Arruda conversou comigo, ou melhor, eu contei quase tudo...sobre a viagem a NY...
O analista é aquele que ajuda a repensar a vida...da gente e do entorno da gente...eu sei disso...
Falei muito sobre meus dias convivendo com um ser tão carismático como é o Vittorio...
Sua vida daria um livro, se ele parar pra me narrar cada episódio, a história é forte e emocionante, dessas vidas que mudam de lugar e de rumo, com a leveza dos ventos e a fortaleza das rochas, as coisas se vão em redemoinho, mas o protagonista se eleva e voa para o futuro, empreendendo chegadas e abandonando partidas, como num processo depurativo, que, ao mesmo tempo, é renovador, é impulsivo, é producente...
Assim eu o captei, nos poucos dias ao seu lado, absorvendo sua saga de viver e respirar trabalho, luta, negócios, meetings, administrando pessoas e sonhando com reformas de ambientes aconchegantes e práticos...
Arruda foi enfático na pergunta repentina:
- vc sente saudade dele?
Como responder a essa pergunta do analista?
Saudade a gente sente de tudo que é bom e de quem nos faz o bem, pensei primeiro...
O "Sim" saiu imediato..mas não era só isso...
Não se resume a uma saudade daquelas apaziguadas, quando a gente põe de lado a vida, e pára para relembrar bons momentos...
Esse tipo de saudade dá pra levar e continuar vivendo sem grandes questionamentos...
O vazio que porventura surgir, a gente pode preencher com atividades, com música, leitura, amigos, família...essa saudade cujo buraco se pode tapar aqui e ali, de um modo ou de outro, é saudade saudável, eu diria...
Mas, a saudade que sinto do Vittorio é diferente...
É de um pedaço meu que ficou lá...isso eu nâo consegui dizer ao analista...nem parei para concluir ainda, a respeito...
É que estou com saudade do meu braço seguro no do meu companheiro de dias em NY, do seu aperto de mão...mas é da minha própria mão segura na sua que sinto saudade... deixei na mão dele mais que o calor, deixei algumas células, acho, tem alguma pele minha que não viajou de volta comigo...daí, que essa saudade é nova pra eu sentir...
Uma saudade esquisita, de estar deitada num sofá da sala da casa dele e ver seus movimentos na cozinha, aprontando o jantar, enquanto o silêncio se quebra com alguma pergunta em italiano, uma resposta em português, um comentário em espanhol, uma televisão ligada falando em português...
A saudade do Vittorio é poliglota, torna-me idiota, põe-me sem resposta concreta, faz de mim uma elocubradora de respostas em forma de subterfúgios, metáforas, talvez palavras desconexas, olhos que buscam imagens no vazio, ouvidos que ouvem vozes distantes, olfatos que recordam temperos de molhos de talharins, gostos de raviolis e queijos, cervejas com sabor de cerejas, pêssegos recortados e arrumados em pratinhos matinais, uvas melosas degustadas em conjunto, saladas servidas em grandes potes de vidro, conversas infinitamente adiadas sobre assuntos finitos, respirações profundas, beijos de boa noite, compras em lojas de roupas e sapatos, telefonemas entrecortados por risadas, elogios aos meus óculos brancos, aos sapatos estilosos dele, encontros ao pé da escadaria para subir com as sacolas do mercado, minha nossa, que saudade mais doida é essa?
Falando em italiano, não é piccola cosi... é bem maior até...
Dizendo em english, it is the best...sorry!!!
Hablando em castellano, es un cierto dolor de alma...
Abrasileirando o que sinto, é uma saudade daquelas que arrebentam coração e razão...tudo junto...
Vou contar pro analista que sentir saudade assim é tão bom e tão mau...
Paradoxo e doidice, essa saudade poliglota precisa ser traduzida por uma única palavra que pode curá-la: REENCONTRO!!!
maria aparecida torneros
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