Maracanã

Maracanã

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Ainda somos amantes?

cida torneros escreveu isso em 2007







Ainda somos amantes?






ela perguntou a si mesma


era madrugada, o sentiu


apesar de estar tão longe


dele veio um cheiro, um gesto,


de amor, ela questionou, intuiu,


parecia um sonho, parecia alucinação...


um dedo resvalou na sua nuca


ela arrepiou-se, não podia ser verdade,


devia estar ficando senil, era a idade,


como saber-se amada ainda, tão depois,


era coisa de mulher carente e maluca,


questionou-se sobre a voz que sussurrava,


era dele, não tinha dúvida, dizia que a amava,


ela se encolheu na cama, se enroscou,


um peso sobre si, um nó de braços,


uma sensação de se apertar como um sopro,


ela nem conseguia mover-se, ficou lívida,


nem devia crer no que lhe parecia louco,


nem devia pensar ou sentir o que se passou,


o tempo os deixara para trás, a vida os separou,


nada daquilo era real, ela chorou a dívida


de uma paixão que virou amor que se desfez...






... ele a deixou porque era inteligente e profunda,


foi o que argumentou, ela lembrou de repente,


e profunda era a dor que sentia agora, da saudade,


seria inteligente emitir algum som e indagar ao ausente,


ao mesmo ser que se fazia presente ali como um fantasma,


o quanto havia de verdadeiro naquela visita extra-corpórea,


ela e ele tinham tudo bem gravado no corpo e na memória...






... tomou coragem, a mulher abandonada e solitária,


deixou que o pranto se abrandasse e que sua alma falasse...


finalmente perguntou, ainda atada ao corpo ectoplasmático


tão entrelaçados eram seus movimentos, muita identidade...






- Soletrou devagar, o peito arfante, a boca tímida, ouvido atento,


as ancas ondulantes em posição de sentido, as pernas trêmulas,


o sentimento infeliz de insegurança, medo e perda, o desalento...






- Por que vieste esta noite me tocar no leito, por que me atormentas,


pensas que sou a mulher que o espera eternamente como antes?


não tens o direito de me fazer reviver o ardor dos nossos encontros,


nem sei onde paramos, mas também não sei se ainda somos amantes....






Ela, então respondeu, a si mesma...


melhor deixá-lo ir... se é o que ele quer...


mas, sentindo cada vez mais apertado o laço que a prendia,


adormeceu presa ao homem que a visitava como uma fantasia...






E, se houve o amor, o prazer , ou a entrega,


só o sonho poderia contar sobre o delírio insano,


adormecida, jogada na cama, despida, estava cega


de amor, saudade, imaginação, interrompido plano


de terem sido amantes eternamente, para serem assim,


seres atravessando continentes e ares para se amarem, enfim...






Aparecida Torneros


12/06/07

Nenhum comentário: