Ele foi um cachorro valente...apesar de pequenino, tinha amor pela vida, buscava caminhar, já cego e alquebrado, veio ficar na minha casa nos últimos seis meses, mas era o cachorrinho da minha mãe, que não tinha mais condições de tomar conta dele. Quando eu viajava, o deixava na clínica. Ele me reconhecia pelo cheiro, mesmo velhinho, balançava o rabo e fazia festa. Reclamava como um vovozinho se algo nao lhe ia bem, resmungava.
Às vezes, eu o envolvia em manta e o embalava como um bebê ( ele só pesava 3 kilos), ficou internado várias vezes, hospedado na veterinária, onde era querido e cohecido. Semana passada veio pra casa, e nestes dias, eu o senti se despedindo. Seu corpo não respondia mais direito a nada. As patinhas traseiras travavam. Ele reclamava, mas tentava comer, dormia horas no tapete da sala. De madrugada, roçava na porta do meu quarto, me chamando. Como já nao controlava os esfincters, eu o banhava no meio da noite, com água quente, ele se acalmava e voltava a dormir, sono profundo, mas no domingo, anteontem, recusou-se a comer, a beber, e chorou ...um choro de despedida...levei-o na segunda cedo para a clínica. A veterinária colocou-o no soro, e me pediu 24 horas para pensar, eu devia ligar hoje cedo e decidir pelo sacrifício.
Tudo o que fiz foi rezar, enquanto lavava as mantas dele ontem à tarde, meu choro era um pedido de que a morte lhe chegasse sem que eu precisasse ser responsável por ela. Lembrei-me então de S. Francisco de Assis, considerado protetor dos animais, em cuja igreja estive orando em maio passado, na Italia, e pedi, que o Santo, se pudesse, tomasse conta do destino do Benginho.
Acordei hoje e protelei ligar para a clínica. Eu não queria decidir. Busquei distrair-me batendo papo no computador com um italiano chamado Enzo. a manhã passou correndo. Eu não queria pensar na responsabilidade de mandar sacrificar o cãozinho.
Mas quando consegui telefonar, já hora do almoço, a médica veio ao telefone informar que ele falecera às 7 da manhã, de morte natural, no soro, dormindo.
Lembrei então, de repente, que hoje é o dia de S. Francisco de Assis...e chorei muito, agradeci que o Benginho descansou...estou sentindo imensa saudade do seu caminhar lento pela casa, da sua graça de velhinho valente. Lembro das vezes em que era bem novinho e dava pulos altos ao nos receber na casa da mamãe.
Não tive coragem de ir lá e vê-lo agora. Pedi ao meu filho que resolva tudo pra mim, sobre a cremação, e busquei a última foto que fiz dele, esta semana, enquanto dormia calmo no tapete da sala.
Quando ele reclamava eu dizia: Bengi, estou aqui, você não está sozinho. Já nem sei se ele me ouvia. Só sei que eu cuidava de um cachorrinho velho e valente, amoroso e reclamão, companheiro que foi da minha mãe, por tantos anos, fiel pois, há 3 anos atrás, quando ela esteve internada no hospital, doente, ele não quis comer todos os dias enquanto ela nao retornou para casa.
Não sei se os cães tem alma. Sei somente que eles sabem amar. E nos dão exemplo de fidelidade que muitas vezes seres humanos não sabem dar.
Acho que S.Francisco o recebeu em algum lugar da Itália. Quando estive na igreja dele, contei sobre o Bengi, achei que o santo devia saber que havia um cachorrinho no Brasil que amava a vida, amava as pessoas, lutava para prolongar sua estada aqui e que viveria até o dia em que S.Francisco o viesse buscar.
Se tudo o que estou escrevendo ou pensando ou sentindo tem o reflexo da minha tristeza por perder o Bengi, creio que tem mais que isso, tem a certeza do quanto esse animalzinho me ensinou sobre a Vida.
Cida Torneros
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