Maracanã

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quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Mundo das Idéias...recordando minha participação no Fantástico em 2005

http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM342086-7823-N-SER+OU+NAO+SER+O+MUNDO+DAS+IDEIAS,00.html

O filósofo grego Platão, há quase 2,5 mil anos, acreditava que o mundo que conhecemos não é o verdadeiro. Para ele, a realidade não estava no que podemos ver, tocar, ouvir, perceber.

A verdade, para Platão, é o que não se modifica nunca, o que é permanente, eterno. Mas como encontrar essa verdade?


O episódio de hoje começa a 150 metros de profundidade, numa mina de carvão em Criciúma, Santa Catarina.

Andamos quatro quilômetros num carrinho, quatro quilômetros em um labirinto de caverna. Nós estamos totalmente protegidos: bota, macacão, lanterna, máscara e protetor de ouvido.

Titão trabalha nesse mundo subterrâneo há 13 anos, sete horas e meia por dia mergulhado na escuridão.


“Eu tenho orgulho de fazer isso aqui. É lógico que o ar da mina não é tão bom quanto na superfície. A gente sente as máquinas, aquece um pouco. Então, a gente sofre um pouquinho, mas leva. Bota no peito que é aqui mesmo que se vai ganhar o meu pão e vê o que dá”, afirma Titão.

É como se fosse um outro mundo?

“Para mim é. Para outras pessoas, que vêm visitar, assusta, acham assustador”, conta Titão.


Na filosofia de Platão existem dois mundos: o primeiro é aquele que podemos perceber ao nosso redor, com os cinco sentidos. O outro é o mundo das idéias, onde tudo é perfeito e imutável. Não podemos tocá-lo, ele não é concreto. Só o pensamento pode nos levar até lá.

Para entender melhor isso, a gente precisa conhecer uma história que Platão criou: o Mito da Caverna.


Imagine um grupo de prisioneiros que nasceu no interior de uma caverna escura. Eles estão acorrentados de costas para a entrada da caverna e só podem olhar para a parede do fundo. A luz de uma fogueira projeta nessa parede as sombras de tudo o que existe lá fora. Os prisioneiros acham que elas são a realidade. Nunca viram a luz.


Nossa vida, para Platão, é como a dos prisioneiros do mito, acorrentados no fundo da caverna. Vemos as coisas que conhecemos como se fossem reais, mas não passam de sombras, ilusão. A verdade está fora da caverna, no mundo das idéias, na luz. Ou seja: é preciso desconfiar do que nossos olhos e ouvidos dizem. Devemos nos guiar pelo pensamento e pela razão. Foi em torno dessa idéia que nasceu a filosofia, no fim do século V antes de Cristo.

O filósofo grego foi ainda mais longe: Platão afirmava que o corpo era um túmulo que aprisiona a alma. Um obstáculo ao pensamento.

“Eu não posso te falar o que é alma, porque eu nunca vi uma alma para vir me avisar o que é alma”, diz o coveiro João Caetano.

“Promoção para a mulherada é tudo, é um sonho”, diz a jornalista Aparecida Torneros.


Platão acredita que para atingir a verdade e o bem, você deve se libertar da sedução dos sentidos.


“O prazer de ver, o prazer de quando pode comprar e o prazer de usar”, define Aparecida.


Em um shopping, por exemplo, você pode ficar hipnotizado pelas vitrines, pelas pessoas bonitas que encontra, por aquele doce gostoso.

“O pior é que às vezes a gente compra e não tem nem lugar especial para levar hoje e nem amanhã. Mas eu deixo guardada, porque de repente...”, confessa a jornalista.


São os apelos do corpo, que nos levam a paixões descontroladas e nos afastam da verdade. Platão dizia que ele deve ser sempre submetido às avaliações do pensamento.

Mas qual a relação entre o mundo dos sentidos e o das idéias? Tudo o que a gente vê e percebe ao redor são cópias mal-feitas das idéias, que são perfeita e eternas. É como se a natureza e as pessoas fossem uma cópia de modelos que só existem no mundo das idéias. O que Platão quer com isso é distinguir o verdadeiro do falso, o semelhante do diferente, a essência da aparência.

Você sabia que Platão também desconfiava da arte? O motivo: ela seduz nossos sentidos e nos desvia da busca pela verdade. O artista se inspira em coisas que existem no mundo, ou seja: em cópias, por exemplo, como em uma mulher.


Uma mulher é a cópia de um modelo perfeito de outra que só existe no mundo das idéias. A arte, portanto, seria cópia da cópia - duplamente enganadora. Se a arte é cópia da cópia imagine o que seria uma banda cover! Cópia da cópia da cópia.

As ilusões da arte atrapalham, a filosofia, não. Só ela é capaz de conduzir o homem ao bem e è verdade.


O que a herança platônica nos deixou foi uma forma de avaliar o mundo que opõe o bem e o mal a partir de modelos fixos, de idéias. Vivemos guiados por ideais - o ideal de corpo, de filho, de marido - mas será que é possível atingi-los?

“Eu gosto muito de viver no escuro. É a coisa do pensamento, né? No escuro, a gente pensa muitas coisas. Mais no escuro do que no claro”, afirma Titão.

Será que viver nas sombras é pior do que viver na luz, como Platão imaginou?


Titão não acha que o escuro faça ele se sentir mal. “Olha como é que eu estou aqui todo emocionado, não estou?”, diz Titão, entre lágrimas.

Será que a cópia é pior do que o original? Existe mesmo um original? Nesse mundo de mudanças, o que existe são diferenças. E em nossas diferenças, somos todos originais. (texto do vídeo)

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