Maracanã

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quarta-feira, 18 de novembro de 2009



intervalo amoroso



internou-se numa clínica


precisava desestressar


queria esquecer amores frustrados


tornara-se cínica


confundia o tal verbo amar


conjugava-o com gestos estudados


não decidia nada a não ser esquecer


tudo devia ser posto de lado


até o sentimento mais nobre


foi assim que buscou ajuda


nos profissionais da mente


quem sabe o quanto mente pra si


quem sabe o quanto sente pena de si


quem sabe o quanto renega o beijo em si


quem sabe o quanto adia o pingo no "i"...


era a hora do intervalo


entre o fosso do amor ausente,


da saudade de dias felizes, do falo...


falo dele... com ternura... pequenino falo


pequena fala de paixão perdida no espaço...


quem está no seu lugar, por que nao faço


para a sua memorável história uma ode?


mereceria..sim...ele mereceria até um livro,


talvez um relatório, um espitáfio, pode?


aqui jaz o instrumento que em algum momento


me pertenceu, embora flácido, agora,


já me foi de grande valia, já me foi um bem...


talvez não tenha sido bem assim, tenha sido menos...


mas, está ali para esquecer... botar fora...


como a lama que acumulou no leito do rio,


precisa limpar a natureza degradada, por drenos...


deixar que saiam líquidos inférteis, olhar o céu...


caminham , todos, caminham, na casa de repouso...


descobre que precisa de um pouso...


como a águia guerreira, precisa mesmo de um ninho...


onde descansar da loucura da busca insana...


daí, que não é nada mau se deliciar com a paz


para com tudo, aguardar por um dia sem esperas,


de palavras, carinhos , mentiras ou mesmo de compreensão...


aí está esta senhora inquieta a se reciclar, inteira,


observa a natureza que a abraça ainda,


e pede por uma parada obrigatória, uma concessão...


interrompe o vôo, baixa a guarda, busca o pouso...


se dá conta da sua necessidade de um intervalo amoroso...


Cida Torneros em 14 de outubro de 2004

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