Maracanã

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quinta-feira, 25 de setembro de 2014

As voltas que o mundo dá ou a teoria da conspiração à minha volta!

As voltas que o mundo dá ou a teoria da conspiração à minha volta







Assisti, entusiasmada, a entrevista que Roberto Davila fez, na Globo News, com a cineasta libanesa Nadine Labaki.

Quando vi seu filme "e agora onde vamos", tempos atrás,  eu me emocionei  muito.

Naqueles dias, estive às voltas com interpretações de relacionamentos amigos e antigos, que tivera com dois homens libaneses em diferentes ocasiões.

Um tinha sido meu colega de trabalho, costumávamos almoçar num restaurante tipico, o Cedro do Líbano,  no centro do Rio, tínhamos longas conversas sobre a vida e eu lia muito os livros de Kalil Gibran, cujo tradutor para o português,  Mansour Chalita,  ele me apresentou.

No auge dos meus 30 anos eu tentava compreender aquele homem de origem humilde cujo pai comerciante viera do Líbano e, no dia a dia, que me passava dedicação ao tabalho, era médico,  à família e aos sentimentos humanos de solidariedade. Quando faleceu, compareci ao seu velório e sua filha me disse que ele sempre se referia a mim como sua melhor amiga . Eu tinha idade para ser sua filha. Foi para mim um grande mestre.E me ensinou a gostar dos doces libaneses.


Lá pelos quarenta e tantos, fui com umas amigas, fazer um spa, durante uma semana, num lugar lindo chamado Sete Voltas, interior de Sao Paulo. Emagreci dois quilos, fiz muitos exercícios,  mas, como eu fugia de estômago vazio para rezar na capelinha, ali conheci um hóspede solitário,  um libanês,  que só falava inglês e francês.  

Passamos a fazer as refeições juntos para conversar. Ele era cristão libanês,  morava em Nova York, as filhas e ex mulher viviam em Paris, ele ficara um mês viajando pelo Brasil, desde o nordeste e antes de voltar aos EUA, resolveu passar uma semana naquele reduto de recolhimento,  que um conterrâneo lhe recomendara.


Tivemos também longas conversas e muitas histórias e fotos que ele me mostrou sobre a guerra civil na sua terra e a destruição das propriedades de sua família. Antes, eles tinham plantação de laranjas. Quando saí do SPA fui para casa de uma amiga em Higienópolis,  em Sao Paulo.

Ele me ligou para uma despedida, almoçamos num pequeno restaurante, rindo bastante  porque pudemos nos livrar da fome que sentiamos no Sete Voltas. Ele estava hospedado na capital Paulista e ia embarcar horas depois. No aeroporto,  fez mais uma ligação  e me disse adeus. Nunca mais nos vimos. Mas jamais vou esquecer que a única vez em que tentei jogar tênis na vida foi ele que me ensinou a segurar a raquete.

E seus olhos expressavam a angústia semelhante que eu já identificara na cultura libanesa. Entretanto,  também havia alegria  submersa em várias das suas colocações sobre a vida.

Hoje, Nadine, na sua fala, uma libanesa que cresceu no meio da guerra, explicou ao repórter que em momentos absurdos e de muita dor, o que resta a  fazer  é rir, por isso seus filmes,  mesmo densos, trazem pitadas hilárias. Tinha isto antes o seu filme Caramel, que contem cenas engraçadas passadas num salão de beleza feminina.

E para completar as voltas que o meu mundo dá,  assisti mais tarde o filme "Teoria da conspiração",   num canal de tv a cabo.

Minha ficha caiu de repente. Afinal, que intrincado mundo inconsciente nos permite juntar experiências e perceber que há ligações entre elas?

O roteiro, bem americano, atendeu à minha necessidade de juntar cacos de vida, pedacinhos de contos, historinhas que vivi ou vi.

Em Nova York, Jerry Fletcher (Mel Gibson) é um motorista de taxi que critica o governo e fala sempre da existência de uma conspiração envolvendo altos escalões. Ele ama Alice Sutton (Julia Roberts), uma mulher que ele observa à distância e que ironicamente trabalha para o governo. Porém, nela Jerry acredita, tanto que faz alvoroço no Departamento de Justiça para falar com Alice, mas ninguém lhe dá atenção sobre suas teorias, que envolvem alienígenas e assassinatos. No entanto, ele escreveu algo em seu jornal (com apenas 5 assinantes) que alguém acreditou, pois decidiram matá-lo de qualquer jeito.

Talvez eu escreva para cinco leitores. Nadine faz cinema para reinventar sua infância e mostrar que o seu Líbano está vivo. No filme dela que me marcou demais, a questão religiosa é vivenciada pelas mulheres que tentam controlar seus homens, filhos ou maridos, minimizando as disputas entre cristãos e mulçumanos,  em nome de uma paz que todos sonham.

Ela veio ao Rio onde filmou um dos episódios que compõem o filme "Rio eu te amo". Ainda não assisti, mas, certamente, será mais uma chance de dar um dos volteios conspiradores que me devolvem a certeza de que algo  mais acontece além de coincidências ou orações.

Afinal, hoje eu sei que : Líbano,  eu também te amo!
Desde o Profeta, dos textos de Gibran, dos diálogos  com meu amigo Salim, dos dias de regime divididos com Camile Debanet, entre exercícios e dietas,  e, de uns anos para cá, através do cinema de Nadine Labaki.

Cida Torneros



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