Maracanã

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terça-feira, 6 de janeiro de 2009

6 contos que podem encantar...




1 -O buraco e o chocolate...

Essa é uma história de amor... como tantas... tem princípio , meio e fim...aliás, é mesmo uma historinha de vida...pequenina, suscinta, econômica nos detalhes e no enredo, serve pra exorcisar dores e ajudar no esquecimento dos males... privilegia os bons momentos e vai me aproximar do perdão necessário. O lugar que ele ocupou no lado direito da cama, não é mais seu direito. Perdeu. Diria o meliante astuto, ao roubar objeto considerado de valor. O amor se perdeu no lado direito daquela cama. Deixou um vazio estupendo, um buraco esquisito, a falta da voz, a respiração que silenciou e o braço que nao abraçou mais. Também, como olhar pra aquele lado e nem questionar o que será feito daquele ser que ali dormiu comigo por tantos anos. Será que está ressonando como antes, a pedir um copo dágua ou uma coçadinha nas costas? Haverá por parte da criatura desaparecida algum resquício de saudade do tempo em que me teve como solidária companheira de sonolência? Bem, eu disse que a historinha era breve.
Começou tudo com uma paixão avassaladora. Cenas de ciúmes, tentativas de abandono e instante sublimes de reconciliação. Consolidara-se anos de construção do que se podia chamar de família tradicional, e fez-se, absurdamente uma rotina entediante nos anos que se seguiram. O meio foi recheado de projetos em comum, batalhas de sobrevivência, criação dos filhos, decepções com o mundo.
O fim, esse veio com o desinteresse e a quebra da admiração recíproca. Digamos que a desilusão tomou o lugar dos sonhos... aí, não tinha mesmo jeito...impossível seguir amando um ser tão fictício. E, num dia mal definido na memória, como é mesmoo fim de toda história, cada um seguiu para um lado. Eu fiquei aqui, assim, meio dando voltas em torno de mim mesma.. porém não me arrependi de nada e sigo em frente.

Ficou um buraco. As vezes preencho com chocolates. Depois me culpo porque engordo. Mas, pensando bem... estar ou não gorda não diminui minha capacidade de racionalizar sobre as dificuldades da vida a dois..e... se houve mesmo amor, valeu a pena... apesar de o tal amor ter morrido...sabe-se lá onde andará aquela canção do Azanavour que embalou nossas primeiras noites.. Tantos anos depois, ainda lembro. Tudo era ilusão e passou.
Agora, eta vida fria e dura, o que é possível fazer é viver, com dignidade, modéstia e quase nenhum pranto. O fim é só um espaço para recomeços. A vida é só um ensaio para a eternidade. e o Amor é só um estágio para que a humanidade se entenda, se ame, se aceite e até se arrisque a morar junto, dividir a própria cama, preencher o buraco vazio, deixar de comer chocolate.




2 - O silêncio da mulher que se foi

A mulher que morava na minha casa tinha alegria, ela sorria ... Eu gostava da sua gargalhada sonora porque me induzia a acreditar que era mesmo feliz... Ela até dançava enquanto arrumava os pertences dispersos, tantos lenços coloridos, brincos de alegorias fulgurantes, anéis de pedras faiscantes e colares tao compridos... Aquela mulher fazia um barulho estranho quando suas saias roçavam pelas pernas... dava uma reaçao meio nervosa em mim... como quando se roça um fio de lâmina, e repercute nos dentes um estado indefinido ... A menina que vivia dentro dela, essa entao, era mais doidinha, pulava como cabrita, bailava a salsa, a rumba e o merengue, perdia o controle dos quadrizinhos que rodopiavam como mola adestrada, e da cintura eu podia ver um zigue-zague digno de tomada de desenho de Walt Disney... Mas a mulher que morava na minha emoçao, ela se foi... um dia... e nem me preparou... quando percebi, lá ia a pobre, já bem longe, a passos largos, corria mesmo... parecia fugir de mim, da minha morada... carregou a felicidade com ela, a ingrata, roubou-me a sensualidade dos gestos, deixou-me a língua sem gosto e os braços sem atitude de afeto... Ainda vociferei um grito enorme, chamei seu nome, bradei : Volte minha Alma de Fada Feliz, volte pra mim! Berrei: não me abandone assim, criatura, que nao saberei viver sem as ilusões dos momentos de deliciosas loucuras e festas que me induziste a viver... Ela sequer respondeu, apressou a caminhada, nem me ligou, estava mesmo dissociada da minha morada, nãao mais habitaria meu lugar, abrindo mão de ser uma bruxinha encantadora... Resolvi silenciar e nunca mais chamar por ela... meu silêncio ( junto ao dela ) é mesmo um adeus ao passado que apenas representou tentativas... Ela tentou me apresentar um plano irreal onde os duendes cantam enquanto os seres humanos fazem amor... nesses poucos dias, sob feitiço dos brabos, meu corpo confundiu-se em gozos absurdos, maravilhosos... ela partiu carregando o dom de me fazer parar o tempo... Nao me falem mais dessa mulher, ela se foi pra sempre.. e só me dói saber que tenho dela ainda um dos lenços coloridos, o vermelho de rosas estampadas, com o qual cubro meu rosto para que ninguém leia nos meus olhos minha inquietante sede de amor...

3 - A lógica do acaso

"busco simplesmente viver aceitando o acaso como o grande formador de toda história" A lógica do acaso Deve ter sido mesmo por acaso que Manoelita percebeu certo sentido de enveredar pelo corpo dele, como um bólido de amor, um fogo fátuo, um cometa gasoso, buscando o beijo e o cheiro. Casualmente, ele chegou voando na vida dela. Vinha de um tempo longínquo, um extra-terrestre, talvez, ela refletiu, seria um espírito brincalhão tomando formas de parceiro disponível? Fato é que se encontraram. Se perderam...Tornaram a se ver. Aí, um carinho especial aconteceu entre eles. Havia certa cumplicidade a dizer:- não me prenda, mas também não me solte... coisa esquisita, passível de confundir qualquer cabeça pensante...mas, ela e ele souberam logo que tudo era um acaso, e não deviam complicar nada... De repente, um olhar para o alto, lá estava Manoelita, na sacada antiga, como uma donzela de filme romântico, a acenar para ele, que seguia ... adentrando num carro, dando até logo... Voltaria? Ela não soube responder... Afinal, deixariam com o acaso..teriam ou não um caso? Por via das dúvidas, ela buscou qualquer coisa pra fazer, pegou a agulha de crochê, teceu pontos de trancinha... danou a fazer laços desenhando arabescos, desenhando flores onde antes só havia linha. Mãos ágeis, pensamento solto, ela foi se acalmando. Por acaso, nas ruas, milhares de pessoas caminhavam se cruzando sem nunca se terem visto de verdade. Achá-lo, já tinha sido um grande acaso... Perdê-lo, entretanto, concluiu, dando um nó na renda que crescia em suas mãos, seria, agora, um grande azar... Voltou-se para si mesma, não ia complicar as coisas, afinal, não eram nada um do outro...parecia que fugiam mesmo do que se podia chamar de laços fortes... Pegou de novo o artesanato.....Puxou a linha verde como a esperança das florestas...Desmanchou ...Precisava tecer com menos aperto... Pontos largos, respirantes, soltos... Duas teimosas lágrimas insistiram em brotar no canto dos olhos maduros... Queria mesmo que ele, qualquer hora dessas, voltasse aos seus beijos e abraços... Aí, chorou copiosamente, mas não de tristeza...era emoção pura... Ele estava tão dentro dela ainda...a voz dele era tão evidente nos seus ouvidos... ecoava, reverberando a ternura com que a presenteara horas antes... Já não importava muito se voltasse... agora...o que contava, no fundo, era o mistério do acaso no mundo... Ela se deixou adormecer no sofá onde ele a beijara tanto. Dormiu profundamente. Entregou os pontos...Aceitou a lógica do acaso...Por acaso, sonhou com ele...
Aparecida Torneros



4 - Um novo Amor...

Eles nem se conheciam até pouco tempo... Talvez tivessem cruzado alguma vez, em lugar incerto. Como podiam não ter visto um ao outro, antes? Na memória, de ambos, pairava a sensação enevoada de que já teriam se falado, ou será que isso acontecera nos seus sonhos? Eles se atraíram repentinamente, como coisa que surgiu do nada, e lá estão suas mãozinhas se entrelaçando pelo caminho. Coça daqui, beija dali, olha bem no fundo dos olhinhos, sorri à-toa, o casal de pombinhos se mostra sob o encanto. Eles se desejam a cada momento novo. Parece arte de feiticeira do além. Juntou os dois como se junta pedras de um jogo, andam se abraçando para prolongar o efeito do calor delicioso que seus corpos emanam. Nada quebra a magia das suas falas recheadas de ternura, quando se tratam por apelidos carinhosos, e sussurram frases nos ouvidos atentos. Quando adormecem, grudam as peles, enroscam as pernas, beijam estalando os lábios cada pedacinho, lambendo o gosto um do outro. Quando acordam, constatam que ainda estão colados, respiração soprada no pequeno espaço que se abre entre suas presenças. Estas, confundidas entre os lençóis, se aconchegam na querência de não mais se afastarem um do outro, dizem baixinho, nunca, jamais. Então, se ao menor despontar do medo absurdo de se perderem, detectam a efemeridade sempre ameaçadora que se instaura nos corações apaixonados, perseguem a razão que os conforta com a certeza de que esse novo amor, finalmente, é o eterno. Prometem voltar. Juram esperar-se um ao outro, todos os dias, enquanto puderem viver. Nos seus semblantes, denunciam o brilho da paixão sem motivo certo, como também deixam entrever a luz do encontro resplandescente. Estão em estado de graça. Isso custa muito mais que uma simples explicação científica, muito mais ainda que uma compensação emocional, muito mais, indubitavelmente, que qualquer adeus acenado em aeroporto de uma cidade distante. Mesmo viajando, voando ao encontro de afazeres, eles retornam e matam as saudades, com a grandeza dos seres plenos. Eles voltam. Aprendem, todos os dias, a esperar. Sabem que o novo amor é tudo. Vão a todos os lugares carregando a lembrança dos seus momentos, até que descobrem o exato instante em que já não é mais possível desfazer o laço. Resolvem isso, de estalo, em tão pouco tempo.Ou melhor, não tiveram outra escolha. Teleguiados pelo novo amor, um dia, acordam de manhã e suas escovas de dentes ali estão: juntinhas...Como puderam viver antes, sem ter se conhecido?


5 - Com jeito de Adélia, rompendo o ano na casa da serra...

seu moço, não conte com a lua essa noite.Que o mundo tá de ventre virado, soltando fumaça pelas ventas do Demo! Valei-me , cruzes, peste danada essa virada de ano. Espantar os males, pros confins da terra? Ora, criatura, nem se avexe, porque tem mais é caminho por esse mundo de Deus cheio de bomba pra estourar na cara da gente. Sabe a guerra do tal do Iraque, acho que é de Araque. Isso mesmo, só pra inglês ver e americano enriquecer. O professor dos meus meninos falou que a causa é a gasolina, pois é isso mesmo , o tal do ouro negro, petróleo que tem muito praquelas bandas de lá. Me escusa, tô tomando seu tempo, que veio aqui descansar. Perdido na serra? Veio pra ficar? Uns dias, disse D. Bilé. Licença, que o fogo tá queimando a panela, despos a gente proseia, tá? Nada disso, farinha do saco furando junta mosca que vem do chiqueiro do seu Juca do Brejo, ô homem mais topeira, Cininha nunca viu. Ele parece que nasceu com raiva do mundo e ainda por cima fica juntando essas sujeiradas que chamam a mosquitada pra cá dos portões da Fazenda Neuza Desculpe quie dei de uns tempos pra cá de praguejar. To falando sozinha. Nem liiga pra isso. É coisa de véia, de bruxa da aldeia. Mas não tenha medo nenhum. Só rezo pro bem, aprendi com a vózinha, e salvo muita criança de mau olhado, sabia? Meu branco, voltei pra dizer que , entonces, vou saindo de banda, se acomode, tem água fresquinha na moringa de barro, e tem frutas na cesta. Café quentinho tem na garrafa, essa pretinha. Nem pense duas vezes, se precisar é só chamar, grite por mim, chama assim : Maraiaaaaaa , que eu corro e lhe atendo. Comida, o sr. se incomoda de sentar na mesa com os pobres? ainda bem que balançou a cabeça, assim, a gente se vê,na janta, as 7 em ponto, tá bom? Outra coisa, se tiver sabonete pode usar no chuveiro, que nós aqui gasta mesmo é o sabão de côco, e só se perfuma pras missas do domingo. Como hoje termina o tal do ano véio, e diz que o novo já vem, seja benvindo, homem que veio de longe, sozinho assim, sem família, pedindo pousada pra passar que nem fugitivo, perdido por esses lados da serra, que nem lobo coxo, faminto de afeto, parece, nem sei, digo tanta besteira. Fique, senhor, fidalgo seu rosto, cara de poderoso, honroso senhor, repouse da lida, do cansaço da alma, esqueça o passado. Depois de comer, o Juca pega da viola, nem se acanhe , sente com a gente e se puder, cante, isso, moço, cante e se encante, que a vida é paixão, de ano pra ano, tem gente bonita , desculpe falar, mas se quiser, pode se achegar pra distrair os miolos. Nem me pregunte a que horas deve levantar amanhã. Sua hora, moço, é tão sua. Nem me atrevo a dizer. Pode dormir tudo o que precisar. O sono dos justos. O sono atrazado. Pode sonhar com o amor, que na noite avançada, a alma da gente voa, sabia? a minha já foi até o Japão, eu acordei, mas lembrei. Aqui, fidalgo senhor, fique o tempo que precisar pra renascer sua luz. Licença de novo, mas, não faça isso, por favor, não me diga que tá chorando? assim eu me derreto de dó. Sou sua criada, viu? Posso ser sua bruxa, se achar melhor, ajudo a desfazer esse feitiço brabo que seus olhos me mostram. Prefere a fada, entendo, Luzia da Casa Azul , posso chamar pro senhor. Ela faz um trabalho santo que desmancha qualquer quebranto, viu. Até mandiga de amor, agora que acalmou, se banhe com água pura, moço, chore só mais um pouquinho e se ajeite pro ano novo. Que o véio, as almas penadas tão já levando, pros quintos dos infernos. Amanhã, quando o sol nascer por essas campinas, cabritinhos pulando as pedras, crianças a cavalo correndo cotia, seu moço, verá, com os olhos que a terra vai comer um dia, que tudo passou, até os pesadelos, e só sobrou o resto do sonho, a melhor parte, aquele pedaço em que o mocinho vai pela estrada e vai ser feliz. Que nem feliz , todo mundo diz, é o Ano Novo, esse que chega daqui a pouco, aqui na casa da serra. Aparecida Torneros

6 - Homem de meia idade procura...

Manoelita acordou disposta a recomeçar a vida... era domingo, tivera uma semana das piores, idas ao médico, uma descompensada pressão arterial, fruto de vida desregreda, dos últimos tempos...depois de chegar à conclusão de que era preciso mudar o rumo dos seus dias e noites ( principalmente), imaginou que uma caminhada na orla marítima da sua cidade tropical seria o ponto de partida da nova maratona de saúde e felicidade.

A madura Manoelita já passara por tantos pedaços, que , agora, no auge da certeza de que tudo é mesmo tão passageiro, não se daria ao luxo de desperdiçar mais um minuto que fosse como mazelas que não fossem as suas próprias.

Aquele namorado de ocasião, que, a estava cozinhando em banho-maria, aquecendo sem ferver, estava nesse exato momento, sendo riscado do seu caderninho de endereços, deletado da sua email-list, esquecido das suas tardes mornas.

Ao diabo com esses figurões cheios de razão própria e com medo de suas mulheres de casa... Uns "bundões", concluiu.

Dos casados, a linda Manoelita estava cheia, até os "bagos", como dizia seu avô, e ela , menina, achava tão engraçado, mas levou muito tempo para entender o sentido disso. Estava "cheia" sim, de ser muleta para o caminhar indeciso e acomodado de tantos que conhecia.

Este mais recente, ora, bolas, era atendera a um desses anúncios de sites de relacionamento... e, sabedora do que podia vir pela frente, lá foi ela, ao encontro das mentirinhas do mundo da internet.

Dentre vários perfis, aquele lhe tocara fundo...

HOMEM DE MEIA IDADE PROCURA
SOU UM HOMEM DE 50 ANOS, VIVO SÓ, PRECISO DE COMPANHIA, MULHER RESOLVIDA E MADURA PARA RELACIONAMENTO OU ROMANCE, DE MUITO CARINHO E RESPEITO.
MADURO SOLITÁRIO

Pois ela atacou e conseguiu a atenção do maduro "solitário", que logo percebeu, esperta, inteligente e sensível, de solitário só tinha o nick name, pois devia ser casado e bem casado, daaueles que chamam a mulherzinha de dona da sua casa e mãezona.

Foi se relacionando com o homem tão carinhoso, necessitado da fantasia que todo ser humano busca na sua mais profunda solidão. Ela se deixou , conscientemente, levar pelo afeto que ele lhe dava ou transmitia , mas quando tinha oportunidade, perguntava se ele não lhe escondia algo...

O tempo foi passando, eles tiveram momentos de grande sintonia, muita saudade, prometeram-se um encontro real, chegaram a imaginar local e hora, mas adiaram algumas vezes.

Manoelita esperou que ele lhe contasse a verdade. Como o tal Maduro , de maduro só tinha o apelido, pois se comportava mesmo como um adolescente medroso, fugindo da "mãe" representada pela santa com quem devia dormir como um irmãozinho. O homem que se mostrara a ela, era do sexo feroz, mas , não era difícil saber que aquele fogoso "solitário" tivesse talvez até com a mulher de casa, umas "trepadas" ocasionais, mas isso era problema dele, da cultura onde se inseria, do seu machismo atrasado, etc.

A sensível Manô resolveu jogar o balde de água fria naquela quentura que os acometia, e foi fundo. Ofendeu, foi ofendida, gritou, esbravejou, jogou na cara dele toda a sua mágoa feminina de ser mais uma válvula de escape, memo sabendo que vivera isso porque quisera. Mas, não se furtou de chorar como uma menina frustrada, decepcionada mesmo, antes de deixar para trás essa história que se repetia, psicanaticamente, como seu analista tanto a alertara.

Nada como sofrer por um amor impossível, ela ia chorando , e iniciou a caminhada do domingo novo na sua vida velha.

Saiu, vestida à caráter, de trainnig, bonitona, olhando o céu como um alento, para a coragem de abrir mão de um sonho bobo.

E, pensou assim... Se o Homem de meia idade procura... e acha... é porque existe mesmo no mundo um bando de mulheres sobrando, como ela, sobrando por serem livres, dispostas, lutadoras, independentes, decididas, caminhantes da orla, bonitas, felizes com suas conquistas pessoais e profissionais... e foi caminhando com passo mais cadenciado, pois perdia peso, suava, oferecia ao sol de domingo suas mais sinceras lágrimas de amor. Seriam as últimas, tornou a prometer-se.

Quando voltou para casa, ligou o computador, foi ao site de relacionamentos. Pôs um anúncio:

Mulher de meia idade não procura mais... Achou... Reencontrou a si mesma e descobriu que ficar sozinha é uma solução perfeita.
Mas, se porventura, você estiver precisando de um "casinho", podemos conversar. Gosto de perfumes franceses, viagens ao Caribe, notas verdinhas, mas aceito euros, se tiver avião próprio, melhor, mas se não, viajo em primeira classe em võos comerciais, dou assistência moral, sexual, espiritual, assessoro no guarda-roupa, acompanho em festas, jantares, degusto vinhos e iguarias, apresento-me adequadamente para cada evento, jogo tênis, toco piano e violão, escrevo poesias, mantenho a leitura atualizada, sou apreciadora de ópera, música clássica, estou aprendendo a dançar o tango, tenho um lindo sorriso,meus olhos sao verdes, as coxas grossas, a bunda durinha, os seios perfeitos, as mãos macias e os pés sao cuidados. Única restrição: não faço mais "SEXO"... Só assisto... e deixo o casal, você e sua mulher, à vontade!!!

Aparecida Torneros

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