Maracanã

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sábado, 24 de outubro de 2009

Beth Goulart interpreta a escritora Clarice Lispector no espetáculo "Simplesmente Eu"

RIO DE JANEIRO – Foram dois anos de pesquisa, seis meses de intensa preparação vocal e corporal e um mês de temporada no Centro Cultural Banco do Brasil de Brasília – além de uma vida de leituras e releituras. Até outubro, Beth Goulart vive Clarice Lispector no CCBB do Rio.




Beth Goulart interpreta a escritora Clarice Lispector no espetáculo "Simplesmente Eu"




Em São Paulo a estreia está prevista para dezembro. A adolescente Beth se encantou com "Perto do Coração Selvagem", seu romance de estreia (de 1943). Escrevia cartas para uma amiga que vivia em Paris e citava a autora. “Vivi uma busca existencial na adolescência e Clarice foi uma grande referência para mim. Ela é tachada de inacessível, de difícil de se compreender. Aqui, se explica um pouco”, brinca Beth, que é também a diretora de "Simplesmente Eu, Clarice Lispector" e responsável pela adaptação de seus textos para o teatro.


Em cena, encarna Joana, Lóri, de "Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres", Ana, do conto "Amor, de Laços de Família", e é Clarice – escritora, mãe, mulher. O que norteou Beth foi a vontade de traçar um paralelo entre elas e a trajetória de vida da autora, cuja literatura era ligada a seus questionamentos. Entre o divã, a mesinha com uma máquina de escrever, a poltrona e um banco, Clarice fala sobre amor, maternidade, angústia do viver, felicidade, transitoriedade.


A história da mulher que se depara com um rato morto na Avenida Copacabana é uma passagem cômica da peça. “As pessoas não associam o humor à obra de Clarice, mas ela tinha um humor meio de rir de si mesma.” Ao dar vida às personagens dos livros, a interpretação é mais expressionista. Quando é Clarice, Beth é mais natural.


Para chegar ao jeito de falar que a distinguia, uma mistura de língua presa e sotaque pernambucano (Clarice nasceu na Ucrânia e emigrou com a família para o Brasil, no Nordeste, aos 2 anos), ela contou com dicas de Paulo, filho de Clarice, que ficou comovido com a encenação. Assim como o público, ele reconheceu no rosto dela traços semelhantes aos da mãe.


Afora as leituras, a atriz ouviu o depoimento da escritora ao Museu da Imagem e do Som e a última entrevista, de 1977, gravada pouco antes da morte, aos 57 anos (foi veiculada na TV Cultura dez meses depois, a seu pedido). Para entender melhor o universo de Clarice, fez workshops com a psicanalista Daisy Justus, que analisa sua obra. Beth contou com a supervisão do diretor Amir Haddad, que lhe “iluminou o entendimento”.

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