aqui tem música, poesia, reflexões, homenagens, lembranças, imagens, saudades, paixões, palavras,muitas palavras, e entre elas, tem cada um de vocês, junto comigo... Cida Torneros
Maracanã
domingo, 1 de agosto de 2010
A alquimia da diáspora
artigo pubicado no jornal A Tarde, Bahia, 13/07/06
A alquimia da diáspora
APARECIDA TORNEROS
O jornalista José do Patrocínio, mestiço, filho de um padre branco
com uma negra escrava, defensor dos seus irmãos da África, tribuno
eloqüente, era como um animal selvagem a urrar contra a caçada
tempestuosa da escravidão.
Por isso, foi chamado "O Tigre da Abolição", pelos seus discursos e
artigos publicados no jornal Gazeta de Notícias, no período que
antecedeu a assinatura da lei Áurea, em 1888.
A agressão contra homens e mulheres roubados das suas terras e
tribos, a quem não restou outra sina que não fosse a adaptação e o
sofrimento, como compensação ou lição, impregnou nosso povo com sua
alma sedutora.
Por toda a América, sua influência é um fato, sendo que no Brasil, a
conquista da sua liberdade não invalida as seqüelas sociais advindas
da segregação.
Mesmo assim, os negros africanos transformaram a sua diáspora em
verdadeira alquimia cultural.
Legaram, além da vivacidade de olhos de jabuticaba e sorrisos de
nuvem branca, os tons de pele mais luminosos, resultantes dos amores
que conquistaram nos corações e nas camas.
Ainda, como trovadores da idade moderna, injetaram a ginga à música
nacional, o sabor à cozinha, o colorido à vestimenta.
A identidade que ora se discute em Salvador, passa certamente, pela
complexidade de seus ritmos além da religiosidade envolvente dos seus
rituais inconfundíveis e abençoantes.
Há um crescente movimento direcionado para a África atual, a buscar
soluções e compadecimentos que despertem o resto do mundo para o seu
desenvolvimento, onde se lute contra a injustiça, a exploração, a
doença epidêmica, a orfandade de uma infância herdeira de tantas
guerras civis.
Nesse caldeirão fervente, engajam-se atores, atrizes, cantores,
líderes de banda, intelectuais, unindo-se em prol da valorização de
uma população a quem os colonizadores devem tanto.
A África, ainda muito explorada, é o lugar do mundo onde as novas
gerações nascem predestinadas à injustiça.
Mudar esse quadro é o grande desafio.
Questão de química social e econômica, responsabilidade compartilhada
entre países ricos e pobres, como resgate histórico do continente afr
icano.
Quanto à negritude brasileira, nossa melhor bandeira é da aceitação
da mistura sangüínea, da miscigenação cultural e religiosa,
eliminando os radicalismos porque há um coração africano pulsando em
cada peito brasileiro, assim como se inflama um vodu tribal em cada
oração popular na América Central. Na canção gospel ou blue
norteamericano, ouve-se o lamento do escravo fugitivo.
Verdadeiros alquimistas da nova era, os negros africanos forjam nos
sonhos da liberdade e da justiça, o direito à riqueza de um futuro
digno. Esse mesmo futuro que merecem todos os povos afro-descendentes
espalhados pela terra, a começar no Brasil, pela Bahia
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Um comentário:
É isso ai,devemos muito a esse povo,que com sua graça,gingado e sabedoria,ajuda a
fazer nossa cidade mais feliz
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