Maracanã

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terça-feira, 20 de outubro de 2009

Sus ojos se cerraron...Gardel me faz chorar a morte da ilusão...



Sus ojos se cerraron...Gardel me faz chorar a morte da ilusão...


Acordo assustada. O telefone. São 9 da manhã de um sábado em que amigas me convidam a sair pelo mundo. Almoço, cinema, conversa para por em dia, assuntos atrasados, novidades para contar, mais um desses encontros alegres, tão comuns nas nossas vidas, quando parece que o tempo pára e voltamos a ser meninas adolescentes, cheias de sonhos e expectativas. Não importa que tenhamos casado e descasado, algumas vezes, nem se nossos filhos cresceram e foram construir suas próprias vidas, já que os sabemos felizes a enfrentar as agruras das suas mocidades em pleno século XXI, os novos tempos da globalização e da perda de identidade local. Isso é o de menos. São os herdeiros do consumismo desenfreado, dos amores descartáveis, dos momentos deletáveis, das histórias de heróis que salvam o futuro, em golpes de magia, vôos transcendentais, corrida do ouro e parada num dia qualquer. Aí, pego um cd do Carlos Gardel. Ele, só ele, hoje, vai embalando meu café da manhã, com sua nostagia, a das ilusões passadas. Que choram os olhos fechados da amada morta. Amores despedaçados e interrompidos. Amores mortos. Amores ultrapassados. Amores esquecidos. Amores transbordantes de esperanças que não se concretizaram. Amores que ficarma para trás, envoltos em névoas de um velho tempo que nunca voltará. A morte dos sentimentos é como a bomba atômica da terceira guerra. Há sempre a ameaça da terceira guerra dentro de todos nós. E nada é suficientemente forte para apagar o medo da explosão em milhões de pedaços a que toda história está fadada, por melhor enredo que ela possa ter.


Gardel era um sábio, um nostágico romântico, tangueiro cantador de um período humano quando ainda se podia crer em amores eternos e felizes.


Talvez fosse um delírio coletivo pertinente ao século nascente, o bendito século XX das duas grandes guerras, aquele em que se revolucinou a ciência e os costumes. Mas havia a ilusão ... Agora fico pensando se a ilusão não terá morrido junto com Gardel. Depois dele, o que ficaram foram as referências do quanto o sentimento é supérfluo, itinerante, efêmero, sem raízes que o prendam aos corações acelerados em esteiras de academias. Por isso, eu me pego chorando com sua interpretação do clássico tango "sus ojos se cerraron... e me perdo, também, por ser tão ingênua ainda, por ser tão infantil apesar de ter avançado tantos anos na idade física, por ser tão sonhadora, em contraponto a um mundo caótico e materialista, sentindo-me cada vez mais, uma peixa tentando respirar, fora das águas limpas e azuis. Sábio Gardel, cujos olhos se fecharam e levaram com ele a bela ilusão do amor sem fronteiras, o mesmo amor sem freios, aquele amor sem reservas, o pretenso amor acima da razão, o célebre e agora inconcebivel amor sem limites.


Aparecida Torneros,
em 7 de junho de 2008, aniversário do Salim, que faleceu, há 10 anos, e que me deixou a lembrança de grandes sentimentos...

Sus ojos se cerraron


Tango



1935


Música Carlos Gardel


Letra: Alfredo Le Pera

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