Em 2002, uma grande amiga me induziu a assistir um filme que marcou um momento ímpar da nossa vida: "Pão e Tulipas", do italiano Silvio Soldini, com os atores Licia Maglietta e Bruno Ganz, nos papéis principais. A crítca da época, no jornal Estado de São Paulo, apontava "um filme gentil sobre a chance que todos têm de mudar de vida". No resumo incluso na edição em DVD, lê-se que "tudo poderia ser apenas um pequeno incidente de férias, daqueles que se pode rir depois, porém o fato do ônibus de excursão partir sem Rosalba, e nem mesmo o marido e dois filhos sentirem sua falta no grupo, torna-se subitamente, uma porta aberta para a fantástica virada de vida."
Pois o filme, visto e revisto por nós, muitas vezes, nos inspirou e criamos a Confraria das Rosalbas. Tivemos um dia especial, o 8 de março, quando reunimos um expressivo grupo de mulheres, no cinema do Palácio do Catete, no Rio, com direito a chamada pela televisão, notinhas em jornais, e debate sobre o tema do filme. Era 2002, nos mobilizamos em seguida e meses depois organizamos uma reunião num hotel em Copacabana, quando tivemos uma palestra sobre biodanza e homenageamos Dedé, uma senhorinha de mais de 80, que começou a ser maratonista aos 55, quando se aposentou da polícia federal e descobriu que podia mudar de vida. Seu depoimento mostrou que as corridas a levaram a correr em lugares onde nunca tinha imaginado que pisaria um dia, Europa, América do Norte, e até países da África passaram a fazer parte dos roteiros de suas participações em corridas internacionais e medalhas colecionadas.
O filme, ambientado em Veneza, fala de liberdade e auto-conhecimento, com delicadeza e proposta de renovação de vida.
Onde entram as tulipas? Exatamente na arrumação delicada da mesa de café, no pão de cada dia, aquele alimento básico, quando a personagem protagonista se hospeda na casa de um garçom e trabalha numa floricultura, enquanto sua família a aguarda para que retorne das "férias" repentinas que tirou, da vida cotidiana e sufocante que levava.
A Confraria das Rosalbas não prosseguiu seu caminho como instituição, ainda somos amigas, algumas vezes lembramos daquele momento, único, e, certamente, uma sementinha germinou-se no grupo, todas seguem suas vidas, com mudanças naturais que a maturidade impõe, mas compreedendo que há que enfeitar o caminho com flores, tulipas especialmente.
Agora, acabo de receber correspondência de uma floricultura paulista sugerindo tulipas para presentear amigos e amores.
O fato é que, até hoje, eu e muitas companheiras trocamos presentinhos com motivos "tulipanos", a figura destas flores se tornou símbolo de vida renovada para nosso grupo.
Essa imagem me faz rememorar as tulipas da Confraria, quando relembro o exato instante em que cada mulher se descobre "livre" para viver sua própria vida, em que se desabrocha dentro de cada uma de nós a certeza de que há muitas viagens a desfrutar, lugares a conhecer, comidas diferentes a saborear, pessoas novas para interagir e, principalmente, faces interiores que se mantinham escondidas e que nos é dada a chance de revelar e nos permitir surpreender, como fez Rosalba, na sua linda história!
Cida Torneros
FILME INSPIRA A CRIAÇÃO DA CONFRARIA DAS ROSALBAS
O filme italiano "Pão e Tulipas" causou tanto impacto na vida de duas amigas cariocas que elas resolveram montar uma confraria. A professora universitária Aparecida Torneros e a arquiteta e fotógrafa Vera Voto, inspiradas na personagem central do filme, Rosalba (Licia Maglietta), fundaram em 8 de março, Dia Internacional da Mulher, a Confraria das Rosalbas. Cerca de 70 mulheres compareceram ao lançamento. As amigas se organizam agora para fazer a primeira reunião do grupo.
Valor Econômico, 10/04/2002.
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