Maracanã

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quarta-feira, 18 de março de 2009

Ouvindo "I love Paris", com Paul Mauriat



Ouvindo "I love Paris" com Paul Mauriat
Encontrei numa dessas bancas de cds players que liquidam porque parece que encalharam e ninguém dá bola para canções fora de época. Nem acreditei no preço, seis reais, minha nossa, um Paul Mauriat, aquela orquestra divina, do meu tempo de adolescente. Ali, com o título "I love Paris", esperando por mim, com uma foto reproduzindo uma pintura impressionista, de cafés parisienses, do início do século XX ou fins de outro tempo bem distante. Li "Catherine sobre a marquise de um deles, observei as mesas na calçada, as mulheres de chapéus, as roupas de inverno, todo mundo muito elegantemente trajado para saborear a vida. Aí, quem poderia resistir? Comprei e saí correndo de volta pra casa.

Liguei o som. Sentei no sofá, comecei a viagem dos sonhos. Só orquestrações maravilhosas e um desfile de canções como Pigalle, La vie en Rose, April in Paris, e uma versão de Paris Je T'Aime de arrebentar corações apaixonados. Bem, o meu, se me perguntarem, hoje, concluo que está de novo apaixonado, sim. É meu direito. Lutei muito contra essa recaída que pressentia acontecer. Está acontecendo.

Sempre amei Paris e nunca estive lá em corpo. Mas passeio por Paris, em sonhos, desde menina, isso eu não posso negar. Com requintes de madame conquistada por alguém fictício, tornado realidade, a cada vez que há o propósito forasteiro de olhar o céu daquela cidade-luz, nos filmes , nas fotografias, nos documentários.

Há alguns dias, fui a uma agência de viagem, com duas amigas com quem fiz um pacto de comemorar nossa amizade em Paris, e traçamos um roteiro. Pretendemos ir pela primeira vez à Europa, em abril próximo. Estamos contando os tostões. Estamos contando com a realização dos nossos sonhos, e incluimos Paris, como final do trajeto. Fecharemos com chave de ouro nossa estada por três países, que o dinheiro é curto, mas a felicidade é grande. Portugal, Espanha e França.

E esse Paul Mauriat, tão experto, a ressuscitar em mim, enquanto desliza sua música nos meus ouvidos, o sentimento de estar ali, nas margens do Senna, com elas, impressionantemente adolescente, extasiada com a história do velho continente, ao passo que meus ouvidos absorvem o barulho das suas ruas, e meus olhos se deslumbram com a paisagem dos seus múltiplos encantamentos.

Já me vejo a dançar em torno de mim mesma, imaginando o gosto do vinho que vamos tomar brindando à vida. Na minha boca, o sabor da baguete que uma senhora risonha terá me oferecido acompanhada de queijo especial. Na minha respiração, o compasso lascivo dos barcos que cruzam sob as pontes, tornando a vida mesmo cor de rosa para os apaixonados que vejo aos beijos, abraços, saudando o amor, o eterno amor.

Edith Piaf está presente em espiritualidade, impossível não estar com ela, ali, no lugar onde viveu sua saga maior e criou a arte mágica da sua passagem pela terra.

Um torvelinho de emoções me assalta. Conto os dias. Conto as moedas. Conto com a ajuda dos elementais para o vôo até lá. Pode parecer banal, hoje, uma ida até Paris, aos olhos da mocidade que já nasceu na era da internet. Para mim, que apreciei e vivi o tempo das missivas, desculpem o palavreado idoso, as tais cartas de amor que iam e vinham escondidas em meio a caixas arrumadas em porões de navios, trazendo e levando promessas de beijos, amores que balançavam com as marés, atravessando o Atlântico, estar em Paris será como ultrapassar a camada da atmosfera.

Menos, diriam os capitalistas atravessadores de bons negócios, num mundo moderno e globalizado, sedento de cifras, contas bancárias recheadas de euros, dólares, francos e libras. Menos, uma pinóia. Respeitem os cabelos brancos pintados de falsidade loura de uma senhora cuja alegria nem de longe se venderia a um índice que faz de cada país, hoje, um artigo de prateleira de supermercado, onde se deva investir ou não investir, como se brinca de dados, ou se pudesse avaliar a felicidade.

Mensurar o que não tem preço, é fácil para quem não tem idéia do valor de uma tarde amena, à beira do Senna, saboreando um gole de um tinto, direto no gargalo, recostada num poste de iluminação, observando a torre Eifel , ao fundo, no momento mágico em que as luzes da noite vem com o lusco-fusco, e alguém cantarola, ou assobia, uma dessas músicas que o Paul Mauriat imortalizou com sua orquestra.

Já consigo romancear algum olhar sorrateiro de um passante solitário em minha direção. Só um olhar. Ele se foi, apressado, mas o seu olhar era a nota que faltava para compor o quadro perfeito, aquele que Paris nos oferece em sonhos, sempre.

Quando lá estiver, com as duas amigas solidárias em superação e vida, prometo lembrar de todos vocês, um a um, como a multidão que conheceu Paris, ao nosso lado, ouvindo "I love Paris", com Paul Mauriat.

(artigo de 2008, viagem remarcada para maio de 2009)

Aparecida Torneros

Um comentário:

João Videira Santos disse...

Paul Mauriat...sem discussão!

Parabéns pela compra.

Bom e barato, nem sempre se encontra.

Quanto a Paris...bom, Paris é uma das minhas capitais de eleição.

Conheço bem (de mais!)

Depois, pelo seus conjuntos de interesse, amplos e diversos, "perco-me" por Londres e Nova Iorque.

Ambas já visitei diversas vezes.

...Mas se quiser que o olhar rasgue curvas e rectas e perder-me na inovação da arquitectura, Brasilia é a minha capital!

(...e que saudades tenho!...)

Neste "assalto" da saudade, eis as minhas capitais de eleição, neste caso, embaladas pelas doces e inesqueciveis orquestrações de Paul Mauriat

Beijo