Maracanã

Maracanã

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Oito mulheres, filme francês de 2002...hora de ser lembrado...



FELIZ E MUSICAL COMO NOS ANOS 50


Por LUCIANO TRIGO


12/07/2002



Oito Mulheres é como um romance de Agatha Christie adaptado por Walt Disney: leve, intrigante e saboroso. O jovem cineasta (34 anos, cinco longas-metragens) François Ozon, que já tinha dado uma prova de seu talento com Sob a Areia, realiza aqui a proeza de reunir um elenco estelar, que reúne várias gerações do cinema francês (e que ganhou, pelo desempenho conjunto, o Urso de Prata em Berlim este ano) numa comédia musical cativante, que presta uma homenagem ao cinema hollywoodiano dos anos 50 e fez mais de quatro milhões de espectadores na França. Administrar tantos egos sem deixar transparecer na tela qualquer guerra de vaidades não deve ter sido fácil.


O filme é baseado numa peça teatral de Robert Thomas que fez sucesso nos anos 70. Danielle Darrieux, Catherine Deneuve, Fanny Ardant, Isabelle Huppert, Emanuelle Béart, Virginie Ledoyen, Ludivine Sagnier e Firmine Richard são as oito mulheres presas pela neve numa casa de campo, incomunicáveis com o exterior e às voltas com o corpo apunhalado do chefe da família. Ao lado do jogo de suspeitas e especulações em que Ozon envolve o espectador - cada uma delas teria seus motivos para o assassinato - o filme, sem pretender em momento algum tornar-se sério ou edificante, aborda sutilmente temas como a fragilidade dos laços afetivos, a relatividade dos valores sociais, a permanência da luta de classes, o poder do dinheiro e as estratégias do erotismo.


À medida que segredos inusitados vêm à tona, cada atriz tem direito a seus 15 minutos de holofote e a uma coreografia, perfeitamente integrada à narrativa. Além de produzirem um efeito de distanciamento no tempo, os números musicais contribuem para revelar a vida interior de cada personagem, pela delicada interpretação e pela escolha das canções (ver a lista no fim da crítica). Para os fãs de Catherine Deneuve e Fanny Ardant, a cena em que as duas se atracam no tapete, passando da agressividade à atração erótica, é antológica, impecável até no jogo de cores dos vestidos (Pasqualine Chavanne assina os figurinos, inspirado nas coleções de Dior e nos filmes americanos do pós-guerra) e do cenário. Vale lembrar que la Deneuve já tinha protagonizado outro momento lesbian chic memorável, com Susan Sarandon, em Fome de Viver.


Talvez involuntariamente, Oito Mulheres sugere ainda uma reflexão algo cruel e melancólica sobre a fugacidade do doce pássaro que é a juventude. Se fosse possível, por uma mágica, reunir todas as atrizes no auge de sua forma, possivelmente Emanuelle Béart, no papel da sensual empregada Louise, seria esmagada pelo poder de Deneuve ou de Fanny Ardant. E no entanto é Emanuelle, embora não chegue aos pés do carisma das duas, quem monopoliza os olhares lascivos do espectador. O tempo é um inimigo que espreita todas as mulheres bonitas, mesmo as estrelas.

Apesar de falar sobre a falsidade, Oito Mulheres é um filme feliz. Não exatamente por ser uma comédia, mas por se tratar de uma comédia como as que se faziam nos anos 50, quando ainda se acreditava que, por cruel e trágica que seja a verdade, as máscaras da vilania sempre acabam caindo, revelando os verdadeiros semblantes das pessoas e o mal que se esconde por trás de seus corações.


Para os amantes da música francesa, segue a relação das canções - todas receberam arranjos musicais dos anos 50 - e suas intérpretes:


Ludivine Sagnier (Catherine) canta Papa t'Est Plus Dans l'Coup de Sheila;


Isabelle Huppert (Augustine) canta Message Personnel de Françoise Hardy;


Fanny Ardant (Pierrete) canta A Quoi Sert de Vivre Libre de Nicoletta;


Virginie Ledoyen (Luzon) canta Mon Amour, Mon Ami de Marie Laforêt;


Firmine Richard (Madame Chanel) canta Pour Ne Pas Vivre Seule de Dalida;


Emmanuelle Béart (Louise) canta Pile Ou Face de Corinne Charby;


Catherine Deneuve (Gaby) canta Toi Jamais de Sylvie Vartan;


Danielle Darrieux (Mamy) canta Il n'y a pas d'Amour Heureux de Georges Brassens.

Nenhum comentário: