ainda que inconscientemente?

Mulheres, somos de tantas espécies, e acabamos metidas num mesmo caldeirão cultural, submetidas em histórias de machismo e opressão, mas não é verdade que isso nos aconteça a todas. Há as modernas, avançadas nos séculos, independentes financeiramente e com emoções racionalizadas. As que aprenderam a comportar-se como eles, e também querem ter todos os homens do mundo. Como os predadores, elas conquistam e abandonam, escolhem, usam e largam no meio do caminho os tais homens que ainda pensam que todas são iguais.

Mulheres, somos de tantas origens, e entrelaçadas em costumes ou medievais ou estritamente sensuais, ultrapassando as barreiras das religiões ou códigos de costumes. As que se libertaram dos próprios medos e perseguiram o sucesso profissional, que abriram mão da maternidade, que dispensaram o casamento.

Mulheres, somos de tantas loucuras e tantos amores, de tantos ideais e de tantos preconceitos, somos tão diferentes, e no entanto, nos parecemos tão iguais, aos olhos dos homens desavisados.
Um homem que deseja ter todas as mulheres do mundo, as têm no sonho, evidentemente, e nem sempre as consegue ter, nem uma parcela delas, de verdade. Porque se as conseguem atrair para a cama, nem sempre levam junto suas almas, e na maioria das vezes, conhecem seus corpos e sexualidade. Mulheres enganam demais os homens, fingem se submeter enquanto dominam, dissimulam desproteção ao passo que se garantem na sobrevivência e ainda, lhes somam as estatísticas, com um tempo de vida média mais extensa que a dos homens, que parecem cuidar-se menos fisicamente ou desgastarem-se mais rapidamente.

Mulheres, somos de tanta viuvez, de tantos abandonos, de tantas solidões, mas somos um bando que atravessa o tempo, e carregamos tal mistério de bruxas, ou no coração, ou no entre-pernas, ou nos olhos, nas bocas e nos braços, que nem mensuramos o quanto somos diversas e tão parecidas, sejamos jovens ou senhoras, gordas ou magricelas, altas ou baixotinhas, há em nós uma aura de impressionante expressão.

Meu amigo tem razão. É preciso desejar todas e tentar ter algumas, talvez conseguir uma em profundidade, para perder-se dentro dela, e conhecer uma de nós, verdadeiramente.






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