Esta foto registra um momento doce...sim estamos na maior loja de brinquedos e doces da Quinta Avenida, e meu anfitrião, como eu, não resiste a escolher guloseimas na tarde de um domingo feliz que passamos juntos.
Foram muitos dias de alegrias, risadas, conversas, passeios, desprendimentos e descobertas.
Nosso encontro no mundo deu-se pela internet, há cerca de um ano e meio atrás, quando passamos a ser amigos, trocando conversas sobre a vida e o nosso dia a dia.
Quando surgiu o convite para ir a Nova York, eu estava enrolada com problemas pessoais de diversas ordens e o mais grave deles era o estado de saúde da minha mãe.
Convite aceito e viagem adiada. Tentativa de ir em julho e o visto americano protelado para agosto. Viagem marcada então para setembro mas questões de trabalho só me permitiram finalmente marcar para outubro e lá fui eu ao encontro do Vittorio, italiano de Turin, que já viveu muitos anos no Brasil e mora há quase uma década em N. Y.
Nossos diálogos ficaram mais ansiosos, pois teríamos que ultrapassar barreiras e ir além do conhecimento via msn, telefonemas e emails.
No dia em que cheguei por lá, nossa primeira conversa telefônica denotou ansiedade e alegria. Marcamos de nos ligarmos mais tarde...adiamos um pouco mais o momento dos "olhos nos olhos".
Fui para um bar-restaurante na 40 Street, o Jacks.
Lá, dei as coordenadas de onde estava.
Esperei... talvez por uma hora, ou terá sido menos, nem sei...mas eram segundos arrastados...
Evidentemente que já sabíamos muito um sobre o outro, entretanto, somos duma geração que se moderniza de modo surpreso, com esses aparatos que aproximam seres em lugares distantes e os tornam cúmplices de um teor diferenciado de felicidade.
A amizade já era uma conquista nossa, e dela não íamos mesmo abrir mão. Maduros e sensatos, vividos e corajosos, lá fomos nós em busca de satisfazer nossa mútua curiosidade.
Dali, saímos caminhando, de mãos dadas, pelas ruas da frenética Manhathan. Um sem número de vezes nos sentimos envolvidos pela sensação da novidade e, falo por mim, um típico momento adolescente me invadiu.
Bastava só aquela tarde, a travessia das ruas, o ar daquela cidade que mais parece uma Babel, o som das nossas vozes, e já teríamos realizado o sonho de nos conhecermos na vida real.
Não nos intimidamos com o complicado enredo, o trabalho que o chamava a todo instante, o meu desconhecimento do lugar, nada disso... o que nos enchia de brilho as faces, era mesmo a satisfação de estarmos ao vivo e a cores, um em frente ao outro...
Num universo de milhões de seres humanos que nunca se cruzaram, havia então duas criaturas que planejaram estar juntos e conseguiam agora caminhar lado a lado , ainda que fosse por algumas horas...
Foram mais, muitas mais...uma sucessão de trocas e carinhosas confissões. Duas vidas que se dispuseram a doar o melhor de si, o bem dos seus corações e até a criancice renovada das suas histórias individuais, Vittorio e eu, decidimos sermos nós mesmos, sem subterfúgios ou máscaras.
Vivemos experiências gratificantes e necessárias, compartilhamos refeições, ele se revelou um grande cozinheiro com seu tempero italiano e eu me deliciei com pratos preparados pelo seu afeto.
O tempo passou depressa, atropelou-n0s na correria da vida, saí muitas vezes sozinha a passeio e para visitar museus, e até para viajar a Washington, com um grupo de turistas brasileiros.
Marcamos algumas saídas em conjunto, fomos comer comida japonesa numa noite ou churrasco à brasileira em outro dia, e jantamos no El Corso, onde conheci seu filho, ultrapassamos a temporada de ficarmos assim, companheiros de caminhada por tempo breve, mas profundo.
Ele me presenteou de várias maneiras, tanto com bens materiais, como com a delicadeza de tratamento e o justo respeito humano. Apresentou-me o lado humano da cidade da loucura. Na sua casa, havia aconhego e ternura, capacidade minha e dele em dividir preocupações com a crise econômica que alternamos com filmes no vídeo ou dvc, ou assistindo programação inteligente da televisão italiana ou do noticiário sobre as eleições americanas.
Eu o admirei e aprendi a gostar do seu jeito de ser...mais que isso...serei eternamente grata pela doçura da sua recepção para comigo...e, claro, ofereci minha casa no Brasil, no RJ, para que ele venha me visitar e eu possa retribuir tamanha acolhida, que não esquecerei jamais. Trouxe na minha lembrança o aperto de mão que trocamos no caminho do aeroporto, quando sabíamos que tínhamos que nos despedir, mas que estávamos apenas nos permitindo cantarolar baixinho uma das tantas canções que tiramos do baú, para nos sintonizarmos e nos identificarmos em nossas histórias e gostos. Talvez eu tenha cantado sussurrando..."The shadow of your smile, when you are gone", lembro disso... mais um good time... e, quando ele ficou pra trás e eu adentrei pelo aeroporto, agradeci baixinho, dentro de mim, o quanto essa viagem fora inusitada, feliz, com gosto de sonho realizado, e , sobretudo, cheia de doçura, um intervalo que eu chamei brincalhonamente de "emergência amorosa", num texto de um email em que pedia autorização ao meu chefe para me ausentar por alguns dias do trabalho.
Aparecida Torneros
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