Maracanã

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domingo, 14 de junho de 2009

Jamelão, a voz da Mangueira, se calou, faz um ano hoje!



Sunday, June 15, 2008 ( reproduzindo, um ano depois)

O Rio sem Jamelão, o intérprete mal humorado da Estação Primeira

"Não sou puxador. Não puxo carro, não puxo droga, nem puxo saco de ninguém. Eu sou é intérprete de samba-enredo!"
Declaração de Jamelão que fez com que os intérpretes das escolas de samba deixassem de ser denominados "puxadores"

O Rio de Janeiro sem Jamelão

O Rio amanheceu ensolarado para se despedir do maior intérprete de samba-enredo de todos os tempos. José Bispo Clementino dos Santos, nosso querido Jamelão, será assunto das manchetes desta semana ( escrevo no domingo à noite), pela grande despedida, pomposa e merecida que a cidade lhe ofereceu. Emoção que certamente estará registrada em fotos contundentes, dos sambistas , amigos, familiares, cariocas e admiradores diversos que lhe devotaram durante a longa vida, de 95 anos, um sentimento de "salve a prata da casa". Assim era o mal humorado intérprete, como ele gostava de ser chamado, que nos legou, entre seus sucessos, "Fechei a Porta" (Sebastião Motta/ Ferreira dos Santos), "Leviana" (Zé Kéti), "Folha Morta" (Ary Barroso), "Não Põe a Mão" (P.S. Mutt/ A. Canegal/ B. Moreira), "Matriz ou Filial" (Lúcio Cardim), "Exaltação à Mangueira" (Enéas Brites/ Aluisio da Costa), "Eu Agora Sou Feliz" (com Mestre Gato), "O Samba É Bom Assim" (Norival Reis/ Helio Nascimento) e "Quem Samba Fica" (com Tião Motorista).

De 1949 até 2006, Jamelão foi a alma da voz da Estação Primeira, a Mangueira. Em janeiro de 2001, recebeu a medalha da Ordem do Mérito Cultural, entregue pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso.

Suas frases repentinas e respostas desafiadoas viraram folclore da nossa gente. Uma vez, perguntado porque estava sempre tão sério, ele saiu-se com : - Vou rir de que?

Quando a televisão transmitia ao vivo para todo o Brasil, a visita do presidente Bill Clinton à escola de Samba, ele avaliou com ares de grande filósofo: - O homem tá que nem pinto no lixo!

Assim era o Jamelão, de mais de um metro de oitenta de altura, com um vozeirão imponente capaz de imortalizar as gravações de Lupicínio Rodrigues, dando sua forma peculiar de cantar a dor de cotovelo, com seu jeito carioca de ser.

As imagens falarão por si, enquanto sua discografia nos permitirá ouvir não só suas interpretações de sambas ou de canções românticas, mas, em maior profundidade o verdadeiro "banzo" negro, cuja afrodescendência o agraciou com o timbre das longínquas terras da África dos seus ancestrais e com a malemolência conquistada na sua cidade natal, o Rio de Janeiro.

Jamelão, aquele que fez escola, que parecia uma fortaleza a serviço da nação mangueirense, que confiava nele por décadas, para puxar seu canto de guerra, seu grito de liberdade, a voz de um povo sambista, driblando os tropeços da vida com a alegria do carnaval.

Apaixonado pela Mangueira, fiel até o fim, foi enterrado numa linda tarde de domingo, com a bandeira da escola, o som do tamborim, o lamento do surdo, o tom sofrido do coro popular que lhe conferiu o maior troféu que um artista do seu porte pode receber: a gratidão.

Todos nós lhe somos gratos, pela força da voz e da postura de vida, pela sua brasilidade e seu imenso amor pelas causas do seu povo. Honrou sua gente, foi um bravo cidadão a emoldurar a história da nossa música e muito mais que isso, Jamelão era um gozador.

Para homenageá-lo por sua verve e senso de humor, transcrevo a notinha da coluna do Ancelmo Gois : "De uma fã, na saída do show do Canecão, no Rio, para o cantor Jamelão.

"Seu Jamelão, posso lhe dar um beijo na bochecha?"

"Não! Não sei onde você andou com essa boca!"

Jamelão, o cantor mangueirense, é conhecido também pelo mau humor".

Esse era o nosso Jamelão, com seu jeito especial e peculiar de interpretar as canções da vida.

Aparecida Torneros ( jornalista, RJ)

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