Agora, eu vôo sobre os arranha-céus da megalópole americana em direção a um amor que ali me espera. Vôo nas asas da fantasia, enquanto não pego o avião e baixo por lá, de verdade. Digamos que nossos telefonemas, tórridos, carregados de tempero ítalo-brasileiro, sejam a preparação para o grande encontro. Sabemos como chegar um no outro, vencendo distâncias e nessa corrida de obstáculos, um sentimento de plenitude nos invade, ao mesmo tempo em que nos transportamos em linhas de intenso carinho. Já não somos crianças, nosso diálogo é denso, forte, carregado de verdades interiores, nos desnudamos em cada palavreado, em cada imagem, em cada respiração mais profunda. Nos amamos com entrega e desenvoltura. Atingimos lugares escondidos e vamos abrindo caminhos em nossas almas, através das sensações dos corpos, num ritmo que se assemelha a uma maratona em busca de ultrapassar a linha de chegada. E chegamos, juntos, a um momento maravilhoso, em que nos tornamos cúmplices de vida e parceiros de desejos realizados. Agora, se ele dorme ou se eu o acordo, é porque lá estou chegando na beira do seu leito e me aconchego no seu abraço sonolento, como uma feiticeira que ultrapassou o céu escuro, guiada pela luz que dele emana em minha direção. Nada é premeditado, tudo é maliciosamente vivido em etapas vencidas, atabalhoadamente, com gosto de "quero tudo", com promessa de " já somos dois em um". O amor que surge em nós é adulto, é inevitável, é frenético, embora sejamos conscientes do mundo em que vivemos e das limitações que teremos que enfrentar unidos. Sua voz me encanta e minha voz o estonteia. Nossos cheiros são incógnitas presumíveis. Nossos gostos são sabores de peles a serem degustadas. Nossas mãos são adestradas para que se acariciem nossas sedes e sejamos inteiros logo que nos seja dada essa chance. Por enquanto, vôo nas nuvens, ele me recebe com a aura flutuante, eu o chamo nos sonhos e ele me carrega no embalo do prazer imaginado. Vivemos assim, como dois seres fora do tempo, além dos músculos, exercitando o sentimento da paixão pela vida ao torcermos para que logo estejamos um dentro do outro, mas na verdade, já sabemos que estamos. Estamos sim, isso é um fato. Do Rio a Nova York, por milhares de quilômetros, navegam pelos ares nossas frases de amor e nossos suspiros de paixão. Poderia ser um conto de fadas. Mas é uma história de dois bruxos, que se enfeitiçam mutuamente, com a capacidade de fazer a magia dos prazeres merecidos. Chego calma, sem fazer barulho, ajeito-me na beirada da cama dele. O reconheço como o homem que me faz feliz. Aproximo minha boca da sua e o beijo durante seu sono profundo. Ele me aperta em meio ao sonho que parece realidade, e, ao acordar, de manhã, terá a certeza de que estive mesmo lá, tão grudada e real como um milagre amoroso de alguma deusa pagã, alguma cachorra uivando no cio da noite, alguma fêmea desesperada que buscou seu macho na calada da escuridão, o encontrou e o amou antes que ele despertasse. Quando faço meu vôo de volta, trago seu cheiro de Armani impregnado na minha pele, seu calor humano queimando meu furor interior, e venho, reabastecida de felicidade, plena de amorosidade, repleta de satisfação física e espiritual. Chego em casa, extenuada embora, mas confiante no quanto é preciso voar mentalmente até ele, todas as vezes que for necessário. Havérá um dia, e não está muito distante, em que nossos vôos serão em harmonia, apegados, de mãos dadas, sairemos por aí, pelo mundo, e voltaremos juntos pra casa, e na nossa cama, reaprenderemos, todas as manhãs a amar o melhor amor das nossas vidas.
Aparecida Torneros
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