Maracanã

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quarta-feira, 5 de maio de 2010

Mulheres-mães

Semana de mulheres-mães. Será que todas, mães biológicas  ou não,  já nascem com o gen especial da tal maternidade?

Sempre achei que tem mãe de verdade, de brincadeira, de mentira, de coração, de hora do recreio, de cama de hospital, de carteira da escola, de fila do cinema, de beira de estrada, de cama vazia, de peito aberto, de peito farto, de peito seco, de sonho incompleto, de sonho desfeito, de sonho realizado, de sorte na vida, de perda e superação, de saudade e  história, tem até mãe de guerra sem paz e de praça de maio, ou melhor, tem avó, tem mãe duas, três vezes, se precisar, tem mãe multiplicada, multifacetada, aquela capaz de aparecer na  imaginação do menino abandonado na rua, ou na mente da criança que vive no abrigo mas que nunca esqueceu do seu cheiro antigo.

Mãe tem enredo e tem memória, no coração de qualquer um, e tem muita mãe na porta do presídio para levar comidinha gostosa na visita de domingo. Não importa o erro de um filho ou filha, o que fica é o instinto de  proteção, esse vale uma vida inteira, e mãe de sangue  ou de criação, de  barriga  ou de afinidade, carrega a bravura de defender a cria, tem mãe que morre se  ponto na frente da bala dirigida ao rebento. Algumas se lançam no mundo pra ganhar dinheiro, sustentar, dar o  pão e a casa, prover a família, nem sobra tempo pra elas mesmas. Mas tem as que nem conseguem viver o sacrifício e doam seus bebês, com a certeza de que serão melhor cuidados  por outras mães e pais. Essas, naturalmente sofrem  a vida toda, nos instantes de auto-resignação e se consolam com a lembrança de algum    pequeno instante em que suas  crianças estiveram nos seus braços ou sugando seus seios.

Vida bandida, vida perdida, vida dura e traiçoeira, quando afasta mães e filhos,  por necessidade, por maldade, por guerra, por viagem,  por doença, por morte,  por tanto senão, e tanta razão que  nem tem  porquê. 

Mulher-mãe é  toda  mulher, mesmo sem ter  tido filhos, tem sempre crianças que cruzam seu caminho e  pedem colo. Um bebê pode ser até um homem de 40 anos, quando ele deita e pede  chamego,  freudianamente querendo colo de mãe, já crescido e criado, precisando crescer depois de  crescido...

Histórias de mães são todas  sentimentais, quase sempre. Mas tem as de finais felizes e bons resultados de criação dedicada,  assim como há os  relatos de superação pra tantas asperezas do mundo cruel, e  lá se vê a figurinha de alguma delas, as tais mães postiças  ou reais, as que tem palavras  doces  nas horinhas certas, e que  emitem conselhos ásperos nas  vezes necessárias. Elas esbanjam carinho e força, e escondem fraqueza e medo, dentro da geladeira, no fundo das  suas cozinhas, ou na  beira dos tanques, ou debaixo dos chuveiros, lá estão as taizinhas, se permitindo chorar, nunca na frente dos filhotes que precisam amadurecer,  apesar de tudo.

Mães  são mulheres  especiais, aliás, as mulheres  é que se fazem mães em ocasiões especiais. Mães que são médicas e adotam pacientes em leitos de  hospitais, num pacto sigiloso. Mães que são garotas de programa e embalam marmanjos chorões em segredos que ficarão guardados pro resto da vida. Mães que são professoras  confessoras que ouvem os conflitos de  alunos  sem rumo. Mães que são policiais encarregadas de corrigir detentas, mães que são psicólogas, jornalistas, costureiras, manicures, cabeleireiras, taxistas, e  no seu ofício diário, têm sempre uma  palavra amiga,  um  ouvido atento, um  jeito maternal de acolher súplicas e lamúrias ou dividir alegrias e  contentamentos.

Mulheres  se confundem enquanto mães ou criaturas  predestinadas a abraçar  carinhosamente qualquer um de nós. Seus  olhares são tão especiais  e  suas presenças tão ansiadas. Mãe  é mãe,  claro, ela sobrevive intensa e  internamente em cada fêmea  de qualquer  idade, em cada  cultura, ao seu modo, com peculiar  desempenho e eterna  doação de vida.

                                                                          Cida Torneros

     

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