Em 1970, eu era estagiária da assessoria de imprensa do antigo aeroporto internacional do Galeão. Naquele tempo não havia os corredores sanfonados para se chegar às portas dos aviões. Íamos a pé em direção às aeronaves. Era comum que eu, ao ser incumbida de reportar uma das tantas personalidades que por ali transitavam, fosse esperar na pista e me dirigisse à escada móvel colocada especialmente para que os passageiros subissem ou descessem. Numa tarde de temperatura amena, a diva Sarah Vaughan apontou no alto da escadaria e acenou. Tinha na cabeça um lindo chapéu de palha branca, e o fotógrafo que me acompanhava,colega da agências de notícias, pôs-se a disparar o filme na busca de melhores ângulos da artista.
Nesse momento, houve uma lufada de vento. O chapéu voou da cabeça de Sarah e eu visualizei o trajeto volteado do objeto leve pelo ar, em minha direção. Assim que ele ficou ao alcance das minhas mãos, peguei-o, sob o sorriso agradecido da estrela norte americana, a quem entreguei a peça que compunha sua elegância, enquanto ensaiei algumas perguntas sobre a temporada no Rio de Janeiro, ao caminharmos para a alfândega. Ela iria se apresentar na TV Tupi no programa de Wilson Simonal, onde cantaram juntos "Oh happy day".
Seu sorriso e voz forte me marcaram bastante, porque a diva Sarah, expoente do canto de jazz, mostrava-se curiosa sobre o Brasil onde veio se apresentar por pouco tempo.
O chapéu esvoaçante ainda hoje é, para mim, a lembrança de uma figura expressiva de mulher negra e cantora, que aprendi a gostar e ouvir por décadas, desde que a conheci, pessoalmente. Trago então Sara Vaughan para vocês, no blog, sem chapéu.
Aparecida Torneros
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