Sábado, 1 de Novembro de 2008
Salve a Bahia de Todos os Santos!
A emoção, dizem os especialistas, poetas e psiquiatras, não tem muita explicação lógica, mas tem desvãos. Vai-se por ali e por aqui para chegar a alguma conclusão. Astral e energia contam, além do instante sublime em que se é tomado por ela, pela sensação inesquecível em que uma grande emoção invade da ponta do dedão do pé ao fio de cabelo.
Foi desse jeito que Salvador me fez sentir quando a olhei, do ponto de embarque no elevador Lacerda, lá do alto, vislumbrando o encontro, das suas histórias, uma cidade antiga que se juntava à nova, do seu secular namoro entre índios e brancos, onde os negros chegaram para completar a melhor mistura que compõe a raça brasileira.
Devia ter uns 7 anos, quando meu avõ Antonio, português que adorava viajar pelo Brasil, ao retornar de Salvador para o Rio de Janeiro, pelos idos dos anos 50 do século XX, deu-me um presente. Era uma pulseirinha com muitos balangandâs pendurados e coloridos, mas tinha o dourado como fundo e as figuras chocoalhantes me faziam ficar distraída, analisando-as, por horas a fio.
Foi desse jeito que a Bahia de todos os Santos entrou na minha vida. Na escola e nos folguedos infantis, houve época em que o barulho do balanço do meu adereço adentrava os ambientes primeiro do que eu, anunciando minha chegada alvoroçada sempre, com direito a explicações sobre o adereço soteropolitano. Elocubrei histórias com aquela pulseirinha. Ela me enfeitava com a idéia de que viera duma terra de sonho, justamente quando eu começava e escrever pequenos versos e redações para a escola, prenunciando minha carreira profissional, e , atenta, recortava das revistas, os trajes de baiana que as misses candidatas exibiam nos concursos de beleza.
Quando fui conhecer a capital Salvador, entremeando sonhos e realidade, depois de viver o tempo da juventude, com a música dos velhos e novos baianos, com a admiração pelos textos de Castro Alves e Rui Barbosa, além da sintonia caymmiana e da ter toda a coleção do escritor Jorge Amado, a me trazer as histórias e a magia da terra, senti que tudo o que imaginava era verdade pura. O cheiro da Bahia me invadiu, a vida preparou-me.
Desci em Salvador com a sensação de que sacudia o bracinho de menina para exibir o brinquedo- bijuteria, carregado de emoções. Ao olhar a Lagoa de Abaeté, pela primeira vez, contive o choro mas, na noite seguinte, conhecendo o Tororó, ao ver os Orixás iluminados, desaguei minha emoção de misturar a paixão antiga por aquelas figuras que me trouxeram a família real com sua toda a pompa em 1808, com a modernidade da tecnologia.
Descobri então que o tal quebranto da Bahia é mesmo a tentação da reunião de reis, sejam eles de Portugal , África ou de tribos índígenas, são também os príncipes da música, crenças, da fé e da alegria espraiada, dolência quatrocentona. Ao ler um caderno especial do jornal A Tarde sobre os 458 anos de Salvador, diante do conteúdo imenso que a cidade nos conta por séculos desbravados, só me restou ser levada pela emoção, sem muita explicação, ou melhor, com a certeza de que a cidade cresceu com fé e com trabalho. Virou cidade grande, mas conservou o encanto do lugar onde as pessoas se abraçam e se juntam para festejar.
Com modesta reverência, senti-me adotada pela cidade onde um amigo me contou que viu irmã Dulce, numa madrugada, abraçando um morador de rua como se fosse um bebê de colo. Ele me disse isso em frente ao lago das imagens dos orixás iluminados, quando tive a certeza de que eu era a menina da pulseirinha, que, finalmente, chegara à cidade do sonho para descobrir a história do lugar, onde o avôzinho enfeitiçado legou à neta articulista o sentimento soteropolitano.
Muitos anos depois, já senhora do meu tempo, comecei a escrever artigos para o jornal A Tarde, para o site Bahia Já, e me envolvi com o dia-a-dia baiano, tendo a oportunidade de trocar "axé" com seu público leitor, em diversas ocasiões. Agora, neste mês de todos os Santos, terei a chance de lançar meu livro "A Mulher Necessária", que reúne, entre outros, textos publicados no diário de maior tradição da Bahia.
De todas as crônicas escolhidas para compor a parte do livro que registra a produção baiana, uma me comove muito, falando no Bonfim, em momento de cadeia nacional, quando vi pela televisão, a procição das suas baianas, rumo ao seu monte, em peregrinação.
Lembrei da pulseirinha da minha infância, e me senti uma delas, sem precisar explicar mais nada...
Aparecida Torneros
Salve a Bahia de Todos os Santos!
A emoção, dizem os especialistas, poetas e psiquiatras, não tem muita explicação lógica, mas tem desvãos. Vai-se por ali e por aqui para chegar a alguma conclusão. Astral e energia contam, além do instante sublime em que se é tomado por ela, pela sensação inesquecível em que uma grande emoção invade da ponta do dedão do pé ao fio de cabelo.
Foi desse jeito que Salvador me fez sentir quando a olhei, do ponto de embarque no elevador Lacerda, lá do alto, vislumbrando o encontro, das suas histórias, uma cidade antiga que se juntava à nova, do seu secular namoro entre índios e brancos, onde os negros chegaram para completar a melhor mistura que compõe a raça brasileira.
Devia ter uns 7 anos, quando meu avõ Antonio, português que adorava viajar pelo Brasil, ao retornar de Salvador para o Rio de Janeiro, pelos idos dos anos 50 do século XX, deu-me um presente. Era uma pulseirinha com muitos balangandâs pendurados e coloridos, mas tinha o dourado como fundo e as figuras chocoalhantes me faziam ficar distraída, analisando-as, por horas a fio.
Foi desse jeito que a Bahia de todos os Santos entrou na minha vida. Na escola e nos folguedos infantis, houve época em que o barulho do balanço do meu adereço adentrava os ambientes primeiro do que eu, anunciando minha chegada alvoroçada sempre, com direito a explicações sobre o adereço soteropolitano. Elocubrei histórias com aquela pulseirinha. Ela me enfeitava com a idéia de que viera duma terra de sonho, justamente quando eu começava e escrever pequenos versos e redações para a escola, prenunciando minha carreira profissional, e , atenta, recortava das revistas, os trajes de baiana que as misses candidatas exibiam nos concursos de beleza.
Quando fui conhecer a capital Salvador, entremeando sonhos e realidade, depois de viver o tempo da juventude, com a música dos velhos e novos baianos, com a admiração pelos textos de Castro Alves e Rui Barbosa, além da sintonia caymmiana e da ter toda a coleção do escritor Jorge Amado, a me trazer as histórias e a magia da terra, senti que tudo o que imaginava era verdade pura. O cheiro da Bahia me invadiu, a vida preparou-me.
Desci em Salvador com a sensação de que sacudia o bracinho de menina para exibir o brinquedo- bijuteria, carregado de emoções. Ao olhar a Lagoa de Abaeté, pela primeira vez, contive o choro mas, na noite seguinte, conhecendo o Tororó, ao ver os Orixás iluminados, desaguei minha emoção de misturar a paixão antiga por aquelas figuras que me trouxeram a família real com sua toda a pompa em 1808, com a modernidade da tecnologia.
Descobri então que o tal quebranto da Bahia é mesmo a tentação da reunião de reis, sejam eles de Portugal , África ou de tribos índígenas, são também os príncipes da música, crenças, da fé e da alegria espraiada, dolência quatrocentona. Ao ler um caderno especial do jornal A Tarde sobre os 458 anos de Salvador, diante do conteúdo imenso que a cidade nos conta por séculos desbravados, só me restou ser levada pela emoção, sem muita explicação, ou melhor, com a certeza de que a cidade cresceu com fé e com trabalho. Virou cidade grande, mas conservou o encanto do lugar onde as pessoas se abraçam e se juntam para festejar.
Com modesta reverência, senti-me adotada pela cidade onde um amigo me contou que viu irmã Dulce, numa madrugada, abraçando um morador de rua como se fosse um bebê de colo. Ele me disse isso em frente ao lago das imagens dos orixás iluminados, quando tive a certeza de que eu era a menina da pulseirinha, que, finalmente, chegara à cidade do sonho para descobrir a história do lugar, onde o avôzinho enfeitiçado legou à neta articulista o sentimento soteropolitano.
Muitos anos depois, já senhora do meu tempo, comecei a escrever artigos para o jornal A Tarde, para o site Bahia Já, e me envolvi com o dia-a-dia baiano, tendo a oportunidade de trocar "axé" com seu público leitor, em diversas ocasiões. Agora, neste mês de todos os Santos, terei a chance de lançar meu livro "A Mulher Necessária", que reúne, entre outros, textos publicados no diário de maior tradição da Bahia.
De todas as crônicas escolhidas para compor a parte do livro que registra a produção baiana, uma me comove muito, falando no Bonfim, em momento de cadeia nacional, quando vi pela televisão, a procição das suas baianas, rumo ao seu monte, em peregrinação.
Lembrei da pulseirinha da minha infância, e me senti uma delas, sem precisar explicar mais nada...
Aparecida Torneros
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