Semana de mulheres-mães. Será que todas, mães biológicas ou não, já nascem com o gen especial da tal maternidade?
Sempre achei que tem mãe de verdade, de brincadeira, de mentira, de coração, de hora do recreio, de cama de hospital, de carteira da escola, de fila do cinema, de beira de estrada, de cama vazia, de peito aberto, de peito farto, de peito seco, de sonho incompleto, de sonho desfeito, de sonho realizado, de sorte na vida, de perda e superação, de saudade e história, tem até mãe de guerra sem paz e de praça de maio, ou melhor, tem avó, tem mãe duas, três vezes, se precisar, tem mãe multiplicada, multifacetada, aquela capaz de aparecer na imaginação do menino abandonado na rua, ou na mente da criança que vive no abrigo mas que nunca esqueceu do seu cheiro antigo.
Mãe tem enredo e tem memória, no coração de qualquer um, e tem muita mãe na porta do presídio para levar comidinha gostosa na visita de domingo. Não importa o erro de um filho ou filha, o que fica é o instinto de proteção, esse vale uma vida inteira, e mãe de sangue ou de criação, de barriga ou de afinidade, carrega a bravura de defender a cria, tem mãe que morre se ponto na frente da bala dirigida ao rebento. Algumas se lançam no mundo pra ganhar dinheiro, sustentar, dar o pão e a casa, prover a família, nem sobra tempo pra elas mesmas. Mas tem as que nem conseguem viver o sacrifício e doam seus bebês, com a certeza de que serão melhor cuidados por outras mães e pais. Essas, naturalmente sofrem a vida toda, nos instantes de auto-resignação e se consolam com a lembrança de algum pequeno instante em que suas crianças estiveram nos seus braços ou sugando seus seios.
Vida bandida, vida perdida, vida dura e traiçoeira, quando afasta mães e filhos, por necessidade, por maldade, por guerra, por viagem, por doença, por morte, por tanto senão, e tanta razão que nem tem porquê.
Mulher-mãe é toda mulher, mesmo sem ter tido filhos, tem sempre crianças que cruzam seu caminho e pedem colo. Um bebê pode ser até um homem de 40 anos, quando ele deita e pede chamego, freudianamente querendo colo de mãe, já crescido e criado, precisando crescer depois de crescido...
Histórias de mães são todas sentimentais, quase sempre. Mas tem as de finais felizes e bons resultados de criação dedicada, assim como há os relatos de superação pra tantas asperezas do mundo cruel, e lá se vê a figurinha de alguma delas, as tais mães postiças ou reais, as que tem palavras doces nas horinhas certas, e que emitem conselhos ásperos nas vezes necessárias. Elas esbanjam carinho e força, e escondem fraqueza e medo, dentro da geladeira, no fundo das suas cozinhas, ou na beira dos tanques, ou debaixo dos chuveiros, lá estão as taizinhas, se permitindo chorar, nunca na frente dos filhotes que precisam amadurecer, apesar de tudo.
Mães são mulheres especiais, aliás, as mulheres é que se fazem mães em ocasiões especiais. Mães que são médicas e adotam pacientes em leitos de hospitais, num pacto sigiloso. Mães que são garotas de programa e embalam marmanjos chorões em segredos que ficarão guardados pro resto da vida. Mães que são professoras confessoras que ouvem os conflitos de alunos sem rumo. Mães que são policiais encarregadas de corrigir detentas, mães que são psicólogas, jornalistas, costureiras, manicures, cabeleireiras, taxistas, e no seu ofício diário, têm sempre uma palavra amiga, um ouvido atento, um jeito maternal de acolher súplicas e lamúrias ou dividir alegrias e contentamentos.
Mulheres se confundem enquanto mães ou criaturas predestinadas a abraçar carinhosamente qualquer um de nós. Seus olhares são tão especiais e suas presenças tão ansiadas. Mãe é mãe, claro, ela sobrevive intensa e internamente em cada fêmea de qualquer idade, em cada cultura, ao seu modo, com peculiar desempenho e eterna doação de vida.
Cida Torneros
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