Maracanã

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terça-feira, 6 de abril de 2010

O pai do Brasil: um Lula solto e democrático no Canal Livre


O   pai do Brasil: um Lula solto e democrático no Canal LivreO fim de noite no domingo, 4 de abril, trouxe ao ar, no Canal Livre, programa de entrevistas da Rede Bandeirantes de Televisão, o presidente Lula sendo entrevistado por um grupo seleto de tarimbados jornalistas. Joelmir Betting, Boris Casoy, Datena e companheiros dividiram o espaço do vídeo com a presença forte do seu entrevistado, recentemente apelidado como filho do Brasil, pela indústria cinematográfica.


Foi possível observar o quanto emergiu um Lula solto e democrático em meio a perguntas que variavam da educação obsequiosa ao intuito obstinado de fazê-lo falar sobre questões delicadas ou possivelmente tangenciadas por respostas periféricas. Mas o que se apresentou, num bate-boca entremeado de salamaleques de todos os lados, contornando papéis de quem tem a responsabilidade profissional de perguntar e de quem tem o dever político de responder, pode-se dizer que o saldo foi positivo, comedido, revelador em alguns aspectos e intrigante em outros.


Um Lula questionador deixou no ar, como entrevistado, promessas de surpresas sobre sua militância política pós-governo ou ainda a especulação sobre sua futura atuação no cenário da política internacional, permitindo-se desfilar opiniões e promessas de cobranças aos dirigentes dos países que compõem o G20, a respeito do que efetivamente estão fazendo para driblar os efeitos da crise econômica mundial ou mesmo evitar que ela ressurja em escala incontrolável.
Referindo-se aos mandatários de nações poderosas, o nosso Presidente não poupou palavras para demonstrar intimidade com essas figuras tão carismáticas quanto ele próprio. - Bush virou um grande amigo meu e eu um grande amigo dele, ele disse. Chegou a lembrar os conselhos sobre o Irã que deu a Obama, Sarkozi, presidente francês, Ângela Meckel, primeira-ministra da Alemanha, e Gordon Brown, primeiro-ministro da Inglaterra.


Um Lula solto no mundo das idéias, da governabilidade, das opiniões maturadas sobre o mundo atual, a economia, os passos que seus governos avançaram em torno do futuro brasileiro, e algumas questões sobre promessas não cumpridas como, por exemplo, a falta da reforma tributária. Foi taxativo, esclarecendo que o Congresso não deixou e que alguns governadores também não, mas, estrategicamente, só citou o de São Paulo.


Pergunta dirigida ao ex-sindicalista Lula: Por que o governo não fez a reforma sindical? Explicou sobre o grupo de trabalho criado com este objetivo, que, segundo ele, não avançou. Justificou que a sociedade tem um tempo para digerir mudanças e estabelecer concretamente novas reformas. Lembrou, exemplificando, que cinco presidentes dos EUA que antecederam Obama tentaram fazer a reforma da Saúde, mas só Obama, agora, conseguiu.

Questionado pela tentativa de controle dos meios de comunicação, Lula chamou de covardes os empresários da área de comunicação que se recusaram a participar da recente Conferência Nacional de Comunicação. Mas, elogiou o presidente da rede Bandeirantes que participou, e desferiu um petardo direto: Vocês, jornalistas, recebem mais censuras dos patrões do que do governo, disparou o Lula que parece ter vencido as barreiras da interlocução com a imprensa na medida em que expõe claramente o que lhe vai no pensamento.

Não se furtou a falar das próximas eleições. - "No exercício da presidência da República eu não terei candidato. Todos serão meus candidatos. Mas quando acabar meu expediente, eu terei candidato. Que será o do meu partido."
Acrescentou que todos terão grandes surpresas com o desempenho da candidata Dilma Rousseff. Traçou um perfil de mulher sem rancores, capaz de vivenciar situações para as quais um presidente precisa estar preparado.

Naturalmente, a entrevista do presidente Lula repercute, em graus diferenciados, no público diversificado, a partir de interpretações que vão, desde os blogs políticos, até as conversas entre os que prestaram atenção na espontaneidade com que o homem Lula transitou entre os experientes jornalistas. Estes não esconderam nem a sede de sugar dele algo novo e tampouco o pouparam de alusões provocadoras. Uma delas, enviada pelo jornalista Ricardo Boechat focando sua qualidade de presidente que mais viajou na história da república brasileira. Um Lula articulado, parecendo psicanalisado, declarou-se acima de preconceitos do gênero, desafiou quem quiser dirigir países e negócios sem o necessário deslocamento para não perder o lugar na concorrência que é a disputa de espaço na economia mundial. Disse que seu sucessor ou sucessora com certeza terá que viajar muito mais que ele, e considerou "chic" quando encontra seus amigos "catadores de papel" em aeroportos, viajando também para congressos internacionais, muitas vezes.
Acrescentou que é preciso pensar grande, que se orgulha de estar vivendo num Brasil onde cresce a auto-estima e onde se acredita em dias cada vez melhores. Avisou que não pretende presidir o Corinthians, ao ser indagado sobre isto, pois acha que cada "macaco deve atuar no seu galho". Brincou com palavras, aludiu a questões cruciais como violência e tocou numa questão passível de muita discussão sobre o conteúdo das mídias, no tocante a este tema.


Segundo ele, já não bastam os enlatados, que nos impõem tiros no café, no almoço e no jantar, por que não pensarmos, juntos ( lembrou a tempo, que deve ser uma decisão de ouvintes, telespectadores e leitores) um equilíbrio com notícias, de cunho sócio-educativo, mais estimulantes e produtivas. Nesse momento, a reação dos jornalistas pôde ser sentida como um receio diante de uma ameaça de censura.


Mas, o novo Lula, solto e direto, bradou em alto em bom som que é um democrata e que só acredita em liberdade, pois ele mesmo é uma prova viva de governante que chegou onde chegou, por meios proporcionados através da imprensa livre e democrática.
Acalmaram-se então os ânimos, a entrevista marcou praticamente um pacto velado de ajuste entre as respostas acanhadas do antigo Lula a quem se perguntava, anos atrás, se sabia falar inglês, e o novo Lula capaz de aferir conceitos socio-econômicos de um Brasil democrático e pró-ativo.

Numa de suas respostas mais abrangentes, Lula lembrou que esse mesmo Brasil se insere, hoje, num cenário de respeitado interlocutor internacional. Alertou para a geo-economia que pressiona a ONU a criar uma nova ordem no mapa onde países da África, Ásia e América Latina sejam ouvidos, falando suas próprias línguas nativas, buscando equilíbrio para a construção de um mundo melhor.


Entretanto, Lula deixou bem claro que essa história de ele vir a ocupar cargo de secretário geral das Nações Unidas é boato, especulação e não se encontra em suas cogitações, pelo menos, no momento. Em verdade, o presidente , durante a entrevista, assumiu o papel de pai do Brasil, ao contrário da história do filme da sua vida.
Aparecida Torneros- jornalista- Rio de Janeiro







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