cida torneros escreveu isso em 2007
Ainda somos amantes?
ela perguntou a si mesma
era madrugada, o sentiu
apesar de estar tão longe
dele veio um cheiro, um gesto,
de amor, ela questionou, intuiu,
parecia um sonho, parecia alucinação...
um dedo resvalou na sua nuca
ela arrepiou-se, não podia ser verdade,
devia estar ficando senil, era a idade,
como saber-se amada ainda, tão depois,
era coisa de mulher carente e maluca,
questionou-se sobre a voz que sussurrava,
era dele, não tinha dúvida, dizia que a amava,
ela se encolheu na cama, se enroscou,
um peso sobre si, um nó de braços,
uma sensação de se apertar como um sopro,
ela nem conseguia mover-se, ficou lívida,
nem devia crer no que lhe parecia louco,
nem devia pensar ou sentir o que se passou,
o tempo os deixara para trás, a vida os separou,
nada daquilo era real, ela chorou a dívida
de uma paixão que virou amor que se desfez...
... ele a deixou porque era inteligente e profunda,
foi o que argumentou, ela lembrou de repente,
e profunda era a dor que sentia agora, da saudade,
seria inteligente emitir algum som e indagar ao ausente,
ao mesmo ser que se fazia presente ali como um fantasma,
o quanto havia de verdadeiro naquela visita extra-corpórea,
ela e ele tinham tudo bem gravado no corpo e na memória...
... tomou coragem, a mulher abandonada e solitária,
deixou que o pranto se abrandasse e que sua alma falasse...
finalmente perguntou, ainda atada ao corpo ectoplasmático
tão entrelaçados eram seus movimentos, muita identidade...
- Soletrou devagar, o peito arfante, a boca tímida, ouvido atento,
as ancas ondulantes em posição de sentido, as pernas trêmulas,
o sentimento infeliz de insegurança, medo e perda, o desalento...
- Por que vieste esta noite me tocar no leito, por que me atormentas,
pensas que sou a mulher que o espera eternamente como antes?
não tens o direito de me fazer reviver o ardor dos nossos encontros,
nem sei onde paramos, mas também não sei se ainda somos amantes....
Ela, então respondeu, a si mesma...
melhor deixá-lo ir... se é o que ele quer...
mas, sentindo cada vez mais apertado o laço que a prendia,
adormeceu presa ao homem que a visitava como uma fantasia...
E, se houve o amor, o prazer , ou a entrega,
só o sonho poderia contar sobre o delírio insano,
adormecida, jogada na cama, despida, estava cega
de amor, saudade, imaginação, interrompido plano
de terem sido amantes eternamente, para serem assim,
seres atravessando continentes e ares para se amarem, enfim...
Aparecida Torneros
12/06/07
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