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sábado, 13 de agosto de 2011

Juíza Patrícia Acioli: marcada para morrer ou vestida para matar?



Juíza Patrícia Acioli: marcada para morrer ou vestida para matar?

O chocante assassinato da Juíza Patrícia Acioli, em Niterói, esta semana, crivada de balas, ao chegar sozinha em sua casa, é prova cabal do quanto uma sociedade pode estar refém dos "fora da lei", e até que ponto pode chegar o desafio de retormar os rumos para se acabar com a impunidade que permeia uma rede de malfeitores, corruptos e corruptores, dentro e fora dos poderes constituídos, numa complascência que se sente incomodata quando alguém apenas é sensato, cumpre seu dever e aplica a lei, como a juíza morta tinha fama de ser linha dura para com o crime organizado. Ela estava vestida com a toga que pretende "matar" as chances recorrentes dos criminosos oficiais ou oficiosos, daqueles que se gabam por aí, de não temer a justiça, a tal justiça que pode "até" se corromper, nalgum ponto frágil, possibilitando o exercício covarde de ataques mortais e odientos executados por encapuzados.

A ficção nos inunda sempre com histórias novelescas ou cinematográficas onde mulheres são vítimas ou mentoras de violência. Lembro de um filme, dos anos 80, intitulado Vestida para Matar ( Dressed to Kill) , do diretor Brian de Palma, com Michel Cainea e Angie Dickisnson, fortemente influenciado pela obra de  Alfred Hitchcock. Nele, uma
mulher vive um tórrido caso extraconjugal com um estranho e é morta a navalhadas por psicopata, ao deixar o amante. Com a ajuda de uma única testemunha, o filho da vítima tenta descobrir quem a assassinou.

A novela das nove traz a figura da Norma, atualmente em evidência, criatura que age dubiamente no tocante a ser conivente com a transgressão da lei ou se fazer de vítima da realidade que é ter cumprido pena sem ter sido culpada dos crimes que um tal personagem chamado Leonardo cometeu e lhe jogou nas costas. Nas voltas da vida que a novela  oferece aos telespectadores, a moça antes ingênua, torna-se ardilosa, talvez seja até mesmo a cúmplice perfeita para o criminoso frio de quem ela deseja se vingar, à primeira vista.

Mulheres vestidas para matar, mulheres marcadas para morrer, mulheres corajosas ao exercer seus direitos e deveres, mulheres que se escondem sob véus de hipocrisia, mulheres guerreiras para enfrentar discriminação , mulheres amedrontadas para decidir seu futuro, há uma plêiade de grande variedade entre nós, no tal mundo moderno, desde quando saímos às ruas, fomos para as universidades, fizemos concursos, ascendemos a postos de comando e decisão, assumindo responsabilidades e seus consequentes riscos.

Um artigo que li, já há algum tempo, assinado por Clóvis César Lanaro, diz o seguinte:

"Quando a sociedade é complacente com a violência, ou é culpada ou perdeu a esperança.
Quando a violência chega ao ponto de não fazer escolhas de ataque, quer chamar a atenção para algo mais profundo. E mais profundo do que a perda de uma vida.
E a que a violência quer chamar a atenção? Além de mostrar poder, a violência indiretamente mostra a hipocrisia da sociedade."


No caso da morte da Juíza Patrícia Acioli, de cuja vida pessoal sabemos muito pouco, apenas que tinha 47 anos, deixou três filhos e há apenas uma foto dela com semblante calmo e risonho, tirada talvez em algum momento em que seu coração se sentia pleno de vida bem vivida, vida normal, vida  conquistada com trabalho, com obrigações, com consciência tranquila do dever cumprido, mas, ela estava marcada para morrer, na lista dos magistrados que o crime organizado decide eliminar porque, naturalmente, devem representar impecilho para seus objetivos excusos, sua sede de ganhos atravessados, etc. etc.

O crime que vitimou Patrícia Acioli foi o primeiro registrado no Estado do Rio contra um magistrado em 260 anos. Alvejaram uma mulher, que foi assassinada exatamente assim,  assassinada assim, à queima-roupa, manchando de sangue a história da magistratura brasileira.


Não sei como ela estaria vestida na hora em que sucumbiu aos seus carrascos, mas imagino que estivesse bem trajada, talvez tivesse deixado a toga no tribunal, mas , com certeza, vestia o modelo ideal para fazer justiça com as armas que a Lei oferece à Sociedade, fazendo cumprir a tal Lei Soberana, Patrícia estava "vestida para viver",  e embora tenha sido atingida, sabemos que nós honraremos sua memória, clamando punição para seus algozes, seriedade para as investigações, exclusão para os que compactuam com o crime nas lides judiciárias e policiais, e, sobretudo, um fim para a  hipocrisia da nossa sociedade.


Patrícia, sua luta continua, porque é a luta de uma população que tem sensibilidade suficiente e é maioria. Os que a marcaram para morrer, podem até se julgar impunes e poderosos, mas são minoria e merecem que a justiça lhes sentencie cadeia!  
Cida Torneros

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