ANTOINE, APENAS UM RAPAZ LATINO AMERICANO, EM 68, EM PARIS...

APENAS UM RAPAZ LATINO AMERICANO

AS RUAS DA CAPITAL FRANCESA FERVIAM DE IDÉIAS E CORES NAQUELE VERÃO DE 1968. O JOVEM OBSERVAVA, ATÔNITO, O UNIVERSO MÁGICO DE UMA CIVILIZAÇÃO QUE POSTULAVA DIREITOS COM BARRICADAS NAS ESQUINAS, ESTUDANTES AOS GRITOS DE ORDEM PELA LIBERDADE DE SER, GENTE BRADANDO A RESPEITO DO MUNDO EM TRANSFORMAÇÃO, JUSTAMENTE ALI, ONDE TUDO PARECIA TER CHEGADO AO PONTO CERTO, SEM A MISÉRIA DOS POVOS DE ONDE ELE PROCEDIA. 
MAS, TOLICE SERIA TENTAR COMPARAR A SUA GENTE COM AQUELA QUE ELE VIA AGORA, ERAM SÉCULOS DE DISTANCIAMENTO, ERAM CULTURAS MUITO DIRERENCIADAS E EXPECTATIVAS IDEM. LHE RESTAVA TESTEMUNHAR UM EVENTO HISTÓRICO, OS ESTUDANTES EM PARIS ESTAVAM , NAQUELES DIAS, MUDANDO A FEIÇÃO DO MUNDO OCIDENTAL, COM O PROTESTO QUE SE ESPALHARIA INTERNACIONALMENTE.

QUARENTA ANOS DEPOIS, QUEM SABE, ELE PODERIA CONTAR PARA ALGUÉM SOBRE O QUE VIRA, O QUE FIZERA PARTE, AINDA QUE INDIRETAMENTE, MAS ESTIVERA MESMO NAQUELA PRAÇA DE GUERRA, NUMA CIDADE Á BEIRA DE UM ATAQUE DE LOUCURA, LOUCURA ESSA QUE SE LIGAVA A ALGUM TECIDO FRÁGIL, ESGARÇADO, NA MEMÓRIA QUE AGORA O HOMEM DE QUASE 60, PODIA REVIVER, COM EMOÇÃO RENOVADA.     

ANTOINE CAMINHAVA ENTÃO PELAS MESMAS RUAS, DE MÃOS DADAS COM MARIE, APONTANDO PRAÇAS, ESQUINAS, LUGARES. REPETIA QUE ALI O PAU COMEU, NAQUELE 1968, QUANDO ELE ERA APENAS UM RAPAZ LATINO AMERICANO, ASSUSTADO, SEM SABER FALAR UMA PALAVRA DE FRANCÊS, INICIANDO A VIDA DE IMIGRANTE, AVENTUREIRO, LEVADO PELA IMPULSIVIDADE PRÓPRIA DA MOCIDADE, A VIVER NOVA VIDA, DIFÍCIL VIDA, NA TENTATIVA DE CONSTRUIR SUA CAMINHADA EM BUSCA DE ALGO QUE ELE PRÓPRIO NEM SABIA O QUE ERA. ESTAVA NAQUELE MOMENTO, TRAZENDO UMA CANÇÃO INTERIOR, REALMENTE, TUDO ERA DIVINO, MARAVILHOSO, INCRIVELMENTE NOVO, PARA ELE, E A VIDA DARIA MUITAS VOLTAS PARA QUE UM DIA, PUDESSE COMPREENDER O SEU DESTINO. OS BEIJOS QUE TROCAVAM AGORA, ERAM OS MESMOS QUE OS MENINOS E MENINAS PODIAM TROCAR, ENTRE OS MOVIMENTOS FANTÁSTICOS DA BATALHA DAS RUAS, POIS A LEVEZA DO AMOR AMPARA AS LUTAS DA ALMA, DISSO ELE E MARIE TINHAM CERTEZA.

MARIE ACOMPANHOU, CONCENTRADA, OS OLHARES DO SEU COMPANHEIRO, AGRADECENDO A ESPIRITUALIDADE DAQUELE ENCONTRO, NA MANHÃ DE UM SÁBADO PRIMAVERIL, ONDE O TEMPO VOLTAVA  4 DÉCADAS, E A EXPRESSÃO DO ROSTO DO HOMEM SE REJUVENESCIA, SEU PASSO SE APRESSAVA, O SORRISO REVIVIA O MESMO QUE FORA ANTES, E A VOZ ASSUMIA A ENERGIA DO MOÇO MAGRO E DECIDIDO QUE ALI ESTIVERA NAQUELES TEMPOS DIFÍCEIS, SONHANDO COM O AMANHÃ, SEM CERTEZA DE NADA, CAMINHANDO CONTRA O VENTO, SEM LENÇO , SEM DOCUMENTO, CAPAZ DE ENFRENTAR VIDA DE ARTESÃO, VENDEDOR DE BIJUS EM PRAÇAS, AMANTE DA ILUSÃO QUE PARIS LHE OFERECIA, SABEDOR DO QUANTO PODERIA CONSTRUIR.

O HOMEM ERA O MESMO RAPAZ QUE FORA ANTES. AINDA TRAZIA NO PEITO O ARFADO SENTIMENTO DE PROPRIEDADE DA EMOÇÃO, SABIA QUE CONSTRUIRIA UMA FAMILIA, COM MULHHER E FILHOS, TERIA UM TRABALHO REGULAR, IRIA VIVER NO INTERIOR DAQUELE PAÍS, ENFRENTARIA SUCESSIVOS TESTES DE RESISTÊNCIA, MAS IA VENCER.

AGORA, PODIA VOLTAR AO CENTRO NERVOSO DA CIDADE ANTIGA, ADENTRAR UM RESTAURANTE, OFERECER UM JANTAR A MARIE, CONTAR SOBRE MOMENTOS VELHOS E ULTRAPASSADOS, SORRIR DAS SUAS HISTORINHAS DE GAROTO,  SENTIR QUE NO FUNDO DO SEU CORAÇÃO, AINDA BATIA A MESMA VONTADE DE SUPERAR OBSTÁCULOS, QUERIA MOSTRAR PARA ELA QUE ERA UM VENCEDOR DO TEMPO, UM SOBREVIVENTE DA GUERRA INSANA QUE SE FAZ DURA COM QUEM NÃO SE ACOMODA EM SEUS LUGAR DE ORIGEM E PARTE PARA CONQUISTAR ESPAÇOS ONDE NEM SEMPRE A HOSPITALIDADE É A TÔNICA MAIS FORTE.

TIVERA SORTE, MUITAS VEZES, ISSO ELE REVELOU, COM UM SORRISO TRIUNFANTE. ENCONTRARA GENTE NO SEU CAMINHO QUE O AJUDARA E MUITO. NADA FOI EM VÃO, FIZERA AMIGOS,  TIVERA AMORES, FILHOS, UM TRABALHO ORGANIZADO PARA FIXÁ-LO NUMA CIDADE DO INTERIOR, A VIDA O CONTEMPLARA COM BENESSES E SONHOS QUE SE REALIZARAM.

DURANTE VÁRIOS TRAJETOS DE METRÔ,  ANTOINE PUDERA MOSTRAR A MARIE, O QUANTO AINDA PARIS O FASCINAVA. SUAS ALEGRIAS E PAIXÕES JOVIAIS RENASCIAM A CADA VOLTA ÀQUELA CIDADE FERVILHANTE. MARIE EMOCIONOU-SE, MAS NÃO DEMONSTROU O QUANTO. PREFERIU AQUIETAR-SE AO LADO DELE, ELA, QUE TAMBÉM ERA UMA JOVEM SENHORA LATINO-AMERICANA, CHEGADA A PARIS, COM 40 ANOS DE ATRASO, POIS DEVERIA TER IDO AOS 20, QUANDO ACOMPANHOU, DE LONGE, ATRAVÉS DOS JORNAIS, OS CONFRONTOS DE 68, TORCENDO PELOS ESTUDANTES E PELOS IDEIAIS VANGUARDISTAS.  O QUE MARIE NÃO SABIA, NÃO PODIA ESPERAR, E AGORA RECEBIA COMO UM PRÊMIO DA VIDA, ERA QUE EM 2009, ALGUÉM LHE MOSTRARIA EXATAMENTE CADA PEDAÇO DE CHÃO, CADA PAISAGEM REMANESCENTE, CADA CLAMOR DE SONS E CORES, DE GRITOS E PALAVRAS DE ORDEM, DO QUE ACONTECERA POR ALI, DÉCADAS ATRÁS.  

MARIE APERTOU OS DEDOS DE ANTOINE, OBSERVANDO O MUNDO FRENÉTICO   À SUA VOLTA. AGRADECEU CADA MINUTO DAQUELA MANHÃ DE SÁBADO, SENTIU-SE ATRAVESSANDO O TEMPO, VOLTANDO E VINDO, NUMA VIAGEM INCRIVELMENTE SUPER DIMENSIONADA.

ELE ESTIVERA POR AQUELES LUGARES, ANTES, PARA UM DIA CONTAR TUDO A UMA MENINA QUE TANTAS VEZES SONHARA SER POSSÍVEL ESTAR ALI, VIBRANDO COM AS BARRICADAS, GRITANDO E CORRENDO COM OS ESTUDANTES.

A MESMA MENINA LATINO AMERICANA QUE PARTICIPAVA DAS PASSEATAS NO RIO DE JANEIRO, NAQUELE LONGINQUO 68, CORRENDO DA POLÍCIA, BRADANDO "LIBERDADE", IMAGINANDO QUE PODIA ESTAR EM PARIS, NO MIOLO DOS ACONTECIMENTOS, POR OBRA DO DESTINO, QUEM SABE, ALGUM DIA DESSES, NUM MILAGRE DO AMOR E DO TEMPO, PODERIA SE SENTIR PARTE DAQUELA HISTÓRIA, DE VERDADE.

FOI ASSIM QUE ACONTECEU. MARIE VOLTOU A 68, SE VIU EM PARIS, RECONHECEU SUA JUVENTUDE DE PROTESTO, ATRAVÉS DE ANTOINE, O RAPAZ BRASILEIRO QUE A REPRESENTARA SEM SABER, NUM MOMENTO HISTÓRICO QUE ELA NÃO QUERIA PERDER, E QUE REALMENTE AGORA SABIA, NÃO PERDERA. MARIE PARTICIPOU SIM, DAS BARRICADAS ESTUDANTIS DE 68, AO LADO DE ANTOINE, MAS SÓ SOUBE DISSO, AGORA, TANTOS ANOS DEPOIS...
                                                                    CIDA TORNEROS