Ela nasceu no final do século 19.
Atravessou o século 20 com galhardia.
Foi pioneira, da vida, em seu estilo próprio, e da moda, com sua arrojada disposição de inovar. Ficou famosa, faleceu em 1971, mas seu trabalho permanece, sua lendária griffe se perpetua, e seus conceitos de liberdade de vestir para as mulheres, vieram para reinar. No filme, Coco antes de Chanel, o que vi me pareceu ainda muito pouco em face da sua longa e produtiva vida. Entretanto, o que se vê relatado é o eixo básico que formatou sua garra para viver e vencer, num mundo competitivo e masculino, que ela tão bem enfrentou para ousar ser quem foi e continua sendo, como personagem ímpar da história feminina dos últimos tempos.
Coco Chanel, a Gabrielle aguerrida, afoita, talentosa e perspicaz, tão bem interpretada por Audrey Tautou, nos é trazida com a performance das criaturas que não se acomodam e que se entregam aos desafios do cotidiano, inclusive do amor, com sua paixão ou seu final trágico. As imagens mostram a vida bucólica de uma França emergente para a indústria, os primeiros automóveis, a sociedade que se diverte em torno dos cavalos, o teatro com suas mulheres enchapeladas, os costumes dos espartilhos, dos excessos de flores, jóias, coisas que Chanel soube neutralizar e impor com seu estilo mais sóbrio, elegante, devastadoramente capaz de despertar a curiosidade masculina. Através de roupas pudicas, fechadas, ela provou muitas vezes que o desejo se esconde onde se escondem as curvas, e também soube revelar as facetas da sensualidade feminina no jogo de luz e sombra, no pretinho básico, nas pérolas misteriosas, nos complementos charmosos, em bolsas, sapatos, chapéus e até perfumes.
O filme deixa no ar o longo tempo da sua caminhada enquanto estilista que se tornou famosa. O maior enfoque se dá à sua descoberta como pessoa, mulher, profissional e sua sede de vencer em Paris.
Há uma aura de paixão pelo desconhecido e pelo sucesso, coisas que Chanel não só perseguiu como se apropriou com apetite voraz, sem voltar atrás, seguindo um caminho de trabalho, dedicação, sensibilidade e senso de oportunidade.
Uma mulher à frente do seu tempo, não resta dúvida, Coco Chanel, ainda pode ser contada, de mil maneiras e em todas, será sempre uma figura lendária, nos suscitando admiração e respeito.
Cida Torneros
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