Maracanã

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quarta-feira, 29 de julho de 2009

LA PALOMA, muitas versões...











A pomba que vem à minha janela...

Se uma pomba chega na minha janela, eu a trato com carinho. Conto a ela sobre meus amores, principalmente falo daquele que se foi numa embarcação, naquele dia distante, a quem dei meu coração como se entrega o tesouro maior, e por quem esperarei até o último dia da minha vida. Sei que ele voltará, prometeu-me, pediu que o aguardasse, e me avisou que mandaria muitas vezes, pequenas aves para lembrar-me que ele voaria ao meu encontro, na volta da sua grande viagem...

Observo os arrulhos tremidos da avezinha, são como pequenos soluços das noites de amor que tivemos, soam como quase música aos meus ouvidos, pois em mim reverberam suas frases apaixonadas, seus gritos de prazer, os sussurros de desejo, suas carícias em forma de sorrisos e beijos, nunca esqueço dos seus estreitados abraços, aqueles laços de aconchego, em que me vi presa numa redoma de carinho, para sempre...

Se o pássaro pousa no parapeito da minha varanda, corro ao seu encalço, dou-lhe grãos e inicio uma conversa de amigos, às vezes, de amantes saudosos, vamos nos entendendo como se entendem os enamorados, a ele digo que o tempo não o apagou da minha lembrança, explico-lhe a força de um grande amor, faço-lhe um relato dos meus dias vazios, do quanto olho para o horizonte, sobre o mar azul, tentando enxergar seu barco que logo apontará lá no fundo, e virá, trazendo-o para mim, definitivamente.

Se uma pomba voa até meu quarto, seu bico batendo no vidro da janela em alguma manhã enevoada, eu a recebo com festa, abro-lhe caminho, dou-lhe de beber, acaricio sua plumagem, aguardo que sua respiração se aquiete, percebo que veio de longe trazendo a energia inesquecível do homem amado.

Aí, quando ela parte para novos vôos e some no céu nublado, até que seja um ponto que já não consigo distinguir, rezo as palavrinhas mágicas, soletro-as, emito um gemido gutural, consigo repetir "eu te amo", porque sei que ele me ouve, onde quer que se encontre.

A cada vez que ele me manda a avezinha para me visitar, compreendo que o amor entre nós permanece vivo, como ele me prometeu... e faz tantos anos, que até meus cabelos embranqueceram, eu sei, mas sei também que ele me vela, me recorda, e me ama, sabendo que estou aqui, de onde nunca saí, no lugar em que me deixou um dia, e cumpro o que prometi...Seus recados vem e vão nas asas da pombinha branca, os meus versos de amor o alcançam do outro lado do oceano, e ele um dia virá me encontrar, como prometeu...para nos amarmos sem mais despedidas...
Cida Torneros

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