Maracanã

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segunda-feira, 20 de julho de 2009

Duas crônicas do Livro A Mulher Necessária, dedicadas ao Dia do Amigo, 20 de julho!



































Ipanema, volta a fita !

Reencontro um amigo de faculdade de jornalismo, na praia, em pleno sol de sábado, em Ipanema, onde, há mais de 30 anos, era comum estarmos eu, ele e a sua primeira mulher, que também estudava conosco na mesma sala, ora estudando, ora nos divertindo. Nos reconhecemos e somos gentis. Ele perdeu grande parte dos cabelos, mas mantem o charme, cuida do corpo. Acha-me com a mesma carinha, aquela carinha dos meus 19 anos. Aceito tomar uma água de côco. Fico emocionada e vaidosa. Iniciamos então a rolagem da fita. Voltamos no tempo. Seu filho, daquele casamento com minha amiga, já fez 32 anos, lhe deu um neto que tem 6 meses.

Ele, por sua vez, vai me descrevendo sua vida. Está no terceiro casamento. Média de 10 anos cada um. E ri, por saber que fui casada só uma vez, por 24. Vamos relembrando os amigos comuns. As perdas. Citamos uma em especial cuja morte nos incomoda muito, e fico sabendo do seu sofrimento por tanta quimioterapia. Tinha nossa idade, deixou filhas e um livro lindo sobre Fernanda Montenegro. De repente, falamos de outro que também eu tinha perdido o contato, e que hoje mora em Lisboa. Coincidentemente, esteve perguntando por mim há uma semana.

Trocamos telefones. Vai repassar. O filme está voltando. Mais e mais. Somos novos seres. Maduros, embora, conservamos vontades de ganhar o mundo. Eu lhe digo que na semana passada fui a Salvador , sozinha. Ele me diz que foi a Paraitinga e Sao Sebastião, também sozinho. De comum, entre nós, muita leitura, muito questionamento, próprios da nossa geração. Noto que ainda somos os mesmos, no íntimo. Vamos falando dos desejos, as casas onde moramos, os filhos, ele e eu só tivemos um, cada. Lembro que escrevi um poema para o dele, no dia em que nasceu, em 1972. O mundo girou e girou.

Recordamos os nossos namoros de juventude. Nos prometemos almoçar para conversar mais, voltar mais a fita. De concreto, um futuro que se propõe viajar o mundo. Ele ainda conserva o desejo de sair em busca de lugares desconhecidos, daqui a 10 meses, quando se aposenta na estatal em que trabalha desde recém-formado. Eu, ainda poetando, prometo que lanço logo o livro adiado por três décadas. Então, nos abraçamos. Estamos conscientes do tempo e da amizade, apesar de tantos anos sem nos reencontrarmos e, morando na mesma cidade grande, passeando sempre por Ipanema, nos fins de semana ensolarados.

Nós nos olhamos mais forte. Digo que vou fazer obras na minha casa. Quero um quarto maior, mais confortável, um closet, uma hidromassagem. Ele já fez obra semelhante no apartamento em Copacabana, para onde vai mudar brevemente com a terceira mulher e os tres filhos dela. É um bom marido. É amigo das duas ex. É um bom ex-marido. É um amigo. É um bom amigo. O desbunde dos tempos dos anos 70, em Ipanema, era nossa realidade. Estudávamos, fazíamos muita festa, lutávamos contra a Ditadura, tentávamos ganhar o mundo. Ele me acha ótima. Eu digo que me sinto livre. Ele me diz que pareço feliz assim. Eu confirmo. E acrescento: o que vamos levar desta vida, a não ser esse sol maravilhoso e os nossos bons momentos? Ele me responde: só as flores do caixão. Eu reflito,enquanto me despeço, aflita para cair na água azul, e me deliciar com a vida, que Ipanema era para nós, um mundo de paz e amor, de flores enfeitando nossas cabeças de jovens sonhadores. Hoje, voltando a fita, rapidamente, sei que nosso reencontro é parte deste sonho. Ainda nos sobram sensações maravilhosas de nos sentirmos da "tribo".

Deixo o meu amigo, certa de que somos "gente boa", aliás, nome da coluna diária que outro membro da "nossa turma", escreve num grande jornal. E procuro o início da fita, o começo da história, vejo todos nós, projetando o futuro que chegou, e me trouxe a Ipanema, para reviver temporada jovial, histórias de idealismo e esperança, mas também de injustiça e perseguição política. O mar está lindo, minha pele se bronzeia, caminho na areia, olho para trás e me contento com mais um dia. Sei que qualquer dia desses, a gente se encontra por aí, sem lenço e sem documento, como sempre cantamos que deveria ser.
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Rodízio de amigas

Fui saindo em disparada, atrasada para o cineminha de começo de noite de domingo, e ao despedir do marido da amiga em cuja casa passei o fim de semana, no Leblon, ele me saiu com essa... rodízio de amigas.....eu sorri, assimilei, e corri para encontrar com a outra companheira que já tinha as entradas compradas, para assistirmos juntas ao "Memórias de uma gueixa".

No caminho, enquanto pedia ao taxista para acelerar no trânsito, eu pensei na tarde quase toda, onde nosso grupo, de cinco amigas, estivemos sentadas no quiosque da praia, bebericando água de coco, passando protetor solar, entre conversas que giraram desde política partidária até cirurgias rejuvenescedoras.

O papo reconfortante, com a leveza própria das mulheres de estágio de vida conquistada, combinando a fuga do carnaval carioca, do grupo, umas irão para Buenos Aires, outras para o Chile, e outra ficará para brincar mais uma vez a folia na cidade. Aliás, que cidade linda, no domingo, ontem, com aquele sol de rachar o cérebro, e aquele mar azul, verde, entremeado de brilho, fulgurando nossos biquinis floridos entre risadas e constatações.

Esticamos no Bracarense, com direito a chope claro e escuro, e a delícia de camarão, que saltitava ao paladar como um prenúncio do almoço, logo em seguida, na casa da amiga Tê, aquela capaz de oferecer aconchego com sorriso próprio da vida vivida transbordante.

Fui chegando ao cine para ver a Gueixa, rever internamente uma reportagem que escrevi nos anos 70, quando , em Tóquio, entrevistei uma gueixa de 54 anos, que me revelou sua vida e segredos ( alguns) desde que se tornara gueixa aos 13 anos, estudando na tal escola delas, exatamente como assisti em seguida, na história que o cinema me proporcionou.

No trecho que antecedeu o início da sessão, pude pensar mais uns minutos sobre a nomeação do marido da amiga a respeito do meu ir-e-vir com tantas amigas que me circundam, cobram presença, me telefonam, me buscam, me enternecem, me preocupam, me solicitam, me acodem, me ouvem os lamentos, me dão alegria , me complementam, me esperam nos cinemas, nas esquinas, nos restaurantes, nos telefones, nas casas, para almoços, jantares, festas, dançam comigo nos salões dos clubes, riem comigo nas areias das praias, caminham comigo nos calçadões cariocas, me pegam de carro nos teatros paulistas, me acompanham na noite dos bares boêmios, cantam pra mim, nas casas noturnas da Lapa, declamam pra mim nos dias sombrios, me injetam vida nas veias, a cada alvorecer, me dão a saudade necessária pra valorizar suas presenças, e ainda, me fazem sentir a companhia sensata e lógica em dias de domingo.

São muitas, eu é que agradeço, são variadas, de gênio, perfil, gostos e comportamentos, mas são tão necessárias, são tão presentes, tão importantes, que somam os longos esclarecimentos telefônicos que revelam mistérios pertinentes ao mundo feminino e particular. Há ocasiões em que é preciso estar mais atenta aos seus apelos, críticas, lamentos e cobranças, na tentativa pertinente de não se deixar perder seu encanto nos caminhos. Quando isso acontece, é preciso permitir que se vão ao encontro de novas impressões de viagem. E não há o que lamentar, só há o que agradecer, como num diário de bordo. Registrando tudo, a paz do caminho com elas ao lado, essa sede de viver, compartilhando felicidade, falando do mundo que é de cada uma e é de nós todas, num segundo só.

O marido da amiga tem toda razão, é com num rodízio, mas não se pode abrir mão de nenhuma delas. E se vou degustando a alegria da companhia, vou também crescendo interiormente, por ser assim, capaz de absorver querências variadas, desfrutar carinho tanto, agradecer atenção ofertada em doses múltiplas e ainda, de bandeja, assistir ao Aznavour cantando SHE... que, se eu pudesse, dedicava a cada "ELA", que me acompanha e preza.

Vi o filme da Gueixa como se fosse um sonho de amor. She (Ela), personagem-título, contando sua vida, me fez reviver o conselho daquela que entrevistei, há tanto tempo:

- Seja como nós, ofereça dons, entretenha, cante, encante, anime, proporcione ilusões, fantasias...

Cada amiga, do rodízio, tem qualquer coisa de gueixa, cada uma delas me faz sentir assim, com vontade de dedicar-lhes uma crônica com fundo musical e agradecer por sua presença em minha vida.


A LISTA...
LENA, SANDRA, SONIA,ERIKA, ELIANES, VERAS, REGINAS, ROZÁRIA, DENISES, CLAUDIAS, THEREZAS, ANTONIETA, IRENE,MARION, TANIA, BENEDITA, CRISTINAS, KARTA, TAMAR, HELOISAS, CARMEM, TATIANA, ODETE, LEONOR, LIEGE, MÁRCIA, MAGALI, CRHISTIANES, SIMONE, FERNANDAS, LUCIANAS, LUCIAS, ALCINA, MAGDAS, SOLANGE, IOLANDA, IRACEMA, NORMAS, BETES, ROSANAS, ANAS,GELANE, MÔNICAS, BÁRBARA,ANNIE, ELANE, VERONICAS, MERY,MARIANAS, LARISSA, DALVA, LILIAN, ELZAS, MUITAS MARIAS,DIENE DAYSE, LUIZA, CREUZA, CLEIR,CIRENE, LOURDES,BEATRIZ,PATRICIAS,CAROLINAS, BELLIZA,RAFAELA,ISABEL,DEDÉ, ELAS SÃO MUITAS, TANTAS, TODAS MORAM NO MEU CORAÇÃO...TEM AS ANTIGAS DO C.PEDRO II, AS DO INSTITUTO DE EDUCAÇÃO,AS DA UFF, AS DA UGF,DA PREFEITURA, DA EMOP, DA SERLA, DA VILA, DO BAIRRO, DA CIDADE, DE OUTRAS CIDADES, DE OUTROS PAÍSES, TODAS DE FÉ...
SALVE ELAS!! MESMO AQUELAS QUE ANDAM DISTANTES, DISTRAÍDAS, MAS NÃO ESQUECIDAS DO MEU BEM-QUERER...

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