Natureza
Meu caminho é teu, não sabes, não crês?
Meu carinho é ainda teu, não vês?
Meu sonho é para ti, não percebes?
Meu poema é por ti, não o renegues...
A natureza me fez mulher como as éguas do prado...
E me deu cheiros e sabores estranhos, um fardo,
que carrego com hormônios de semear a terra,
que desdobro em gozos de conceber os frutos,
que acoberto com cada braço que encerra
um recomeço de dia, um alvorecer...
Meu momento de luz é teu, meu sol, minha luz...
Meu tormento é por ti, minha lua, que me induz...
Meu talento é pra ti, doce estrela da manhã,
quando te traio com os pássaros e a eles dou maçã...
A natureza te fez macho para meus deleites e desejos,
mas te deu asas de anjo em corpo de lobo, te deu vôos,
fez de ti um planador alado e risonho, te fez tão alto,
inalcançável até, em tantas vezes nas noites, te assalto,
te roubo a paz, te dou angústias em troca da distância..
Meu caminhar é costurado em atalhos que talho em ânsia
a adorar os campos, cobrir-me de folhas, molhar-me de chuva,
a dançar com pés na terra, agarrar-me às arvores da uva...
Minha estrada é pontilhada de brilhos quando piso a nuvem,
meu corpo é inundado de prazer quando sinto tua penugem,
meus dedos são pequenos e iluminados quando te tocam a alma
Natureza... tu me és o esplender dos deuses...
e se te tenho, nem preciso morrer porque vivo em ti
e transmuto matéria em essência, amor em eternidade calma...
Já não me perturba o fim... ele é apenas transformação
de gente em pó... de pó em gente...
Natureza... tu me invades a gruta da nascente lúdica..
e deixa brotar as águas translúcidas da verdadeira emoção..
Te chegas mais e de ti sinto o conforto pleno e doce,
pelo quanto foi justo ter amado tanto como se eu fosse
capaz de guardar o mundo, de me fazer oferenda e prenda...
Na cerimônia da floresta, só me resta, eu sei,
doar-me ao infinito sentido da natureza em festa...
E , quando as feiticeiras, em sábado feliz , se encontram,
suas vozes entoam o cântico perfeito, elas apontam,
mais caminhos, mais atalhos, mais estradas, mais trilhas,
por onde vamos, nos deixamos ir, por milhas e milhas...
Natureza,
não vês que sigo, não vês que flutuo, não vês que mudo?
Aparecida Torneros (poema de 2005)
Nenhum comentário:
Postar um comentário