Nosso encontro se deve ao amor comum que temos pelo Brasil e pela cultura japonesa.
Sua delicadeza na composição de hai kays me deixa sempre ensimesmada e lúdica.
Fazemos aniversário, ambos, no dia 2 de setembro..
Sou um pouquinho mais antiga, entretanto trocamos idéias sobre a mesma geração e histórias que vivemos nos tempos difíceis da nossa juventude, no que tange ao movimento político-estudantil.
André Bessa, eu saúdo você, não só pela nossa amizade internáutica, mas, principalmente , pela sua arte que me encanta. Também, preciso me penitenciar por ter falhado neste atraso de dois dias, mas, creia, meu carinho é maior que 48 horas, minha gratidão por seu afeto e presença, também, e além do mais, entre nós, permeia a sensibilidade que une gente assim, ora, ora, capaz de nascer no mesmo dia, e de comemorar o niver por muitos dias seguidos...dia 5 tem bolo na minha casa, festinha, etc. etc...desejo que na Suíça, também , você e sua esposa estejam na semana de comemorações...
Festejemos a vida, meu amigo, somos sobreviventes de uma geração que sonhou com um mundo melhor, né? Estamos, sim, fazendo a nossa parte, e disso temos que nos orgulhar. Saúde, paz e sucesso!
beijoooooooooooo
Cida Torneros
( e para homenagear nossa geração, um artigo antigo...)
ANOS REBELDES, QUE SAUDADE DAQUELE TEMPO!
(publicado 01/02/09, no site Bahia Já)
Aparecida Torneros
Foi um acaso, se bem que dizem que acaso mesmo não existe. Em meio ao trabalho, ao produzir os dizeres de uma placa comemorativa, para um colégio que vai ser inaugurado na próxima semana, e é a primeira obra do PAC, entregue no Rio de Janeiro, nem sei porque, o gerente que me atendia, em determinado momento, me ouviu falar que fui militante nos anos rebeldes. O tempo voltou, rapidamente, na minha cabeça, como um cometa alucinado. Falei do ex namorado que sumiu, depois que se engajou no MR8. Por alguns minutos, o filme daquela época, rodou e eu me vi com menos de 20 anos.
Contive a emoção, segui com as tarefas, voltei pra casa, cozinhei, jantei, assisti ao jornal Nacional, à novela que transmite as imagens da cultura indiana, escondi para debaixo do meu tapete de sensibilidade aquela coisinha estúpida ( pensei que fosse) que teimava me atormentar.
Fui para o computador, verifiquei que haviam publicado um artigo meu no site do Observatório da Imprensa, uma análise dos campeões de audiência da semana em que se iniciou a era Obama. Afinal , o relógio correu, passei dos cinquenta e tantos, o mundo mudou, casei, descasei, tive um filho, ele já tem mais de 30 anos.
E novamente, a tal nostalgia me pegou. Recordei as noites em que dancei e cantei "não confie em ninguém com mais de 30 anos", no final dos anos 60, imaginando que minha geração podia reformar o mundo e consertar o que estivesse torto na humanidade. Além da militância política, havia a causa hippie, pregando Paz e Amor, éramos um bando de sonhadores, lutadores, corajosos jovens que se conscientizavam da necessidade de lutar, protestar e concorrer para a mudança social, conquista de liberdade democrática, sede de justiça, e um arrazoado sem fim de propostas voltadas para uma sociedade mais justa e igualitária.
Foi-se o tempo, foram-se muitos anéis, mas sobraram muitos dedos, e ainda estamos aí, de alguma forma, construindo escolas, urbanizando favelas, negociando espaços para políticas sociais corretas e progressistas. Os que tombaram em prol desses ideais, não o fizeram em vão. Há, por parte das gerações seguintes, um furor tecnológico e consumista capaz de impulsionar novos sonhos.
A sensação de que há muito a fazer, e de que estamos ainda no meio do caminho, espetou-me durante horas. Desisti de entrar no msn e bater papo com amigos, o que normalmente faço no final da noite, antes de ir dormir. O sono não chegava ( começo agora a sentir sinais dele), e eu me perguntei onde buscar reviver aquele fôlego da juventude diante do futuro sonhado.
Coisa braba esse negócio de memorizar e tornar a sentir o que se passou conosco há tanto tempo atrás. Mania freudiana, voltar às lembranças, reatar os laços do inconsciente, trazer para o consciente, verbalizar sentimentos antigos, ultrapassar dores, sorrir com as alegrias que permanecem vivas na lembrança e seguir em frente.
Pois é o que faço agora. Sigo em frente, fico feliz em ver a nova escola, reaproveitamento de uma unidade militar do exército, desativada, que vai virar um pólo cultural numa zona extremamente carente de recursos e quase sem acesso à modernidade. Isso é saudável, é gratificante, é enriquecedor, me conforta.
Os anos rebeldes se transformaram em anos transparentes. Os ponteiros marcam a corrida louca do tempo que não pára, mas a saudade não me faz prisioneira do passado. Ajeito-me dentro de mim mesma, reconsidero o relicário de histórias que posso contar, minhas e dos meus contemporâneos, volto meus olhos para meus projetos pessoais, que incluem viagens, estudo de línguas que não domino ainda, produção de livros, voltar a dançar, visitar gente que não vejo há muito tempo, caminhar na pista Claudio Coutinho, respirar fundo, olhar o mar, sentir o vento, fixar nas retinas aquele céu azul, comer pipoca, tomar água de côco, contemplar a garotada correndo na praça, atender o telefone, e dizer: -Alô, meu Amor, ainda bem que você me ligou, pois eu já estava pensando que tinha ficado sozinha na Terra.
Aí, percebo que posso superar a nostalgia dos anos rebeldes, pois há um fórum social acontecendo no Pará, as pessoas se reunem e postulam mudanças, exigem respeitos para as minorias, para os diferentes, a democracia amadurece, meu país avança, meu povo se reorganiza como pode diariamente, e apesar dos pesares, com é bom fazer parte de tão embolado enredo. Imaginem se eu não tivesse histórias para contar, ou pior, se nós não tivéssemos vivido tudo isso para testemunhar agora?
Dou-me por satisfeita, aliás, deixo-me invadir pela felicidade de ter saudade daquele tempo e poder compartilhá-la com algum amigo fiel, alguma leitora atenta, algum parceiro desavisado, alguma companheira de luta, e tanta gente capaz de enfrentar a dureza da vida com a meiguice da prontidão que guarda o amanhã de nós todos. Melhor de tudo é fazer parte do clã dos nostálgicos que vão buscar forças nos próprios exemplos, visando reconstruir seu caminho enquanto se constróem novas escolas.
(publicado 01/02/09, no site Bahia Já)
Aparecida Torneros
Foi um acaso, se bem que dizem que acaso mesmo não existe. Em meio ao trabalho, ao produzir os dizeres de uma placa comemorativa, para um colégio que vai ser inaugurado na próxima semana, e é a primeira obra do PAC, entregue no Rio de Janeiro, nem sei porque, o gerente que me atendia, em determinado momento, me ouviu falar que fui militante nos anos rebeldes. O tempo voltou, rapidamente, na minha cabeça, como um cometa alucinado. Falei do ex namorado que sumiu, depois que se engajou no MR8. Por alguns minutos, o filme daquela época, rodou e eu me vi com menos de 20 anos.
Contive a emoção, segui com as tarefas, voltei pra casa, cozinhei, jantei, assisti ao jornal Nacional, à novela que transmite as imagens da cultura indiana, escondi para debaixo do meu tapete de sensibilidade aquela coisinha estúpida ( pensei que fosse) que teimava me atormentar.
Fui para o computador, verifiquei que haviam publicado um artigo meu no site do Observatório da Imprensa, uma análise dos campeões de audiência da semana em que se iniciou a era Obama. Afinal , o relógio correu, passei dos cinquenta e tantos, o mundo mudou, casei, descasei, tive um filho, ele já tem mais de 30 anos.
E novamente, a tal nostalgia me pegou. Recordei as noites em que dancei e cantei "não confie em ninguém com mais de 30 anos", no final dos anos 60, imaginando que minha geração podia reformar o mundo e consertar o que estivesse torto na humanidade. Além da militância política, havia a causa hippie, pregando Paz e Amor, éramos um bando de sonhadores, lutadores, corajosos jovens que se conscientizavam da necessidade de lutar, protestar e concorrer para a mudança social, conquista de liberdade democrática, sede de justiça, e um arrazoado sem fim de propostas voltadas para uma sociedade mais justa e igualitária.
Foi-se o tempo, foram-se muitos anéis, mas sobraram muitos dedos, e ainda estamos aí, de alguma forma, construindo escolas, urbanizando favelas, negociando espaços para políticas sociais corretas e progressistas. Os que tombaram em prol desses ideais, não o fizeram em vão. Há, por parte das gerações seguintes, um furor tecnológico e consumista capaz de impulsionar novos sonhos.
A sensação de que há muito a fazer, e de que estamos ainda no meio do caminho, espetou-me durante horas. Desisti de entrar no msn e bater papo com amigos, o que normalmente faço no final da noite, antes de ir dormir. O sono não chegava ( começo agora a sentir sinais dele), e eu me perguntei onde buscar reviver aquele fôlego da juventude diante do futuro sonhado.
Coisa braba esse negócio de memorizar e tornar a sentir o que se passou conosco há tanto tempo atrás. Mania freudiana, voltar às lembranças, reatar os laços do inconsciente, trazer para o consciente, verbalizar sentimentos antigos, ultrapassar dores, sorrir com as alegrias que permanecem vivas na lembrança e seguir em frente.
Pois é o que faço agora. Sigo em frente, fico feliz em ver a nova escola, reaproveitamento de uma unidade militar do exército, desativada, que vai virar um pólo cultural numa zona extremamente carente de recursos e quase sem acesso à modernidade. Isso é saudável, é gratificante, é enriquecedor, me conforta.
Os anos rebeldes se transformaram em anos transparentes. Os ponteiros marcam a corrida louca do tempo que não pára, mas a saudade não me faz prisioneira do passado. Ajeito-me dentro de mim mesma, reconsidero o relicário de histórias que posso contar, minhas e dos meus contemporâneos, volto meus olhos para meus projetos pessoais, que incluem viagens, estudo de línguas que não domino ainda, produção de livros, voltar a dançar, visitar gente que não vejo há muito tempo, caminhar na pista Claudio Coutinho, respirar fundo, olhar o mar, sentir o vento, fixar nas retinas aquele céu azul, comer pipoca, tomar água de côco, contemplar a garotada correndo na praça, atender o telefone, e dizer: -Alô, meu Amor, ainda bem que você me ligou, pois eu já estava pensando que tinha ficado sozinha na Terra.
Aí, percebo que posso superar a nostalgia dos anos rebeldes, pois há um fórum social acontecendo no Pará, as pessoas se reunem e postulam mudanças, exigem respeitos para as minorias, para os diferentes, a democracia amadurece, meu país avança, meu povo se reorganiza como pode diariamente, e apesar dos pesares, com é bom fazer parte de tão embolado enredo. Imaginem se eu não tivesse histórias para contar, ou pior, se nós não tivéssemos vivido tudo isso para testemunhar agora?
Dou-me por satisfeita, aliás, deixo-me invadir pela felicidade de ter saudade daquele tempo e poder compartilhá-la com algum amigo fiel, alguma leitora atenta, algum parceiro desavisado, alguma companheira de luta, e tanta gente capaz de enfrentar a dureza da vida com a meiguice da prontidão que guarda o amanhã de nós todos. Melhor de tudo é fazer parte do clã dos nostálgicos que vão buscar forças nos próprios exemplos, visando reconstruir seu caminho enquanto se constróem novas escolas.
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