Maracanã

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sábado, 10 de abril de 2010

Chove Chuva (lá fora, mas aqui dentro, meu coração está deserto)




Chove chuva  lá fora, mas aqui dentro, meu coração está deserto.

Um chuva que não   quer parar inunda de tragédia tantos lares brasileiros. As explicações se desdobram, como cachoeiras de palavras inconsistentes, diante da dor que as perdas de vidas soterradas sob os olhos incrédulos de governantes e governados. População à mercê de eleições e reeleições, gente humilde à procura de amigos e parentes, filhos sem pais, mães sem rebentos, famílias esfaceladas, desabrigados à cata de um teto, mãos amigas extendendo solidariedade, um povo se unindo como pode frente ao desmando  de décadas, talvez não, nem sei avaliar direito sob o impacto da emoção que desertifica meu coração.

Nada parece florescer no meu  peito. Nem a esperança, porque o filme me parece tão repetido, a cada verão e suas consequentes cheias, a cada ocupação desordenada e seus riscos iminentes, a todo instante é possível prever catástrofes naturais devastando habitações morros abaixo, a  qualquer momento, dia desses, quando o solo se encharcar demasiado,  ou quando a humana presença se fizer de forma irresponsável ou em caráter de tornar a vida provisória e descartável.

Por favor, chuva ruim, não molhe mais o meu amor assim. Os versos do Jorge Ben Jor, tão antigos e atuais, na voz da  inesquecível Mirian Makeba, aquela africana que ao  passar pela terra, emergiu da África para nos despertar sobre a irmandade entre povos e culturas de um terceiro mundo aquinhoado com a sede dos colonizadores sobre suas riquezas, atropelando seus nativos, subjugando suas gentes, resultando nisso, em gente quase sub...

Em meio à tempestade de sofrimentos, no Jornal Nacional desponta um anjo chamado Laura Beatriz, pelas mãos da apresentadora Fátima Bernardes, nos dando lição de dignidade e sobrevivência no morro do Bumba em Niterói. A   pequena estrela com voz de mestra e olhar de luz fala da sua própria vida, que terá que seguir. Emociono-me, como milhões que acompanharam sua entrevista.

Mesmo assim, a chuva insiste em cair sobre nossas cabeças, e  uma secura sem igual toma conta dos meus sentimentos. Envio donativos, através de uma vizinha,  para os desabrigados, recolho o que posso, mando meu carinho e meu cheiro em roupas quentes, mantas, casacos, pequenos  pedaços de mim que desejo  possam aquecer alguém, em algum momento desta fria temporada de águas turvas.

A chuva que chove  é a mesma que renova a terra, que faz renascer  os  rios, que completa o ciclo  hidrológico, enquanto bichinhos denominados seres huamanos, desde a ancestralidade, ainda aprendem como conviver sobre a crosta terrestre. Sejam eles de que categoria forem, pertençam a qualquer classe definida nos estudos socio ambientais, acreditem  ou não no Deus dos desamparados, creiam  ou não na racionalidade dos poderosos, respeitem  ou não as leis protetoras dos pobres ou as  leis acobertadoras dos que  comandam e  desmandam, daqueles que se gabam de atender os pedidos menores de gente que clama  por ruas asfaltadas, luz, água, mas que nem sabem se dormem sobre chão de lixo, lama e morte.

Cida Torneros

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