Maracanã

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terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

O Jôa tá certo: Rio, capital da pegação e do beijaço!

O Jôa tá certo: Rio, capital da pegação e do beijaço! ( crônica de 2005)



> Aparecida Torneros


>Virou mister das minhas segundas, bem cedinho, pegar o jornal deixado carinhosamente pelo porteiro, no tapete da porta principal do meu apê em Vila Isabel, e, num gesto rápido, ir direto à última página do segundo caderno, para o encontro deleitoso com a escrita do amigo Jôa.



>Sim, falo do cronista,o sensível Joaquim Ferreira dos Santos, dos tempos de universidade, do jeitinho manso e da voz mais doce que ouvi na travessia de barca, no meio do mar, entre Rio e Niterói, início dos anos 70, falando do novo disco do Caetano no exílio londrino, recitando pra mim a letra de “Maria Betanhia, please, send me a letter”. Impossível esquecer.


>É dele que me vem certas conclusões tão óbvias e ao mesmo tempo embotadas numa cúpula blindada, por razões prontas a serem derrubadas quando me adentra sua verve ululante, e aí, me vejo concordando em gênero, número e grau, balançando afirmativamente a cabeça, rindo sozinha, por ter percebido a mesma coisa e ter esperado que ele dissesse primeiro.


>Agora, li sua crônica sobre a cidade sexy, o Rio, onde eu e ele, de origens suburbanas, vivenciamos mais de metade de século entre idas e vindas, passando por tantas vielas, becos, estradas, de beira mar a montanhas verdes, com certeza, nos envolvendo com toda a sensualidade pertinente a curvas e sentidos opostos que se atraem.


>Por coincidência, o domingo que antecedeu, digo o “ontem”, bem aquele onde o céu fez-se de um azul total, a cidade estava linda e o sol nos beijou com frenesi por todo o dia, andei pela pista Cláudio Coutinho, entre os micos que fizeram a alegria do povo ali, entre o mar de um verde azulado singrado por barquinhos que lhe faziam carinho, deixando marcas de dedos em pele eriçada.


>A montanha da Urca me dava morna sombra e meu coração pulava, imaginando que gesto deveria me conter no lusco-fusco do desejo de beijar a boca de alguém distante, em cidade menos carinhosa, esperando talvez por mim, nalgum bar de fim de tarde, sem saber que o melhor do lance, aqui se deitava, na areia, me oferecendo a brisa, afagando-me as coxas grossas, entrecortando um barulhinho de ondas batendo na minha fantasia, como a me acordar para o sonho.



>Repeti para minha amiga Elza, que lia o jornal na paz da praia, repeti muitas vezes, que era muito bom estar no Rio, ter nascido aqui, molhar os pés em água de tamanha energia, deixando que o oceano nos sugasse as dores, as mágoas, e levasse embora os prantos.



>Porque, de beijos e abraços, o mar do Rio entende melhor que nós. Justo nas praias, carioca que se preza já teve seus melhores momentos de troca de línguas do guarani ao português, do estrangeiro branquelo à mulata assanhada.

>O prazer de olhar a paisagem e as pessoas descontraídas. Bicicletas, chapéus, jogos, bolas rolando, meninos correndo, automóveis buscando espaço de parar. Sim, parando no tempo para pegar no pé da vida. A vida, no Rio, se pega pelo pé, primeiro.


>Depois, pode se ir subindo pelas pernas acima, no gingado de qualquer batucada improvisada em botequim de esquina, regada a cerveja e sorriso largo. Vai que dá um tesão incontido e nem se ousa pensar em pagar o mico de conter o beijaço.


>Uma vez eu pensei, se portenho tem panelaço, carioca pode protestar com beijaço. Já pensou todo mundo marcando hora e infestando a cidade toda de beijos melados?


>Que cena, minha nossa, digna de CNN. Rio, a capital do beijo na boca! Como homenagem à pegação, a gente combina um dia de verão, claro, e todo mundo capricha no beijo resplandecente, aquele do céu da boca em contato com a alma do outro.


>Estamos pegados na sensualidade das mulheres do Lan e dos meninos do Rio, os surfistas que apaixonaram o Caetano, inspirando música, do mesmo jeito que anestesiam as visões das maduras, encantadas com a produção em série de garotos saudáveis por estas plagas de mar e montanha.


>O Jôa tá certo!


>Se ele tá pegando é porque não dá pra parar de pegar, quando a cada curva do caminho tem uma apelação erótica se abrindo aos nossos sentidos, na mais sensual das capitais do mundo.


>Quem tem boca , dizem , vai a Roma, mas quem tem ... ( sic!) , claro, vem ao Rio!

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