aqui tem música, poesia, reflexões, homenagens, lembranças, imagens, saudades, paixões, palavras,muitas palavras, e entre elas, tem cada um de vocês, junto comigo... Cida Torneros
Maracanã
terça-feira, 10 de fevereiro de 2009
Eluana, a mídia e a eutanásia
Relutei muito em escrever sobre o fato. É que o mistério da vida, através da mídia questionadora e envolvente, me tocou ( como a todos os receptores da informação globalizada), quando a notícia foi divulgada. Morreu Eluana. A italiana que há 17 anos vivia ligada aos tubos, sendo alimentada e hidratada, enquanto seu cérebro deixara de funcionar desde um acidente automobilístico. Suas fotos divulgadas intensamente são tão fortes. Elas transmitem um sorriso decidido de quem viveu a vida com força suficiente para ultrapassar o próprio tempo. Bonita, quando jovem, teve uma interrupção de seus projetos quando a flor da juventude a brindava, com certeza com sonhos e promessas. O pai, a Igreja, o Governo Italiano, o povo do seu país, aqueles que leram a respeito do seu caso, os legisladores, os céticos, os crentes, os corajosos e os medrosos, os tementes ao seu Deus e os ateus convictos, provavelmente todos sentiram algo com o noticiário sobre Eluana. Fui buscar alguns conceitos sobre a eutanásia. Encontrei estes, de Carlos Fernando Francisconi e José Roberto Goldim "Atualmente a eutanásia pode ser classificada de várias formas, de acordo com o critério considerado. Quanto ao tipo de ação:
Eutanásia ativa: o ato deliberado de provocar a morte sem sofrimento do paciente, por fins misericordiosos.
Eutanásia passiva ou indireta: a morte do paciente ocorre, dentro de uma situação de terminalidade, ou porque não se inicia uma ação médica ou pela interrupção de uma medida extraordinária, com o objetivo de minorar o sofrimento.
Eutanásia de duplo efeito: quando a morte é acelerada como uma conseqüencia indireta das ações médicas que são executadas visando o alívio do sofrimento de um paciente terminal.
Quanto ao consentimento do paciente:
Eutanásia voluntária: quando a morte é provocada atendendo a uma vontade do paciente.
Eutanásia involuntária: quando a morte é provocada contra a vontade do paciente.
Eutanásia não voluntária: quando a morte é provocada sem que o paciente tivesse manifestado sua posição em relação a ela.
Esta classificação, quanto ao consentimento, visa estabelecer, em última análise, a responsabilidade do agente, no caso o médico. Esta discussão foi proposta por Neukamp, em 1937." Eluana se foi e a discussão sobre a eutanásia prosseguirá porque é filosófica, é religiosa e é científica. O ponto de transformação da vida em não vida é frágil, mas é extraordinariamente infinito para conjecturas, estudos, declarações, e até politicagens eleitoreiras. Doadores de órgãos depois de mortos, só o são, por tempo determinado antes da fatal deterioração dos tecidos privados do oxigênio. Este, circulante através das hemácias, de núcleo oco, induz a vida a manter-se, mesmo que a morte ali já tenha se instalado, há um tempo intermediário de morte lenta para cada célula do corpo humano. A imprensa italiana fez a festa mórbida, mas o tema é mesmo polêmico, principalmente num país onde se encontra a sede da Igreja Católica tradicionalmente "avessa" a esta prática denominada de morte assistida. Nem cabe julgar se historicamente a própria Igreja consentiu penas de morte a hereges na Idade Média. A mídia da época era a comunicação dos templos, o boca a boca, não havia a internet, nem a televisão, nem o rádio, nem a possibilidade de massificar os rostos de condenados e condenadas, e a comoção não foi menor, proporcionalmente. Notícias da agência EFE dizem que a Procuradoria de Trieste informou que, "por enquanto", não há notícias de que se tenha "cometido nenhum crime" em relação à morte de Eluana Englaro, segundo a imprensa italiana. O procurador-geral de Trieste, Beniamino Deidda, disse que os procedimentos normais nestes casos para esclarecer a causa da morte serão seguidos "rigorosamente". Acrescentou que, "até o momento", não foi reconhecida nenhuma hipótese que implique na execução de um crime na morte de Eluana. A autópsia podia acontecer ainda no dia da morte oficial, anunciou o médico Carlo Moreschi, a quem a Procuradoria de Udine encarregou o processo. Moreschi não soube dizer se o exame será na casa de repouso onde Eluana morreu e onde ainda estava o corpo, ou no hospital Santa Maria della Misericordia. Este médico foi consultado pela Procuradoria nos dias passados para que acompanhasse o procedimento da interrupção na alimentação de Eluana. Sobre a autópsia, o advogado da família Englaro, Giuseppe Campeis, afirmou que estava "preparando" a lista de peritos e de consultores. O neurologista que acompanhava o caso de Eluana há anos, Carlo Alberto Defanti, afirmou ontem que a morte foi devido a "uma crise". Defanti acrescentou que não se esperava a morte de Eluana, já que só tinham passado três dias desde a interrupção da alimentação. O próprio Defanti tinha previsto que Eluana viveria entre 12 e 14 dias desde que a interrupção na alimentação, ocorrida na sexta-feira anterior." Pelos informes da agência ANSA, " O advogado Vittorio Angiolini, que defendeu a família de Eluana Englaro, italiana que passou 17 anos em estado vegetativo e que morreu em uma clínica no norte do país, pediu à imprensa que "deixe em paz" o pai da paciente, Beppino Englaro. Durante anos, Beppino travou uma intensa batalha judicial para conseguir suspender a alimentação artificial que mantinha sua filha viva.
"Peço que deixem Beppino Englaro tranquilo, o que nunca foi feito. Aliás, até neste último e dramático momento ele precisou que sua filha fosse cercada por policiais. Agora deixem-no em paz", disse Angiolini, referindo-se à polêmica desatada pelo caso de Eluana.
A italiana faleceu depois que o fluxo de alimentação que nutria seu organismo foi totalmente suspenso, no último sábado. O procedimento foi amparado por uma decisão do Tribunal de Apelação de Milão emitida em julho do ano passado.
Com o objetivo de revertê-la, porém, o governo italiano propôs um decreto-lei, que foi rejeitado pelo presidente do país, Giorgio Napolitano. Em uma segunda tentativa, o premier Silvio Berlusconi encaminhou então ao Parlamento um projeto de lei, que tinha o mesmo texto do documento vetado anteriormente.
Hoje, contudo, enquanto ainda discutia a medida, o Senado foi surpreendido com a notícia da morte de Eluana, que passou a viver em estado vegetativo após sofrer um acidente de carro, em 1992.
Ao ser informado da morte da filha, Beppino Englaro disse que preferia ficar sozinho. "Não precisam se preocupar comigo, agora quero ficar só, não quero falar com ninguém. A única coisa que peço aos verdadeiros amigos é que não me procurem. Sou assim, peço que me respeitem deste modo", afirmou. (ANSA) " Eluana viveu e morreu na companhia de um pai sofrido e perseguido. Ambos descansam agora. Mas a mídia não lhes dará trégua porque sua pauta é e será por muito tempo motivo para investigação , reflexão, busca de respostas filosóficas, religiosas, espirituais, científicas e sobretudo, humanamente incompreensíveis, por enquanto. Aparecida Torneros jornalista Rio de Janeiro
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