Roberto Carlos, 70 anos, e suas perdas femininas: Nice, Maria Rita, Lady Laura e Ana Paula
Ele está completando 70 anos neste abril de cores mil, como diria o poeta Vinícius de Moraes. O Rei anda coberto de justas homenagens por parte de uma imensa legião de admiradores que o acompanham em alegrias e dores. Sua vida tem sido pontilhada de provas já muito relatadas pela mídia, com histórias fortes desde o acidente na infância que atingiu sua perna, até o calvário da enfermidade que acometeu sua esposa amada, sempre lembrada, Maria Rita, aquela do sorriso infantil e olhar de primeira fã.
Quando ele acaba de sair vitorioso com a escola de Samba Beija Flor, no carnaval carioca, um mundo de felicidade aumentava as constantes emoções pelas quais o Rei Roberto Carlos costuma passar cantando que o importante é vivê-las..."O importante é que emoções eu vivi", ele repete nos palcos do mundo, incluindo os flutuantes, nos cruzeiros disputados quando o artista tão identificado com as ondas do mar da vida, veste-se de capitão das águas e singra sua poesia encantando os corações que o idolatram e com ele dividem também suas perdas, especialmente femininas, num processo quase freudiano de quem ama a figura materna, além da vida, acima do suporte curto que os anos podem representar.
Quando jovem, quem beira os 60, traz na memória, as imagens do seu casamento civil,realizado na Bolívia, com a bela Nice, na época desquitada ( não havia divórcio no Brasil), uma linda esposa que trazia a filha de dois anos, Ana Paula, que ele adotou dando sobrenome e criando para a vida. Seus dois filhos com Nice, Segundinho e Luciana, foram recebidos pela irmã, com afeto familiar, o que é mostrado em reportagens de época, a menina foi flagrada apontando o irmãozinho Dudu, com palavrinhas do tipo: ele é o meu neném.
Tudo isso é bom que seja lembrado para que se ratifique uma característica marcante da personalidade deste famoso cantor brasileiro, ele espalha amor não só através das suas canções, interpretações, mas, sobretudo, no efetivo ato de praticá-lo na acepção mais profunda. Preza amigos, estimula-os e os acode, mas recebe também por parte destes, o acolhimento de que precisa quando as ondas tempestuosas da vida o fazem baquear, como na recente perda da filha Ana Paula, às vésperas do aniversário de 70 anos, exatamente quando completa um ano da perda da mãe amada, Lady Laura.
Perdeu a mãe dos filhos, Nice, de quem foi amigo, apesar da separação, e a quem sempre assistiu carinhosamente.
Roberto Carlos não se esconde do seu público mesmo que haja dor nos seus olhos, ele chora como todos nós, e este lado seu é tão forte que o identifica com o mais comum dos mortais, faz dele um ser tão familiar que é possível perceber que o povo ri com ele, chora com ele, se emociona com ele, reza por ele e fica ao seu lado, numa simbiose quase mística de compreensão, admiração, irmandade e respeito amoroso.
Roberto, o novo setentão, é gente como a gente, é filho, pai, avô, namorado, maridão, amigo de fé, companheiro, irmão camarada, pronto pra nos oferecer força com suas músicas que foram se incorporando aos momentos de nossas vidas.
Ele, apesar da maré braba que muitas vezes o surpreende e entristece, sabe que "é preciso saber viver" e encontra-se , certamente, receptivo aos nossos abraços, de milhões de amigos que ele conquistou ao longo do tempo, de 70 anos de uma vida compartilhada com as nossas, de um jeito tão especial que somos capazes de lhe oferecer ombros para que descanse em nossos corações ou para que sinta o quanto aprendemos a amá-lo, mas com palavras, fica difícil...
" eu tenho tanto pra lhe falar, Roberto, mas com palavras não sei dizer, como é grande o meu amor por você", estamos sussurrando no seu ouvido, no dia do seu aniversário, que tem "cabeça de homem, mas um coração de menino"... nós é que agradecemos por sua presença na história de cada um de nós, saiba disso, e cada perda sua é nossa também, mas cada vitória, conquista, alegria e superação, faz parte de nossa trajetória, ao seu lado, "entendeu, Bicho?"
Cida Torneros
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