Maracanã

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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Trevos, em setembro de 2010

Trevos!

Enquanto seres mediados entre sonhos e  realidades, cultivamos lendas internas e culturais, assimilamos historinhas fantasiosas, deleitamos pequenas superstições, que , no fundo, sabemos, não passam de pretextos fugidios para  nos fazermos um pouco mais felizes em meio a  uma vida onde há muito mais perguntas do que respostas, e estas, quando acontecem, nunca esgotam nossa perplexidade diante do mistério do universo...

Pois  os trevos dizem por aí que são expressão de sorte. Tenho deles, de 3 folhas, teimosamente crescendo nas  frestas da calçada da minha casa, motivo de brincadeira dos meus vizinhos, com quem já reclamei porque os andaram arrancando sob alegação de  que eram matinho, mas pra mim, trazem bom augúrio, florescem pequeninas pétalas azuis, de vez em quando e eu as fotografo quando lembro.

D. Margô, saudosa mãe da minha amiga Marion Bombom, adentrou no hospital, quando meu filho nasceu e me levou, fresquinho  um trevo de 4 folhas, para dar sorte ao pequeno rebento. Colei-o no diário que escrevi para o Léo, aliás, por 30 anos...foi quando entreguei a ele  o livreto repleto de lembranças, da sua vidinha de bebê, de menino, de adolescente e de homem feito...claro que escrevi esporadicamente mas  procurei registrar o quanto eu torço  por ele, pela sua sorte,  na passagem pelos trevos da vida, nos momentos em que as forças  e energias se cruzam e somos testados  pela vida.

Não me atrevo ( trocadilho  infamezinho) a travar embate com trovões  ou traçar coordenadas sobre os caminhos tortuosos que as  voltas da vida nos fazem trilhar. Mas me intrometo no destino com a força  do pensamento positivo, isso sim. Busco a luz, compartilho-a com seres  iluminados que me cruzam o caminho, entendo que as trevas  só existem se não nos permitimos  ver  pontos iluminados  no fim dos túneis escuros, e, quando observamos, lá longe  um resquício de luz, temos que ir ao seu encontro, para  nos fazermos crescer em fé e esperança, em harmonia e bem-querer.

Ao completar ontem, 61 anos, pensei nos trevos. Nas suas florezinhas azuis, na sua delicadeza e humildade, brotando em cantos de calçadas velhas e abandonadas, sendo confundidos com matos descartáveis, mas nos oferecendo, pelo menos a mim,   chance de  refletir  sobre pequeníssimas manifestações de uma natureza grandiosa e sábia que nos acolhe, a despeito de nossas ignorâncias, nossos descasos, nossos atrevimentos, como  por exemplo, essa coisa de não entendermos bem  porque os trevos podem ser de 3  ou 4 folhas ao passo que somos de  muitas cabeças, muitas  opiniões, e 3 ou 4 podem ser nossas certezas pequeninas em torno do amor, da amizade, da paixão, da espiritualidade, do fascínio pela eternidade questionada, ou pela  sorte de amar com profunda sintonia nossos semelhantes e nossos parceiros de existência.

Bom é ter  alguns trevos florescendo por onde passo, nas manhãs do tempo, ainda que sejam  pisoteados ou arrancados, eles tornam a surgir, teimosamente, a  dizer que a vida é círculo vicioso, não importando muito se nós a entendamos ou não!

Cida Torneros
3 de setembro de 2010      
    

 

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