Quando li "Mutações", livro de Liv Ullman, a musa de Bergman
Eu tenho o livro, capa cinza-prateada, edição de mais de 30 anos. Lembro que naquela época ele ficou por muito tempo na minha bolsa, alcance fácil, porque sempre o folheava para me espelhar nos textos sinceros que compunham a sucessão de revelações pessoais, escritas pela atriz sueca, Liv Ullmann.
Como ela, toda uma geração de mulheres, hoje na faixa dos 50, 60 e 70, encontravam-se na mais fervilhante fase de "mutações" internas e posturais diante daquele século XX que nos cobrava tanto e ao qual mergulhamos de cabeça na tentativa de sermos vistas como seres capazes de um lugar ao Sol, no mundo antes predominantemente dominado pelo poder masculino.
Liv está no Brasil, acabo de ler, sendo homenageada por sua produção cinematográfica e literária, com direito ao lançamento da segunda edição do bendito livro "Mutações".
Em entrevista concedida ao chegar a São Paulo, ela, aos 69 anos declarou:
"- Acharam que eu era feminista. Sempre acreditei que homens e mulheres eram iguais, mas não me achava feminista e nem achava que queimar soutiens era a coisa mais feminina que se devia fazer. Reli o livro há 15 anos. Muitas coisas ainda se encaixam, mas eu mudei também. No entanto, ninguém muda tanto. Então, o livro ainda reflete quem eu sou."
Quando eu li "Mutações", uma coisa me marcou muito: a interiorização dos sentimentos de uma mulher sintonizada com o seu tempo que não se deixou contaminar pelo sucesso e se colocou como um ser humano capaz de compartilhar dúvidas, constatações, medos e esperanças.
Hoje, essa senhora que foi a musa do grande cineasta Igmar Bergman, com quem foi casada e teve uma filha, demonstra o quanto é produtiva como diretora, atriz e escritora, recebendo merecida homenagem em festividade da Cinemateca de Sâo Paulo, além de oferecer suas reflexões experientes sobre o mundo do cinema, defendendo o cinema transformador, aquele que causa impacto na vida das pessoas e as faz repensar seu dia a dia.
Liv é musa de toda uma geração de homens e mulheres que se identificam com um tipo de cinema reconhecidamente artístico e forte, "bergmaniano", impregnado de profundas observações. Com intensas tomadas de rostos expressivos, como o dela, esse gênero nos faz viajar pelo mundo maravilhoso da tela questionadora, no transformando em num público que sai da sala de projeção direto para intermináveis bate-papos que podem se desdobrar em horas, dias, meses ou anos de descobertas interiores a partir de um cena, um diálogo ou uma imagem inesquecível.
Reler e rever Liv é um prazer renovado, e homenageá-la é digno de registro e congratulações, ela não só merece como nos dará a contrapartida, certamente, com sua presença no Brasil, a incentivar a nova geração de cinéfilos e estudantes de cinema. Vou pegar meu exemplar antigo de "Mutações", reler e me sentir em plena mutação, como ela, sem mudar tanto assim, entretanto.
Aparecida Torneros
Jornalista - Rio de Janeiro
Eu tenho o livro, capa cinza-prateada, edição de mais de 30 anos. Lembro que naquela época ele ficou por muito tempo na minha bolsa, alcance fácil, porque sempre o folheava para me espelhar nos textos sinceros que compunham a sucessão de revelações pessoais, escritas pela atriz sueca, Liv Ullmann.
Como ela, toda uma geração de mulheres, hoje na faixa dos 50, 60 e 70, encontravam-se na mais fervilhante fase de "mutações" internas e posturais diante daquele século XX que nos cobrava tanto e ao qual mergulhamos de cabeça na tentativa de sermos vistas como seres capazes de um lugar ao Sol, no mundo antes predominantemente dominado pelo poder masculino.
Liv está no Brasil, acabo de ler, sendo homenageada por sua produção cinematográfica e literária, com direito ao lançamento da segunda edição do bendito livro "Mutações".
Em entrevista concedida ao chegar a São Paulo, ela, aos 69 anos declarou:
"- Acharam que eu era feminista. Sempre acreditei que homens e mulheres eram iguais, mas não me achava feminista e nem achava que queimar soutiens era a coisa mais feminina que se devia fazer. Reli o livro há 15 anos. Muitas coisas ainda se encaixam, mas eu mudei também. No entanto, ninguém muda tanto. Então, o livro ainda reflete quem eu sou."
Quando eu li "Mutações", uma coisa me marcou muito: a interiorização dos sentimentos de uma mulher sintonizada com o seu tempo que não se deixou contaminar pelo sucesso e se colocou como um ser humano capaz de compartilhar dúvidas, constatações, medos e esperanças.
Hoje, essa senhora que foi a musa do grande cineasta Igmar Bergman, com quem foi casada e teve uma filha, demonstra o quanto é produtiva como diretora, atriz e escritora, recebendo merecida homenagem em festividade da Cinemateca de Sâo Paulo, além de oferecer suas reflexões experientes sobre o mundo do cinema, defendendo o cinema transformador, aquele que causa impacto na vida das pessoas e as faz repensar seu dia a dia.
Liv é musa de toda uma geração de homens e mulheres que se identificam com um tipo de cinema reconhecidamente artístico e forte, "bergmaniano", impregnado de profundas observações. Com intensas tomadas de rostos expressivos, como o dela, esse gênero nos faz viajar pelo mundo maravilhoso da tela questionadora, no transformando em num público que sai da sala de projeção direto para intermináveis bate-papos que podem se desdobrar em horas, dias, meses ou anos de descobertas interiores a partir de um cena, um diálogo ou uma imagem inesquecível.
Reler e rever Liv é um prazer renovado, e homenageá-la é digno de registro e congratulações, ela não só merece como nos dará a contrapartida, certamente, com sua presença no Brasil, a incentivar a nova geração de cinéfilos e estudantes de cinema. Vou pegar meu exemplar antigo de "Mutações", reler e me sentir em plena mutação, como ela, sem mudar tanto assim, entretanto.
Aparecida Torneros
Jornalista - Rio de Janeiro
Um comentário:
Oi, adoro teus textos...
Podes me indicar a editora deste livro? Era uma coleção e tinha um (lembras o nome) da Marina Colasanti, não?
Perdi meus exemplares e gostaria de comprá-los novamente ...
Bjs
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