Maracanã

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terça-feira, 28 de julho de 2009

Primavera em Portugal ( conto fictício)




Primavera em Portugal

Abril chegou com ares florais e pelas ruas era comum sentirmos o perfume misturado dos cravos e rosas ao passarmos sob os balcões a nos convidarem para alguma serenata em louvor aquelas raparigas sonhadoras debruçadas a observar os moços solteiros.

Meus pés me levavam ao encontro das pessoas amigas, nos cafés e nos teatros, tudo parecia ressurgir em energias de luz como se um encanto da primavera inundasse cada mulher ou homem em busca do seu motivo maior, talvez o grande amor ou o melhor dos sentimentos que deviam experimentar.

Lufadas de vento de pouco frio, sacudiram meus cabelos. Ajeitei-os com os dedos, pude escorrer por entre os fios, meu tato acostumado à seda e ao algodão, gostei de perceber a leveza das finas e embranquecidas madeixas, prova cabal da maturidade que me inundava o semblante. Revi meu tempo. Revi o tempo dos amigos e amigas. Foi-me dada a chance de reviver o sentido de um lugar antigo, apesar de novos olhares e novas expectativas.

O homem do meu carinho já me esperava numa das mesas na calçada da rua principal. Tinha no rosto o sorriso mais extasiante para me ofertar a alegria do encontro. Abracei-o com ternura. Sussurrei um elogio ao seu porte galante, senti-me presa ao seu mundo mágico. Nem cogitei em defender-me. Estava ali, de novo, para viver a primavera. Meu coração floriu. Ele me abraçou com firmeza. A emoção nos tomou conta, sabíamos que estava escrito.

A primavera seguiu seu curso. Brindamos naquela e nas muitas noites seguintes ao sentido da existência que nos é dado viver. Em maio, cantarolamos muitos fados nas madrugadas primaveris, estivemos unidos, trocamos afetos.

Nem quisemos pensar que a futura estação traria o veranico de calor e saudade. Saudades combinam com inverno...Saudades no verão, só as que provocadas pelas primaveras tão floridas como aquela em que nos dissemos tudo o que quisemos, sem floreios.

Tivemos uma primavera delicada, porém densa. Provamos da seiva da paixão ao passo que o amor, com famas de traidor, nos prendeu em rede de boa trama.

Depois, foi questão de nos adaptarmos ao adeus, transformá-lo em até breve, providenciar a volta, e , antes da próxima primavera, lá estava eu, novamente, enredada, nos braços dele, em Portugal.

Aparecida Torneros

Um comentário:

João Videira Santos disse...

Gosto muito desta autêntica trova poética. Parabéns!!!